Nove pessoas recuperaram a mobilidade das pernas após serem sujeitas a um processo de terapia elétrica conhecido por eletroestimulação epidural. Tal foi possível graças à identificação de “neurónios locomotores”, localizados no sistema nervoso central, e que permitiu a pacientes com lesões crónicas da medula espinhal voltar a andar.

As conclusões deste estudo, publicado na revista britânica de investigação científica Nature, abrem a porta a que muitos pacientes, que até aqui sofriam de paralisia dos membros inferiores, possam recuperar a sua mobilidade.

O objetivo da investigação, liderada pelo neurocientista Grégoire Courtine, passava por perceber de que forma a estimulação elétrica podia impactar conjuntos específicos de neurónios da medula espinhal. Para tal, nove pessoas, portadores de lesões e com paralisia severa ou completa dos membros inferiores, inscreveram-se num ensaio clínico em que foram sujeitas a tratamento de estimulação elétrica epidural.

Ao fim de cinco meses de tratamento, todos os voluntários recuperaram ou melhoraram a sua capacidade de locomoção, e mostraram melhorias claras na sua mobilidade. “Este estudo é de uma elevada qualidade científica. Demonstra os efeitos positivos que a terapia de eletroestimulação epidural tem nos pacientes com lesões medulares. Também recorre ao uso de modelos animais para revelar o mecanismo celular e fisiológico através do qual se consegue o efeito esperado”, explicou Juan de los Reyes Aguilar, investigador do  Hospital Nacional de Paraplégicos de Toledo, Espanha, em declarações recolhidas pelo Science Media Center e citadas pelo El Mundo.

Reyes Aguilar salientou ainda os resultados obtidos em pacientes com lesões parciais, mas que mantêm intactas algumas das ligações entre a medula espinhal e o encéfalo. Nestes pacientes, a terapia revelou-se eficaz na recuperação da locomoção, sem que fosse necessária a aplicação de estimulação epidural no momento da marcha. “Estes resultados devem ser considerados um êxito total”, declarou.

A estimulação elétrica epidural consiste na aplicação de uma corrente elétrica contínua na parte inferior da medula espinhal através de um dispositivo implantado na área epidural. Este dispositivo fornece então uma corrente elétrica de baixa frequência para a medula espinhal, que imita as correntes emitidas pelo cérebro para controlar voluntariamente os movimentos do corpo.

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