No passado domingo, quando quebrou o silêncio que até então tinha mantido relativamente às polémicas que o envolvem e aos processos em que é arguido, Miguel Alves explicou, em entrevista ao Jornal de Notícias e à TSF, que se em março de 2021 aprovou o adiantamento de 300 mil euros ao empresário Ricardo Moutinho, da empresa Green Endogenous, para a construção do novo centro de exposições transfronteiriço (CET) em Caminha, foi porque lhe foram mostrados “documentos que evidenciavam trabalho noutros concelhos”.

Miguel Alves quebra o silêncio após polémicas: “Não sou um bandido nem um tolo”

Questionado sobre o “trabalho” em questão, o agora secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro respondeu com os projetos que a empresa teria em curso com as autarquias da Guarda e de Alfandega da Fé. Quando confrontado pelos jornalistas sobre o exemplo do centro cultural da Guarda, que na verdade nunca chegou a avançar, Miguel Alves manteve, ainda assim, que o facto não tinha maculado em nada a confiança que, diz, continua a ter no empresário.

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“A confiança e a boa-fé reforçaram-se pela atitude e comportamento do promotor. Havia trabalho com aqueles municípios e, ao longo do tempo, também lhe fui pedindo algumas evidências sobre a sua robustez económica, sobre outro tipo de negócios que tinha, porque a holding tem vários negócios ligados à restauração, à hotelaria, à pastorícia. Eu fui tendo esse conhecimento, fui reforçando a confiança nos advogados, nos técnicos e engenheiros, no projeto que se estava a preparar”, garantiu.

O problema, revela esta quarta-feira o Público, é que para além de o projeto da Guarda nunca ter saído do papel — foi, aliás, abandonado em junho de 2020, três meses antes de o contrato para o CET de Caminha ser firmado, detalha o jornal —; naquela altura o de Alfândega da Fé ainda nem sequer tinha sido proposto à autarquia. Aliás, só viria a sê-lo cerca de um ano depois, escreve o jornal, que no final de outubro avançou a notícia de que Miguel Alves, enquanto presidente da Câmara da autarquia minhota, teria feito à Green Endogenous SA um “adiantamento duvidoso” num contrato-promessa de arrendamento, “sem quaisquer garantias específicas”.

Miguel Alves. Secretário de Estado adjunto de António Costa afinal é arguido não em um, mas em dois processos

Fomos contactados pela própria empresa, no final do ano passado, por um colaborador, o dr. Carreira Martins, para nos apresentarem as propostas da Greenfield [Greenfield Capital, uma outra sociedade ligada a Ricardo Moutinho]. As informações que me foram chegando é que [Ricardo Moutinho] seria uma pessoa ligada a fundos imobiliários e teria trabalhado num banco americano”, contou ao Público Eduardo Tavares, autarca de Alfândega da Fé.

O projeto em questão, garantiu ainda o presidente da câmara, neste momento “está parado” — “Porque continuam a persistir muitas dúvidas e incertezas”. A última reunião que a autarquia teve com a Greenfield Capital, acrescentou, foi em agosto de 2022.