O presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia afirmou esta quinta-feira estranhar o contexto em que foi divulgada a reportagem sobre frases discriminatórias atribuídas às forças de seguranças, mas diz que vai aguardar pelo resultado dos inquéritos entretanto abertos.

Aberto inquérito para apurar prática de alegados crimes de ódio por forças de segurança nas redes sociais

Paulo Santos falava esta manhã à Lusa a propósito de uma reportagem da responsabilidade de um consórcio de jornalistas divulgada na quarta-feira na qual foram mostrados conteúdos e frases de conteúdo discriminatório, xenófobo e racista publicadas em redes sociais fechadas, atribuídos a elementos da PSP e da GNR, um caso que já levou a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) a anunciar a abertura de um inquérito.

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Achamos estranho o contexto em que esta peça foi divulgada sendo facto que já foi gravada há um tempo a esta parte e quando estamos a falar de um contexto em que temos uma manifestação marcada para dia 24 e acabámos ontem à noite [quarta] uma reunião com o senhor ministro relativamente à tabela salarial”, sublinhou.

Paulo Santos disse também à Lusa estranhar a existência de uma lista com nomes de elementos, de dirigentes da associação, que não proferiram quaisquer comentários xenófobos ou racistas.

“Achamos estranho, no entanto, pelo que vim a saber, a existência de uma lista com nomes de alguns elementos, de dirigentes da associação dos polícias cujo nome não faz sentido estar lista, porque apenas faziam parte de algumas plataformas e alguns espaços públicos das redes sociais. Não têm qualquer comentário xenófobo, racista”, referiu.

De acordo com o presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), estes elementos fazem parte da lista por estarem naqueles espaços públicos e não por comentários.

“Portanto vamos avaliar e analisar e apoiar os colegas que pretendam apoio”, afirmou, acrescentando que o sindicato vai aguardar com “muita serenidade” pelos resultados dos inquéritos entretanto abertos.

“A ASPP tem mais de três décadas de intervenção sindical com os seus princípios e valores bem vincados, por isso, não há espaço para comportamentos que comprometam aquilo que é a dignidade da vida humana com comportamentos racistas, xenófobos totalmente incompatíveis com a missão policial. Acho que isto é clarinho como água como se diz em bom português”, sublinhou.

Paulo Santos lembrou também que a tutela tem mecanismos e instrumentos à disposição para dar conta daquilo que são eventuais condutas menos corretas por parte dos profissionais e agir em conformidade e punir elementos com esses comportamentos.

O presidente da ASPP disse ainda à Lusa que já há algum tempo que tinham conhecimento de que alguns elementos teriam alguns comentários nas redes sociais.

“Nós próprios já tínhamos alertado para elementos com algumas linhas de opinião radicais e complicadas e nada foi feito até à data”, disse.

Um consórcio de jornalistas de investigação divulgou na quarta-feira uma reportagem de Pedro Coelho, Filipe Teles, Cláudia Marques Santos e Paulo Pena, na SIC, no Setenta e Quatro, no Expresso e no Público, que mostra que as redes sociais são usadas para fazer o que a lei e os regulamentos internos proíbem, com base em mais de três mil publicações de militares da GNR e agentes da PSP, nos últimos anos.

No trabalho são apresentados diversos casos de publicações com teor racista, xenófobo e discriminatório. Segundo a investigação, todos os agentes e militares da PSP e da GNR que escreveram as frases em causa nas redes sociais estão no ativo.