A lista de preocupações com o Mundial do Qatar acaba de ser alargada aos telemóveis do adeptos. Com a necessidade de instalar obrigatoriamente algumas aplicações, aumentam as preocupações dos especialistas em segurança. Da França à Noruega, passando pela Alemanha, os especialistas em segurança são unânimes em reconhecer que as autoridades do Qatar terão um acesso demasiado alargado aos telemóveis, podendo comprometer o funcionamento dos aparelhos, que viola alguns direitos fundamentais e a proteção dos dados dos utilizadores. “É como dar ao Qatar a chave de casa”, alertam os noruegueses. Em Franca pede-se que as apps sejam instaladas “apenas antes de partir” para o Qatar e desinstaladas “logo à chegada, no regresso”.

Uma das apalicações, a Ehteraz, da responsabilidade da saúde pública do Qatar, servirá para rastrear a Covid-19, à semelhança do que acontecia com a portuguesa Stayaway Covid. É obrigatória para qualquer pessoa com mais de 18 anos que vá ao Qatar para assistir aos jogos do Mundial. Segundo os especialistas, a aplicação terá acesso à localização exata e terá capacidade para, por exemplo, fazer chamadas através do telefone e desbloquear o ecrã.

Já a Hayya, a aplicação oficial do Campeonato do Mundo de Futebol, que permite ter toda a informação sobre jogos, resultados, ter os bilhetes de acesso aos estádios e, ainda, utilizar de forma gratuita o metro no Qatar. Permite uma maior intrusão nos telemóveis, quando os utilizadores “concordam com os termos e condições”.

No caso da Hayya, ao concordar com os termos e condições e instalar a aplicação, o utilizador permite o acesso a praticamente toda a informação pessoal, sem restrições, segundo a análise dos especialistas de segurança do canal de televisão norueguês NRK. Além disso, a aplicação terá também acesso à localização exata do telemóvel, pode impedi-lo de entrar no modo de dormir/suspensão, ou equivalente, e permite ver as ligações de rede estabelecidas pelos telemóveis.

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Os especialistas de segurança noruegueses resumem: “Podem simplesmente mudar o conteúdo de todo o telemóvel e ter controlo sob a informação que lá está.”

O regulador norueguês afirmou, na segunda-feira, estar “alarmado” com o grau de acesso que as aplicações exigem. “Existe a possibilidade real que os visitantes do Qatar sejam monitorizados pelas autoridades do país”.

Já os alemães, que analisaram as especificidades das aplicações, concluíram que uma delas “regista dados sobre que chamadas são feitas através do telemóvel, guardando o número do destinatário”. Além disso, acrescentam que depois da análise resultou “óbvio que os dados usados pelas aplicações não são apenas guardados nos telemóveis, mas são também transmitidos para um servidor central.”

“Se for absolutamente necessário fazer download das aplicações, faça-o para um telemóvel vazio”, alertam os especialistas alemães.

As autoridades francesas pediram aos adeptos que tenham “cuidados especial” com “fotografias e vídeos” e pedem a quem vai usar as aplicações que as instale pouco tempo antes de partir para o Qatar e as elimine, dos telemóveis, logo que regresse ao país.

O próprio ministro Jean-Noël Barrot fez eco das preocupações de segurança. Numa publicação no Twitter, o responsável pela pasta da Transição Digital e das Telecomunicações, alertou para a falta de “garantia dos direitos fundamentais” das pessoas e dos “seus dados” e partilhou um documento com recomendações da Comissão Nacional de Informática e Liberdade (CNIL) sobre “proteção de telemóveis, computadores ou tablets”.