O ano passado foi marcado por um “considerável” aumento do número de greves em Portugal continental, no setor privado, e foi mesmo atingido um máximo dos últimos anos: 157. Mas mais greves não significa mais cedências e são mais as vezes em que as reivindicações são ignoradas do que aquelas em que são aceites: em 2021, só um terço das exigências que motivaram greves foram parcial ou totalmente alcançadas.

Os números são revelados nas estatísticas sobre greves publicadas esta sexta-feira pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério do Trabalho. É o GEP quem conclui que, no ano passado, houve um “considerável” aumento das greves — em 52% para 157, o número mais elevado dos registos publicados no site do gabinete, que remontam a 2005.

Segundo os dados agregados pela Pordata, esse valor supera, portanto, os registados durante o resgate da troika, entre 2011 e 2014 (embora, aí, houvesse substancialmente mais trabalhadores grevistas), mas não chega, porém, a superar os turbulentos anos das décadas de 80 e 90, onde houve anos em que o número de greves ultrapassou as 300 ou até 400.

De acordo com o GEP, o número de trabalhadores em greve também subiu em 2021 face a 2020 (em 41% para mais de 29 mil), assim como o dos dias de trabalho perdido (em 28% para mais de 33 mil).

Os motivos que levaram à greve foram, sobretudo, as reivindicações salariais (46,1% do total, uma subida face aos 38,1% de 2020, mas abaixo dos 49,2% de 2019) e as condições de trabalho (22%, o dobro face a 2019). Só em um terço dos casos é que as reivindicações foram parcial ou totalmente alcançadas; na esmagadora maioria (65,7%) foram recusadas, mais do que em 2020 (60,2%).

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Foi nas reivindicações salariais que as empresas mais cederam em termos proporcionais: 8,9% das exigências ligadas aos salários foram aceites, mas 50,7% foram descartadas pela entidade empregadora. E é na categoria de “emprego e formação” que as empresas são menos flexíveis: foram rejeitadas 92% das propostas feitas pelos trabalhadores e totalmente aceites apenas 1,4%.

Na análise publicada, o GEP refere que, embora 2021 tenha sido um ano ainda fortemente marcado pela pandemia, as exigências sobre “proteção da segurança e saúde no trabalho dos trabalhadores devido à Covid-19”, que estão incluídas na categoria das “condições de trabalho”, apenas foram referidas cinco vezes e só nas “greves de pluriempresa” (ou seja, aquelas greves desenvolvidas em mais do que uma entidade empregadora). Em todas elas, o objetivo foi só “parcialmente aceite”. Houve ainda 13 greves ao trabalho suplementar. Mais de metade (58,6%) das paralisações duraram um dia.

Os dados revelados têm por base a informação do território continental dos avisos prévios de greve, que têm de ser entregues aos empregadores, e do relatório único, um documento que as empresas têm de entregar com informação sobre os seus trabalhadores. Excluem, portanto, a administração pública. A informação diz respeito a greves que efetivamente aconteceram e não a pré-avisos.