A Sonae, dona dos hipermercados Continente, rejeita que esteja a beneficiar dos chamados “lucros extraordinários” devido ao contexto inflacionista. A empresa, que apresentou esta quarta-feira uma subida dos lucros de 33% até setembro para 210 milhões de euros, considera que esta ideia deve ser “desmistificada”.

Durante a habitual conferência para analistas que se segue às apresentações de resultados, o administrador financeiro da Sonae, João Dolores, foi confrontado com a taxa sobre os lucros excessivos que o Governo planeia criar e aplicar à distribuição. “Ainda não sabemos como é que esta taxa será implementada nem qual o impacto que terá para a Sonae”, começou por dizer. Para depois rejeitar que o “conceito” se aplique à empresa ou ao setor.

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“Não reconhecemos o conceito de lucros anormais ou excessivos. Não vemos lucros extraordinários em nenhum dos nossos negócios como possível resultado de estarmos a tirar vantagem do contexto inflacionista. Pelo contrário”, afirmou.

“Estamos a sentir uma pressão tremenda na nossa base de custos e uma deterioração das margens, acho que devemos desmistificar esta ideia”, de lucros excessivos, considera João Dolores.

“Continuamos a trabalhar num mercado extremamente competitivo, todos os concorrentes lutam por quota de mercado e tentam oferecer a melhor relação custo-benefício aos consumidores. Este contexto inflacionista, juntamente com os elevados preços da energia, cria uma enorme pressão na rentabilidade”, acrescentou.

Para o responsável, “a imagem que algumas pessoas estão a tentar criar” em relação a estes windfall taxes “não é verdadeira”. O gestor vincou ainda que “o setor do retalho alimentar foi essencial no período pandémico, com desafios operacionais muito grandes e custos adicionais”, e enfrenta agora um novo período “muito desafiante”, estando “a tentar minimizar o impacto da inflação junto dos consumidores”, pelo que “falar em lucros excessivos não faz sentido para nós”, concluiu João Dolores.

Já no início da conferência, Rui Almeida, administrador financeiro da Sonae MC, que controla o Continente, tinha afirmado que “a inflação está mais elevada do lado da produção do que do lado do consumidor”, e que a empresa está “a reagir ao que está a acontecer no mercado” e tem estado a “absorver parte da inflação” sentida do lado dos produtores.

O mesmo responsável afirmou que já se sentem alterações de consumo, na sequência do aumento dos preços, nomeadamente uma subida na vendas de “peixes mais baratos”, na quebra das vendas de frutas tropicais e numa preferência pela carne de porco ao invés da carne de vaca.

Tal como a Sonae, também a Jerónimo Martins, que detém o Pingo Doce, já tinha afirmado, igualmente numa conferência para analistas, não verificar “um aumento dos lucros que nos permita dizer que estamos a ter lucros extraordinários ou excecionais”.

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A taxa sobre os lucros excessivos das empresas de distribuição foi anunciada pelo primeiro-ministro no debate do Orçamento do Estado. O setor, pela voz da associação que o representa, veio prontamente rejeitar a aplicação da taxas, defendendo que as empresas têm margens “muito pequenas”.

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