Foi descoberto em Israel um pente de marfim que contém a primeira oração completa escrita em língua cananeia, o primeiro alfabeto do mundo, inventado em 1.850 a.C. pelos semitas da região egípcia de Sinai e adotado também pelos habitantes da região de Canaã, onde agora fica Israel. O pente tem 3,5 por 2,5 centímetros e é também o primeiro objeto com palavras deste alfabeto descoberto neste país.

A frase foi cravada na peça de marfim em 1.700 a.C. e é uma oração com 17 letras (há 30 no total) que roga pela eliminação dos piolhos: “Que estas presas possam arrancar os piolhos do cabelo e da barba”. O objeto já tinha sido encontrado em 2016 por arqueólogos da Universidade Hebraica de Jerusalém em Tel Lachish, mas a inscrição passou despercebida por ser tão superficial. Veja aqui em baixo a imagem completa do pente.

Esta imagem mostra a inscrição encontrada num pente de marfim desenterrado em 2016 em Israel. Diz: “Que estas presas possam arrancar os piolhos do cabelo e da barba”, com as letras do primeiro alfabeto do mundo — as da língua cananeia.

Um dos lados do pente tinha seis dentes grossos que serviam para desembaraçar o cabelo ou a barba. Do outro lado havia 14 dentes mais finos, esses sim utilizados para retirar os piolhos e os ovos. Aliás, foram encontrados restícios de piolho com 0,5 a 0,6 milímetros num dos dentes do pente.

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Um restício com 0,5 a 0,6 milímetros de um piolho encontrado nos dentes do pente.

Mas só quando o pente foi limpo pelos arqueólogos, no fim do ano passado, é que a frase conquistou a atenção dos investigadores. Um especialista em epigrafia, Daniel Vainstub, debruçou-se sobre as inscrições e descobriu finalmente o significado da frase. Os resultados da investigação foram publicadas na revista científica Jerusalem Journal of Archaeology já este ano.

De acordo com o relatório, a inscrição “é uma prova direta do uso do alfabeto no quotidiano há cerca de 3.700 anos” e representa “um marco na história da capacidade humana de escrever”. As letras são arcaicas, menos modernas do que outras inscrições de palavras na língua cananeia descobertas anteriormente, o que aponta que a oração pertence aos primórdios da criação do alfabeto, durante a Idade do Bronze.