787kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

"Gaslit". Para ver Watergate de outro ângulo e para reencontrar Julia Roberts na televisão

Este artigo tem mais de 1 ano

É uma das grandes estreias do final de 2022. Outra forma de contar a história do escândalo de Nixon, com outros protagonistas, um episódio de cada vez. Estreia-se esta terça-feira no TV Cine Emotion.

Julia Roberts interpreta Martha Mitchell, a mulher do procurador-geral de Nixon, John N. Mitchell, papel desempenhado por Sean Penn
i

Julia Roberts interpreta Martha Mitchell, a mulher do procurador-geral de Nixon, John N. Mitchell, papel desempenhado por Sean Penn

Julia Roberts interpreta Martha Mitchell, a mulher do procurador-geral de Nixon, John N. Mitchell, papel desempenhado por Sean Penn

Joel Golby, colaborador do jornal britânico The Guardian, escrevia há uns tempos sobre os atrasos de algumas séries norte-americanas na hora de chegar à televisão no Reino Unido. O artigo, escrito a propósito da estreia de “How To With John Wilson” (por cá disponível na HBO Max), refletia sobre os quase dois anos de espera e de como este período parece coisa arcaica num momento em que quase tudo chega via plataformas de streaming. O Reino Unido é um caso particular – não tem HBO Max, por exemplo – e há muitas séries que ainda se estreiam na televisão “normal”, à hora marcada. Em Portugal, desabituámo-nos a isso, mas ainda há momentos que nos fazem pensar “alguma vez voltaremos a este modelo?”. “Gaslit” é a protagonista de mais um desses momentos. A série estreia-se esta terça-feira, dia 22, pelas 22h10, no TV Cine Emotion.

Oito episódios, um por semana, sempre à mesma hora. Mas qual a novidade aqui, quando ainda há tantas séries a estrear noutros canais a todo o momento? Bom, “Gaslit” é daquelas minisséries com tempero de produção do ano. Ou, se não gosta de classificações maximalistas (ou perto disso), diga-se então que tem uma daquelas histórias que é um regozijo acompanhar. Começa tudo pelo tema: o escândalo Watergate.

Tal como muitas das séries em volta de escândalos estreadas nos últimos dois anos, “Gaslit” é uma adaptação de um podcast. “Slow Burn”, criado pelo jornalista Leon Neyfakh, é um produto da revista digital Slate, que teve início em 2017. Já vai com sete temporadas, cada uma delas dedicada a uma história controversa norte-americana, desde a rivalidade entre Notorious B.I.G. e Tupac Shakur, o caso Clinton-Lewinski ou a história de David Duke, figura de relevo no contexto do regresso da “supremacia branca” em território norte-americano. Watergate foi a primeira temporada do podcast, evitando os lugares-comuns do caso e tentando concentrar-se nas histórias menos contadas.

[veja o trailer de “Gaslit”:]

Eis “Gaslit”, a versão menos reportagem dessa história, ou seja, a adaptação para entretenimento. Com um elenco de luxo encabeçado por Julia Roberts e Sean Penn, e ainda com Dan Stevens, Shea Whigham, Betty Gilpin, Chris Bauer, Allison Tolman e Darby Camp.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nixon está sempre no centro, mas Nixon está também presente em modo “cenário de fundo”. Ou seja, Nixon não está presente, mas omnipresente. Afinal, isto é sobre ele. Sobre o envolvimento do antigo presidente americano no caso Watergate e sobre todas as manobras que aconteceram nos bastidores dos bastidores. É muito menos sobre os resultados, a investigação, é muito mais sobre a ação em si, aliás, muito sobre a pré-ação: o que fez com que tudo aquilo acontecesse?

As luzes estão em cima de Julia Roberts enquanto Martha Mitchell, a mulher do procurador-geral de Nixon, John N. Mitchell (Sean Penn), que chegou a estar envolvida no caso de uma forma bizarra ou, melhor, extrema: foi raptada. “Gaslit” concentra-se na personagem pelo papel de denunciante. Por achar que estava sempre a ser secundarizada pelos restantes políticos e as suas mulheres, Mitchell falava de mais à imprensa. Era daquelas pessoas inconvenientes, sem filtro. Mitchell usava isso para ter a atenção que lhe achava merecida, os jornalistas usavam-na não por terem interesse, mas porque é o tipo de material que vende. Os políticos não se sentiam confortáveis ao seu lado.

Martha foi a primeira pessoa a falar do envolvimento de Nixon no caso. O resto é história. Criada por Robbie Pickering e com os episódios todos realizados por Matt Ross — mais conhecido pelas suas funções de ator — “Gaslit” pega no caso Watergate com o nível de demência certo. Afinal, eram os 1970s, houve muita coisa pouco sã a acontecer, muita experiência militar absurda, no limiar do credível, que anos mais tarde se viria a revelar como verdade. Pickering e Ross não perdem tempo a situar o espectador nessa realidade, fazem-no logo no primeiro episódio, através de G. Gordon Liddy (Whigham), um antigo agente do FBI que é contratado para ter ideias que consigam sabotar os planos dos democratas.

"Gaslit" é muito menos sobre os resultados, a investigação, é muito mais sobre a ação em si, aliás, muito sobre a pré-ação: o que fez com que tudo aquilo acontecesse?

Mas estas ideias roçam o ridículo. Muitas delas são questionáveis mesmo tendo em conta o que entendemos como direitos humanos. E foram o início de um movimento inevitável e imparável, uma espécie de bola de neve que levou a que Gordon Liddy ficasse como uma das caras do caso que levaria ao Watergate. As ideias absurdas de Liddy fazem o contraponto face à vida quotidiana do casal Mitchell, num potencial momento de rutura devido à vontade de Martha ser aceite dentro da sociedade do marido.

Como outras séries que têm saído do forno dos podcasts, esta também tem os ingredientes certos nas doses certas. É verdade que segue uma fórmula e isso pode deixar muita gente desconfiada — porque as fórmulas costumam atingir um ponto de saturação. Mas “Gaslit” encaixa na perfeição neste modelo de minissérie. Por falar em vantagens, uma outra: o facto de a realização estar entregue a duas mãos e uma cabeça. Uma entrega bem escolhida, com Matt Ross a conseguir atribuir uma unidade ao todo e a saber dar uma toada de humor quando esta é exigida. É impossível não olhar para Liddy – que, já agora, tem em Whigham uma escolha impecável de casting – e sentir acidez misturada com pontadas de loucura justificáveis.

“Gaslit” é boa televisão para ver na televisão. Isto não é saudosismo, não desejamos regressar a velhos hábitos, de missões a horas certas. Mas é sempre bom ter uma desculpa para voltar ao local onde aprendemos a fazer tudo isto.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora