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A Amnistia Internacional Portugal mostrou-se esta sexta-feira “estupefacta” com as declarações do Presidente da República sobre os direitos humanos no Qatar, na véspera do Mundial2022 de futebol, pedindo-lhe que não vá assistir ao Portugal-Gana em 24 de novembro.
“Fiquei estupefacto com o comentário do Presidente da República, porque é uma pessoa que muito estimamos, e um cargo que muito respeitamos. Esse respeito e estima vem de que Marcelo Rebelo de Sousa normalmente está na linha da frente na defesa dos direitos fundamentais, dos direitos humanos”, lembra o diretor executivo da Amnistia, Pedro A. Neto.
À Lusa, o dirigente da organização não-governamental destaca Marcelo Rebelo de Sousa como uma “pessoa com muita sensibilidade, muito próxima e atenta a problemas de direitos humanos”, e atribui as afirmações ao “entusiasmo do momento, de final de jogo e de flash interview, em que estava a querer falar de desporto”.
“O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal…, mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, na zona de entrevistas rápidas no Estádio José Alvalade após o 4-0 de Portugal à Nigéria, na quinta-feira.
A Amnistia renova ainda o “apelo da Frente Cívica”, associação que apelou ao Presidente, mas também ao primeiro-ministro, António Costa, e ao presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que boicotem o evento no Qatar.
Rebelo de Sousa explicou, na quinta-feira, que vai marcar presença no Portugal-Gana, primeiro jogo da seleção portuguesa na fase de grupos, marcado para dia 24 deste mês.
“Não há razão para que o Presidente, o primeiro-ministro e o presidente da AR vão ao Qatar em representação de Portugal, porque Portugal gosta muito de futebol mas, quero acreditar, não está conivente com abusos de direitos humanos naquele país“, destaca Pedro A. Neto, pedindo que os órgãos de soberania não “legitimem e validem as autoridades do Qatar”.
Embora as autoridades do Qatar neguem, várias organizações apontam para milhares de mortes naquele país entre 2010 e 2019 em trabalhos relacionados com o Mundial, com um relatório do jornal britânico The Guardian, de fevereiro deste ano, a cifrar o valor em 6.500 óbitos, número que muitos consideram conservador.
Além das mortes por explicar, o sistema laboral de “kafala” e os trabalhos forçados, sob calor extremo e com longas horas de trabalho, entre outras agressões, têm sido lembradas e expostas há anos por organizações não-governamentais e relatórios independentes.
Ao longo dos últimos anos, numerosas organizações e instituições têm apelado também à defesa dos direitos de adeptos, e não só, pertencentes à comunidade LGBTQIA+, tendo em conta a perseguição de que são alvo no Qatar.
Várias seleções, como Dinamarca, Austrália ou Estados Unidos, posicionaram-se ativamente contra os abusos ou a favor da inclusão e proteção, quer dos migrantes quer da comunidade LGBTQIA+, tanto a viver no país como quem pretenda viajar para assistir aos jogos.
O Campeonato do Mundo masculino de futebol vai decorrer entre 20 de novembro e 18 de dezembro, com a seleção portuguesa apurada e inserida no grupo H, com Uruguai, Gana e Coreia do Sul.