Golo! Cristiano Ronaldo foi o autor do primeiro golo português no Mundial 2022. Esta quinta-feira, no jogo contra o Gana, o capitão da Seleção Nacional marcou de penálti, após ele próprio sofrer falta do jogador ganês Mohammed Salisu.

Cristiano Ronaldo desfez o empate a zero golos que vigorava, até aos 65 minutos, no jogo de estreia de Portugal frente ao Gana.

Na Seleção, Cristiano Ronaldo já marcou 24 golos de pénalti. Além disso, o capitão tornou-se o primeiro jogador de sempre a marcar em cinco Mundiais.

Mas os seus penáltis, que quase sempre converte, escondem alguma ciência. Aliás, não só ciência como reações físicas e mentais quando se está naquele momento, sozinho frente ao guarda-redes. A dificuldade dos jogadores na marcação das grandes penalidades começa no seu organismo, diz Greg White, especialista em atividade física, num documentário patrocinado pela Adidas: “Os penáltis testemunham a comunicação entre o corpo e o cérebro, particularmente os olhos. Porque o que os olhos vêm, depois o cérebro interpreta e traduz isso para uma resposta física”. Os médicos chamam a esse mecanismo “reação de fugir ou lutar”, uma ferramenta descrita pelo fisiologista Walter Bradford Cannon em 1927 , e que os animais usam para reagir às ameaças. Essa reação agita o sistema nervoso simpático para que o animal enfrente o medo e lute contra ele ou fuja para se defender.

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À conta disso, “no momento do penálti há um aumento na libertação de adrenalina, uma hormona que no fundo nos prepara para a ação. O ritmo cardíaco aumenta dramaticamente e pode ir de níveis de descanso em atletas de 60 batimentos por minuto para mais de 100 sem fazer nenhum tipo de atividade física. O ritmo de respiração começa a aumentar. As artérias do corpo começam a contrair e a pressão sanguínea começa a aumentar”, descreve o cientista.

Como o corpo e a mente estão ligados, aquilo que acontece fisiologicamente ao jogador tem repercussões no pensamento, concretiza Andy Lane, psicólogo desportivo: “Os jogadores entram num estado mental alterado que pode alterar aquilo que pensam e que sentem, mas principalmente aquilo em que se conseguem concentrar. Nesse ponto em que a resposta fisiológica a esse stress se torna exagerada é quando se torna fortemente provável que se falhe ao executar uma resposta motora de controlo tão subtil como um penálti”.

Visto que o guarda-redes só pode avançar depois do remate, um penálti é virtualmente indefensável se a bola for enviada para longe do guarda-redes. Um estudo publicado em 2005 após analisar 286 penáltis indica que mais de 80% dos remates à baliza (cerca de 4 em cada 5) resultam em golo se forem rematados para a chamada “zona indefensável”, a que fica nos cantos superiores e inferiores da baliza porque são também as zonas que estão mais afastadas no guarda-redes. E os números provam isso mesmo, conta num documentário Duncan Alexander, especialista em estatísticas da Opta. “Olhei para o número total de penáltis na Premier League nas últimas cinco épocas e percebi que se a bola bater no canto superior esquerdo a taxa de sucesso é de 100%. Se bater no cimo do centro da baliza (um pouco mais para a direita), a taxa de sucesso ficava nos 90%. Portanto, se um jogador tiver confiança para bater a bola mais para cima é o melhor que faz. É menos arriscado do que batê-la mais para baixo”. Ronaldo usa e abusa deste ‘segredo’ já mal guardado, ainda que às vezes também falhe.

Os números são tão dramáticos que sugerem que, se o guarda-redes ficar quieto no centro da baliza em vez de tentar adivinhar para que lado a bola vai ser chutada e a seguir se atirar para a esquerda ou para a direita, terá maior probabilidade de defender um penálti: olhando para os 138 penáltis chutados nos Campeonatos do Mundo entre 1982 e 1994 descobre-se que os guarda-redes só adivinham a direção da bola em apenas 41% das vezes (que é pouco acima de a adivinhar aleatoriamente) e que só defenderam as grandes penalidades em 14,5% dos casos.