Um foguetão chinês caiu (mais uma vez) de forma não controlada na Terra. Depois de deixar várias agências de segurança aeroespacial em alerta, os destroços do rocket acabaram por cair no sul do oceano Pacífico — após sobrevoarem a Austrália.

Em Espanha foi emitido um alerta ao tráfego aéreo, durante cerca de uma hora porque o país estava na rota de colisão do foguetão. Também Portugal e Itália faziam parte do trajeto previsto. Daí que a Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA) tenha recomendado a criação de uma franja de exclusão do espaço aéreo de 100 quilómetros para cada lado do trajeto estimado — obrigando ao atraso de vários voos.

A EASA já retirou o alerta e o tráfego aéreo foi retomado gradualmente, mas podem ainda verificar-se perturbações ao longo do dia devido aos atrasos causados pelo encerramento do espaço aéreo.

O risco sobre Espanha foi real e o alerta justificado, diz Alberto Águeda, coordenador de programas de vigilância espacial da empresa GMV, ao jornal El Mundo. “Uma vez que entre na atmosfera, a descida é muito vertical”, refere. Em risco estavam as regiões de Castilha-Leão, Aragão e Catalunha.

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Mas Alberto Águeda também admite que a previsão é muito difícil quando um objeto está em queda livre, sem controlo, em direção à Terra e com uma velocidade de oito quilómetros por segundo — o suficiente para atravessar a atmosfera terrestre até à superfície do planeta em menos de 20 segundos.

Dizer que entrou na atmosfera ou que caiu no oceano é praticamente a mesma coisa”, diz Alberto Águeda, referindo-se ao momento da queda.

Pelas rotas estimadas, a Ásia e a América do Sul estavam completamente fora de perigo de serem atingidos com os destroços do foguetão e o risco nos Estados Unidos, Europa e Rússia também era reduzido, escreveu o jornal The New York Times. A previsão apontava para o sul do oceano Pacífico, como se veio a verificar.

Os centros de operação para a vigilância espacial da União Europeia — EU Space Surveillance and Tracking (EU SST) — monitorizaram a trajetória do objeto de cerca de 30 metros e entre 17 a 20 toneladas desde segunda-feira. A última estimativa apontava para uma reentrada na atmosfera por volta das 10 horas (hora de Lisboa), tal como se veio a verificar.

Mas assim como caiu no Pacífico por volta das 10 horas (hora de Lisboa), poderia cair em Espanha quando passasse a segunda vez sobre o país cerca de meia hora depois, alerta Alberto Águeda.

Dúvidas houvesse, vigilância justifica-se também porque, em 2020, um foguetão deste tipo lançou destroços de grande dimensão em duas aldeias da Costa do Marfim e o de julho deste ano sobre a Indonésia e a Malásia. Em 2021, a Península Ibérica também esteve na rota de colisão do foguetão chinês.

O poderoso rocket Long March 5B foi lançado na segunda-feira, com o objetivo de colocar o terceiro e último módulo da estação espacial chinesa em órbita. Tal como aconteceu com os módulos anteriores, a reentrada do rocket na atmosfera terrestre foi feita de forma não controlada.

Foguetão chinês vai cair. Mas (mais uma vez) não se sabe quando, nem onde

Os objetos chineses não são os únicos detritos de equipamentos construídos pelo homem a caírem na Terra, mas a reentrada controlada dos foguetões, para minimizar o risco de cair numa zona povoada, é uma medida defendida por outras agências, como a NASA (agência espacial norte-americana).

O que eu quero salientar sobre isto é que nós, o mundo, não lançamos deliberadamente coisas tão grandes com a intenção de cair onde quer que seja”, disse Ted Muelhaupt, consultor da Aerospace Corporation, um grupo sem fins lucrativos financiado pelo governo norte-americano. “Há 50 anos que não fazemos isto.”

A China desvaloriza o alarme e diz que sempre respeitou a lei internacional. “[O rocket] foi concebido com uma tecnologia especial: a maioria dos componentes vai arder e ficar destruída durante o processo de reentrada, e a probabilidade de causar danos às atividades da aviação e no solo é extremamente baixa“, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian.

Sobre o local exato onde caiu ainda não há informação — e pode não chegar a haver. O Comando Espacial do Departamento de Defesa dos Estados Unidos confirmaram a reentrada na zona do Pacífico sul, mas não têm como saber exatamente onde e deixam essas explicações para a China.

Atualizado às 13h00