O mercado de equipamentos tecnológicos em Portugal registou quedas expressivas de vendas no terceiro trimestre de 2022. De acordo com os dados da consultora IDC relativos ao mercado português, os consumidores estão mais contidos nestas compras, tanto nos smartphones como nos computadores.

Francisco Jerónimo, vice-presidente da IDC Europe para a área de dados e analítica, revela que foram gastos 194 milhões de euros no trimestre, um valor que representa uma queda de 10% em termos homólogos. O preço médio de venda destes equipamentos rondou os 374 euros, um aumento de 21%, em parte “devido à questão do câmbio”.

No total, foram vendidos em Portugal 520,4 mil smartphones, o que revela uma queda homóloga de cerca de 26%. Em comparação com o trimestre anterior, quando as vendas totais atingiram 630.490 unidades, foram vendidos entre julho e setembro menos 110 mil smartphones.

Na lista dos cinco maiores vendedores são notórias as quedas nas unidades vendidas na comparação homóloga. Neste cenário, só a Apple é que conseguiu um aumento, ainda que muito ligeiro (0,4%).

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A Samsung manteve-se como a marca mais vendida em Portugal, com um total no trimestre de 252,5 mil unidades vendidas. Face ao mesmo período do ano passado, a empresa registou a queda mais ligeira entre os principais vendedores (-12,7%). A marca sul-coreana ficou com uma quota de mercado de 48,5%.

A fabricante dos equipamentos Galaxy é a única que, nas vendas entre julho e setembro, conseguiu ultrapassar de forma expressiva a fasquia das 200 mil unidades. Todas as restantes marcas ficam abaixo do patamar dos 90 mil: a segunda marca mais vendida, a Apple, ficou-se pelos 88 mil smartphones, com uma quota de mercado de quase 17%. Só as duas marcas mais vendidas, Samsung e a Apple, representam 65,4% do total do mercado português.

O restante top 5 é composto por marcas com origem na China: a Xiaomi, Oppo e a TCL. Curiosamente, são também as marcas que têm menos anos de operação no mercado português. A Xiaomi ocupa o terceiro lugar, com 68 mil unidades vendidas. A fabricante chinesa tem, em teoria, o tombo mais significativo na comparação homóloga, com um recuo de quase 60%. A Xiaomi tem uma quota de mercado de 13,1% em Portugal.

Ainda assim, Francisco Jerónimo salienta que a “queda de 60% da Xiaomi não é real, tratando-se de uma questão técnica nos números”. Há cerca de “80 mil unidades da Xiaomi que deviam ter chegado no terceiro trimestre, mas que só vão ser incluídas no quarto”, explica. “A realidade é que caiu muito pouco” excluída esta questão das unidades em trânsito. Ainda assim, realça, o mercado português continuaria a registar uma tendência negativa, “uma queda de 15%”.

No caso da Oppo, a comparação homóloga revela uma queda de 53,5% nas unidades vendidas no terceiro trimestre, para 35,2 mil unidades. A marca tem uma quota de mercado de 6,8%, mas tem a TCL nos calcanhares, com 6,4% do mercado. No terceiro trimestre, a empresa vendeu menos 28% em relação ao mesmo período de 2021, com um total de 33,2 mil unidades.

As restantes marcas presentes no mercado português, como a Huawei, registaram um aumento das vendas de quase 24%, para 43,5 mil unidades vendidas.

Francisco Jerónimo refere que ainda “é um pouco cedo” para este recuo das vendas ser encarado como um efeito da inflação, justificando estes números com o facto de as pessoas não trocarem de equipamento com tanta frequência. “As pessoas não continuam a trocar eternamente de telefone”, sublinha, revelando que os números “não são propriamente surpresa, porque a grande maioria dos clientes já tinham trocado de telefone nos últimos dois anos”.

“O problema da inflação”, diz Jerónimo, “é mais um efeito psicológico”. “Os combustíveis, as rendas, a alimentação… é notório que o preço de tudo está a subir”, contextualiza. “Mas os preços [dos smartphones] não subiram de forma a que as pessoas achem que seja proibitivo.” A decisão de compra pode ser adiada num cenário em que os equipamentos tecnológicos não são vistos como “tão prioritários”. E antecipa que, mesmo que “não houvesse a questão inflacionária, o mercado de smartphones em Portugal ia cair de qualquer forma”, uma vez que já se estava a sentir algum abrandamento nos trimestres anteriores.

Mercado de PC afunda 42% no terceiro trimestre

Os dados da IDC também incluem uma análise ao mercado de computadores, onde estão englobadas as vendas de portáteis, PC e workstations. A tendência de queda é ainda mais expressiva nas vendas de PC do que nos smartphones, com um tombo homólogo de 42,2%. No terceiro trimestre deste ano, foram vendidos 155,7 mil computadores.

As vendas totais traduzem-se num resultado de 126 milhões de euros, um recuo de 28% face aos mesmos período do ano passado. O preço médio dos PC subiu 25% para 809 euros, “em parte devido à questão do câmbio”.

Apesar da queda geral das vendas, três das cinco marcas mais vendidas conseguiram registar aumentos das vendas em termos homólogos. A Lenovo foi a marca mais vendida em Portugal no terceiro trimestre, com 34,3 mil unidades e uma quota de mercado de 22%. Face ao mesmo período do ano passado, foram vendidas menos 27,9% de unidades.

A Asus surge no segundo lugar, com 30,4 mil unidades vendidas e uma quota de mercado de 19,5%. A empresa registou um aumento homólogo das vendas de 13,8%. O terceiro lugar é ocupado pela HP, com 26,4 mil unidades e uma quota de mercado de 17%. A HP é a fabricante com a queda homóloga mais expressiva, muito próxima dos 50%.

Já a Dell e a Apple, o quarto e quinto lugar da lista, respetivamente, registaram aumentos homólogos das vendas. As vendas da Dell subiram 34% para 15,5 mil unidades, arrecadando uma quota de mercado de 10%. No caso da Apple, o aumento homólogo foi de 28%, para 13,8 mil unidades. A fabricante dos Macbook tem uma quota de 8,9% em Portugal.

As restantes fabricantes, onde estão marcas como a Acer ou a Dynabook, por exemplo, totalizaram 35,3 mil unidades vendidas, o que garante 22,7% do mercado. As vendas da categoria “outras” tombaram quase 71% em termos homólogos.

Francisco Jerónimo antecipa que o mercado de PC “vá continuar a cair”. No último trimestre de 2021 esta categoria de produto registou um crescimento de 104%, muito devido às “empresas que precisavam de continuar a renovar computadores, o negócio a educação”. “Quando o negócio da educação pára e quando empresas não renovam computadores, com períodos de renovação a cada quatro anos, era de esperar que o mercado viesse a cair.”