O democrata Josh Shapiro foi eleito governador pelo estado da Pensilvânia, um dos mais decisivos para o resultado das eleições intercalares dos Estados Unidos da América. Shapiro, o primeiro governador judeu desde a eleição de Milton Shapp nos anos 70, segundo o The Times of Israel, irá substituir o também democrata Tom Wolf, que serviu dois mandatos, o máximo permitido por lei. Com a vitória de Shapiro, o Partido Democrata segurou um lugar fundamental para o equilíbrio de forças com os republicanos nestas ‘midterms’. Mas a grande surpresa nesse braço de ferro, neste estado, foi a disputa pelo lugar no Senado — e o facto deFetterman aparecer como o rosto da vitória sobre uma estrela da televisão norte-americana, o milionário Dr. Oz, pessoalmente ‘apadrinhado’ por Donald Trump.

John Fetterman vence a corrida para o Senado: “Virámos a Pensilvânia para o azul”

Com 92% dos votos apurados (ao início da manhã desta quarta-feira em Lisboa, plena madrugada nos Estados Unidos), o democrata John Fetterman já estava eleito para o Senado norte-americano, com 50,1% das votações.

Em segundo lugar, com 47,5% dos votos, ficou o principal opositor de Fetterman, Mehmet Oz, médico e celebridade televisiva, que ganhou fama por dar conselhos de saúde no programa de Oprah Winfrey, protagonizando depois o seu próprio programa de televisão. Oz foi apoiado por Trump e era uma das esperanças do ex-Presidente na expectativa de uma ‘viragem’ à direita na câmara alta do Congresso (que dá sinais de poder não se concretizar de todo).

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Fetterman, atual vice-governador da Pensilvânia, fez campanha enquanto recuperava de um AVC, que o obrigou a esforços acrescidos para fazer passar a sua mensagem de campanha. Reagindo às projeções, o candidato democrata admitiu que nunca pensou que fosse capaz de virar “essas localidades para o azul [a cor do Partido Republicano], mas foi isso que fizemos”, disse ao início da madrugada, quando os resultados provisórios já davam garantias de uma vitória.

Num discurso curto, o democrata manifestou “orgulho” na campanha que protagonizou, enumerando as suas principais bandeiras: a proteção do direito ao aborto, a defesa por um ordenado mínimo e cuidados de saúde, a luta contra a “ganância das empresas” e pela democracia.

Shapiro segurou a casa para os Democratas

Shapiro venceu com uma vantagem de 12,4% o principal opositor, o republicano Doug Mastriano. Mastriano, um coronel reformado e senador, foi uma figura central na campanha de Donald Trump contra os resultados das eleições de 2020, defendendo que não foram legais (uma alegação refutada por múltiplas decisões judiciais mas que nem por isso foi abandonada pelo argumentário republicano).

Defensor de teorias da conspiração, o candidato teve dificuldade em reunir fundos e votos devido às posições extremistas e ultraconservadoras em relação a importantes questões sociais, como o aborto e as questões de género. Enquanto senador da Pensilvânia, Mastriano afirmou que as mulheres que violassem a proibição do aborto deviam ser condenadas à pena de morte e que o casamento entre pessoas do mesmo género devia ser proibido.

Um médico, um vice-governador e três Presidentes vão à Pensilvânia, estado decisivo para Trump e Biden

Reagindo aos resultados, Shapiro declarou que os eleitores da Pensilvânia lhe concederam a “honra de uma vida” e a hipótese de os servir como próximo governador. O candidato democrata afirmou ainda que o resultado desta quarta-feira representa a vitória da “verdadeira liberdade” e que a “democracia prevaleceu” numa corrida em parte dominada pela luta para preservar o direito ao voto e ao aborto, citou a PBS.

A vitória do candidato democrata representa um duro golpe para os republicanos e, em especial, para Trump, que compareceu este sábado num comício de Mastriano, no mesmo dia em que Joe Biden e Barack Obama se juntaram a Shapiro e ao candidato ao Senado, John Fetterman, para mostrarem publicamente o seu apoio.

Dirigindo-se aos eleitores da Pensilvânia, Obama disse que estes tinham a hipótese de escolher “entre políticos que parecem capazes de dizer e de fazer o que for preciso para chegar ao poder e pessoas que vos veem, que se preocupam convosco e que partilham os vossos valores”.

O ex-Presidente norte-americano destacou ainda a importância das eleições intercalares, estabelecendo o paralelo entre a sua primeira eleição, “no meio de uma crise financeira”, e a situação atual: “As pessoas estavam frustradas — tal como estão agora.”

As eleições intercalares norte-americanas, que decorreram na terça-feira, determinarão qual o partido que controlará o Congresso nos dois últimos anos do mandato do Presidente Joe Biden, estando também em jogo 36 governos estaduais e vários referendos estaduais a medidas sobre questões-chave, incluindo aborto, inflação e drogas leves.

Em disputa estavam todos os 435 lugares na Câmara dos Representantes, onde os democratas atualmente têm uma estreita maioria de cinco assentos, e ainda 35 lugares no Senado, onde os democratas têm uma maioria apenas graças ao voto de desempate da vice-presidente Kamala Harris.

As eleições podem não apenas mudar a cara do Congresso norte-americano, mas também levar ao poder governadores e autoridades locais totalmente comprometidos com as ideias de Trump. Uma derrota muito pesada nestas próximas eleições pode complicar ainda mais o cenário de um segundo mandato presidencial para Biden.

Atualizado às 9h05