Subestimar a utilidade de um canivete suíço é ação de quem nunca esteve em apuros para perceber o benefício de ter tantos instrumentos num só. Entre as que cortam e as que perfuraram, alguma das pontas da ferramenta vai solucionar o problema que temos pela frente. No Estádio Al Janoub, os Camarões foram um dilema bastante difícil de resolver para a Suíça, mas bastou a ponta em forma de abre latas e o adversário “desmontou-se” num jogo cuja sina estava guardada numa caixa forte e que continha um momento de pura emoção. 

Afinal, Breel Embolo, ao serviço dos helvéticos, marcou e não festejou por respeito. Se estamos habituados a ver esta contenção nos festejos quando um jogador marca ao antigo clube, o mesmo não se pode dizer em partidas de seleções. Apesar do gigante palco, o internacional preferiu mostrar apreço ao país onde nasceu no momento do golo que deu o 1-o à Suíça.

Os helvéticos tiveram que cozinhar uns Camarões mal cozidos para que a casca saísse mais facilmente, porque correram o risco de não provarem o miolo. Dois dos camaroneses com mais credenciais, Toko-Ekambi (10′) e Chupo-Moting (14′), deram o exemplo do que os leões indomáveis eram capazes de fazer. O jogador do Lyon aproveitou uma bola perdida para rematar por cima, já o jogador do Bayern contornou Akanji para ir sozinho para a baliza, mas falhar perante Sommer. Outros seguiram o exemplo, como Hongla (30′), que rematou para nova defesa do guarda-redes suíço. Concentraram-se em pouco tempo as oportunidades que animaram uma primeira parte que teve momentos de velocidade e outros de maior monotonia. Para provocar a última impressão de golo da metade inicial do jogo, Akanji (45+1′) respondeu a um canto de Vargas com um cabeceamento que passou perto e que constituiu a melhor chance da Suíça.

Por não ser muito comum é digno de registo o papel do guarda-redes camaronês, Onana, na elaboração do jogo da seleção africana. Várias vezes, o jogador do Inter conduziu a bola para tentar atrair a pressão adversária e, mediante o que a defesa lhe apresentava, esticar o jogo, ora com o pé esquerdo, ora com o pé direito.

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O selecionador dos Camarões, Rigobert Song, usou durante o encontro, um boné que dizia “A Teoria do Perigo”. A expressão designa uma ideia patenteada pelo técnico e define a ideia de que quando alguém sabe que está em perigo, essa mesma pessoa deixa, automaticamente, de estar em perigo. É quando não sabemos que estamos em perigo que estamos verdadeiramente em perigo. A filosofia originou mais perguntas do que respostas. No caso do jogo, a interrogação mais evidente é “por que é que então os Camarões perderam?”. A resposta surgiu aos 48 minutos quando Embolo concluiu uma jogada toda ela bem elaborada por Xhaka, Freuler e Shaqiri. Os camaroneses não respeitaram as ideias do treinador e, perante a ameaça de derrota, não inverteram o estado das coisas.

Na segunda parte, só Chupo-Moting (57′) esteve perto do golo do lado dos Camarões, embora num remate com pouco ângulo. Prestação insuficiente dos leões indomáveis comparado ao que Vargas (66′), Xhaka (89′) e Seferovic (90+5′) ainda foram capazes de produzir para o lado suíço, embora sem efeitos práticos no marcador.

A pérola

  • A história de Breel Embolo cruzou-se de novo com o seu país de origem. O reencontro foi feliz para o jogador do Monaco, mas também feliz foi a atitude que teve. Um golo criado por um produto do cruzamento das duas nações.

O joker

  • A primeira parte podia ter tido consequências negativas para a Suíça não fosse Sommer ter mantido o resultado a zeros mesmo perante as várias ameaças dos Camarões. A prestação do guarda-redes permitiu arrastar a decisão do encontro para o segundo tempo, em que a Suíça foi mais competente.

A sentença

  • O grupo G promete ter uma forte disputa pelos dois primeiros lugares. O Brasil parte como favorito, mas o segundo posto tem três concorrentes de peso para o ocupar. Os Camarões ficaram mais longe de seguir em frente, enquanto a Suíça deu um passo seguro, mas não decisivo rumo aos oitavos.

A mentira

  • O resultado é escasso para o que foram as várias oportunidades criadas. Ambas as seleções tiveram boas chances para marcar, mas as defesas sobrepuseram-se aos ataques. Existiu quase sempre um corte em esforço ou uma interceção casual que não permitiu mais golos. Quando não foi isso, Onana e Sommer mostraram-se presentes.