O chanceler alemão Olaf Scholz, após um encontro com o líder chinês Xi Jinping, aconselhou uma delegação de homens de negócios a “diversificar, não se vá dar o caso de as relações com a China darem para o torto”. Esta posição do responsável pelo Governo germânico está em linha com os analistas que prevêem um azedar das relações do mundo ocidental com os chineses, não só pelo seu apoio à Rússia, mas também pelo crescente contencioso com Taiwan.

O “aviso à navegação” do chanceler alemão originou uma reacção do CEO da Mercedes, Ola Kallenius, que veio a campo defender que seria “absolutamente inconcebível virarmos as costas a este país”. É certo que a China é o maior mercado mundial para automóveis, especialmente eléctricos, nos dias que correm, mas poderá não ser apenas esta a motivação do CEO da marca alemã.

A Mercedes tem a maioria do seu capital disperso, mas os maiores accionistas são chineses. O maior, com 9,98% dos mais de mil milhões de acções da marca, é o Baic Group, propriedade do Estado chinês, com o chinês Li Shufu, dono da Geely e de 50% da Smart, entre muitas outras marcas, a ser proprietário de 9,7% dos títulos. Quer isto dizer que os chineses controlam quase 20% da empresa, pelo que todo o cuidado é pouco.

Mas Ola Kallenius tem um outro problema ou, antes, uma limitação. É que durante o 3.º trimestre de 2022, a marca alemã comercializou 520.100 veículos, tendo vendido na China 206.800 unidades, ou seja, cerca de 40%. E ninguém gosta de colocar em perigo uma percentagem tão elevada do seu volume de vendas.

Kallenius afirmou ao Automotive News que o afastamento da China “seria um passo na direcção errada”. Além do peso deste país nas vendas da Mercedes, a realidade é que os chineses são cada vez mais o maior mercado da Mercedes. Basta ver que no 3.º trimestre, em que a China adquiriu 206.800 carros novos da Mercedes, a Europa não ultrapassou 152.700 unidades, enquanto os EUA se ficaram pelas 83.200.

Além disso, a Mercedes está preocupada com os investimentos realizados na China, onde possui uma fábrica a meias com a Baic, uma joint-venture a 50%, uma vez que apenas a Tesla possui 100% das suas instalações na China.

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