Rui Tavares, deputado único do Livre, revelou que “a votação do Livre [no Orçamento do Estado] foi clara, embora não tenha sido tão pública: abstenção na generalidade e se nada mudar [vai] contra na votação na especialidade”. O fundador do Livre considera ainda que se o Governo mudasse a “estratégia orçamental”, e a tornasse focada numa política social, seria possível um voto a favor.
“Alguma prudência orçamental não é errada”, sublinhou o deputado único, enquanto notou que é preciso “distinguir entre um orçamento numa época inflacionária e orçamentos em época de crescimento na Europa”, e comparando este documento aos que foram aprovados por Bloco de Esquerda e PCP e deixando claro que esta estratégia do Governo tem “alguns riscos”.
Sobre o passe ferroviário que o Livre decide, Rui Tavares realçou que é preciso ajudar no que “mais custa às pessoas e a ajudar a abandonar o automóvel”. Depois de Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, deixar claro que não é possível levar a cabo esta proposta pela falta de meios, Rui Tavares notou que “é realista de uma forma faseada”, insistindo que é necessário olhar para o passe nacional como se olha para o interrail.
Num olhar para o passado e tendo em conta a abstenção no Orçamento do Estado 2022, Rui Tavares foi perentório: “Se virmos que o que conseguimos em 2022 não foi cumprido isso influencia o voto final [neste documento].”
Relativamente à proposta do Livre sobre a violência doméstica, que foi aprovada, em que as vítimas passam a poder pedir o subsídio de desemprego após passar por uma dessas situações, o deputado alertou que deve estar “em vigor o mais depressa possível”. “Seria falhar às vítimas de violência doméstica. Não me passa pela cabeça que se possa falhar num compromisso deste ano.”
No programa 3 C (casa, conforto e clima), Rui Tavares considera que se deve ir “por partes” para resolver um flagelo em Portugal, em que se morre de frio. “Continuo insatisfeito porque o problema não se vai resolver de um dia para o outro”, frisou, mas enalteceu que o Governo está a cumprir com o que se comprometeu” e está a “implementar” a medida.
Já sobre o ensino superior, Rui Tavares considera que é fundamental construir um novo modelo de financiamento para este nível de ensino e afirmou que há três “pilares” importantes para que se alcance o objetivo de “abolir as propinas”: é preciso que “as universidades tenham fundo estratégico de investimento”, que o “Estado [possa] assegurar despesas de funcionamento das faculdades” e que quem já fez o ensino superior e tem rendimentos acima da média possa dar uma parte do seu imposto ou o voluntário como se faz com IPSS e ONG ou através do IRS. Questionado sobre se os ricos não pagam, Rui Tavares ataca os liberais: “Livre não é a Iniciativa Liberal que defende flat tax”, frisando que as pessoas com altos rendimentos também pagariam, mas não desta forma, caso não tivessem estudado no ensino superior.
O deputado do Livre, questionado sobre a questão das pensões e da Segurança Social, disse que “o primeiro-ministro tem de cumprir a lei”. “Cabe ao Governo ser franco e, feita a análise, dizer se não dá para cumprir, dá para cumprir ou dá para cumprir parcialmente.” A proposta do Livre “ajudaria a resolver o problema”, segundo o fundador do Livre, que “estranha que o Governo, sem o estudo [que refere], diga que manter a lei não dá”.
“O PS tem de pensar muito bem na maneira como gere a sua maioria absoluta”, sublinhou o fundador do Livre, deixando indicações de que “há sinais contraditórios”. Numa comparação das negociações dos últimos dois anos, Rui Tavares explica que “em termos de metodologia o ano passado disse que foram adequadas”, mas este ano notou melhorias: “Não diria só que foram reuniões adequadas, foram reuniões boas.”
Porém, também considera que “o PS chumba demasiadas coisas de valor”, nomeando não só o Livre, mas também o Bloco de Esquerda, o PAN e a Iniciativa Liberal”.
Rui Tavares acredita que as questões que vieram a público sobre o Miguel Alves há “muitas dúvidas” no caso e “tem de ser esclarecido”. “Oferecendo muitas dúvidas também oferece dúvidas na capacidade de Miguel Alves continuar como secretário-geral adjunto”. “Se o caso continuar não esclarecido parece bastante sério.”