Perto de 50 concertos, que decorrem em mais de dez espaços relativamente próximos entre si (os britânicos talvez utilizassem a expressão walkable distance), a maioria dos quais localizados mesmo na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e música emergente de artistas e bandas em crescimento, que estão a começar a carreira ou à procura de uma afirmação internacional.

Este é o menu para os dois dias que aí vêm de Super Bock em Stock, o festival que em tempos já se chamou Mexefest e que encerra a temporada de 2022 dos grandes festivais portugueses de música. Porque as muitas opções podem dar dores de cabeça e obrigar a uma ginástica mental e física, olhámos para o cartaz e escolhemos sete concertos a não perder desta edição, que acontece esta sexta-feira e este sábado, dias 25 e 26 de novembro.

Zé Ibarra

6ª feira, 19h45, Casa do Alentejo (Sala Bogani)

No dia de arranque do festival que se espalha pela Avenida da Liberdade, em Lisboa, vai ser possível ver e ouvir o cantor e compositor brasileiro Zé Ibarra em dose dupla: primeiro a solo, depois com a sua mais recente banda Bala Desejo. Não é o único: também Dora Morelenbaum, que integra o grupo, se apresentará nesse duplo formato. Mas a nossa expectativa é um pouco maior para ver Zé Ibarra nesse registo a solo — porque é um extraordinário cantor, letrista e compositor e porque tem vindo a ganhar tarimba solitária, tendo feito nos últimos meses os concertos de abertura para Milton Nascimento na digressão de despedida do “sr. Bituca” dos palcos. Entre composições suas e das suas bandas (não apenas Bala Desejo, mas também os Dônica, que integrou, compondo e cantando temas belíssimos como “Itamonte”), tem também duetos gravados com Gal Costa (“Meu Bem, Meu Mal”), Duda Beat (“Bédi Beat”) e Tom Karabachian (“você menina”) e uma versão arrepiante de um tema de Guilherme Lamounier chamado “Vai Atrás Da Vida Que Ela Te Espera”. Pode ser uma das grandes revelações deste festival.

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David Bruno & Convidados

6ª feira, 22h50, Coliseu dos Recreios (Sala Super Bock)

É um concerto de David Bruno e isso bastaria para termos a certeza que será uma hora (mais coisa menos coisa) bem passada, graças às canções de David com aroma a cheirinho, cafés centrais, festas da espuma e férias em Miramar e Benidorm, tocadas na companhia do seu célebre guitarrista “Marquito” e do Sancha Pança da dupla musical: o romântico, DJ, performer, amante de rosas, enfim, figurão das Caxinas, António Bandeiras. Acresce que este é um concerto especial, na sequência da edição de um novo álbum de David (Sangue & Mármore, uma espécie de áudio-novela) e que terá convidados. Gisela João, a Sandra Isabel desta epopeia musical, é uma das presenças confirmadas.

Bala Desejo

6ª feira, 23h45, Cinema São Jorge (Sala Manoel Oliveira)

Tem tudo para ser uma grande noite verde e amarela, esta primeira do Super Bock em Stock. Se ao início da noite podemos ver Zé Ibarra em ambiente íntimo, voz e violão, a explorar as subtilezas melódicas da estrutura de canção clássica da MPB, umas horas depois será possível vê-lo num registo totalmente diferente. Esse registo é o dos Bala Desejo, novo projeto sensação da música brasileira, recém-vencedor de um Grammy latino e que traz a Portugal alegria tropical, carnavalesca, uma autêntica desbunda sensual de ritmos. Escrevemos sobre o primeiro disco deste super-grupo de talentos emergentes em fevereiro (intitulado SIM SIM SIM), vimo-los ao vivo na digressão que fizeram em Portugal ainda no primeiro semestre do ano e não temos dúvidas: esta música é de libertação e de festa rija.

Ana Moura

6ª feira, 0h, Capitólio (Bloco Moche)

Dá até um pequeno aperto no peito, ver que os concertos de Bala Desejo e de Ana Moura praticamente se sobrepõem na primeira noite do festival. Até porque esta será a primeira, e este ano a única, oportunidade para ouvir ao vivo Casa Guilhermina, o novo disco de uma das grandes figuras da atual música portuguesa. Moura, que nos últimos anos gravou enormes sucessos como “Desfado”, “Dia de Folga” e “Tens os Olhos de Deus”, reinventa-se neste novo álbum, aproximando ainda mais o fado de ritmos festivos, dançantes e eletrónicos, de ambientes notívagos e sensuais. Temas como “Andorinhas” (sobretudo), “Arraial Triste” e “Corridinha” são sintomáticos de uma Ana Moura renovada e a acertar na mouche da mistura entre tradição e modernidade.

Papillon

Sábado, 20h, Capitólio (Bloco Moche)

O hip-hop português também se fará ouvir no festival, por sinal com o que de mais imaginativo e original se vai ouvindo nesse género musical. No sábado, à hora de jantar, o rapper, cantor e compositor Papillon (Rui Pereira) vai apresentar pela primeira vez o seu novo disco Jony Driver, sucessor do álbum (lançado em 2018) Deepak Looper. No disco, destaca-se pela capacidade lírica e narrativa evidenciada em rimas e letras mas também pela arquitetura sonora, muito trabalhada e incorporando ritmos muito diferentes em canções nas quais também usa a voz de forma criativa. A não perder.

Porridge Radio

Sábado, 20h45, Coliseu dos Recreios (Sala Super Bock)

Depois de hip-hop nacional, a força do novo rock britânico. Nos últimos anos, os Porridge Radio, banda maioritariamente feminina formada em Brighton em 2015, afirmaram-se no panorama indie graças a álbuns como Every Bad (2020) e o mais recente Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky (2022), ambos discos de grande fulgor, cheios de nervo, energia e eletricidade rock, com angústias existenciais vertidas para música inquieta. Depois de uma primeira atuação em Portugal este verão, no festival Vodafone Paredes de Coura, o grupo regressa este mês para atuações neste festival e no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Com canções novas como “Back to the Radio”, “End of Last Year”, “Rotten”, “Jealousy” e “The Rip”, mas também com temas do disco anterior como “Born Confused” e “Sweet” (e ainda a velhinha “7 Seconds”, que cresce ao vivo), não falta matéria-prima para um grande concerto, até pelo carisma e entrega da vocalista e guitarrista Dana Margolin.

Sudan Archives

Sábado, 23h45, Capitólio (Bloco Moche)

Quem também chega a Portugal em boa hora é Sudan Archives, isto é, o projeto musical da compositora, cantora e violinista norte-americana Brittney Denise Parks. O concerto acontece depois da edição do segundo álbum da autora, Natural Brown Prom Queen, sucessor de Athena (2019) e mais um disco em que Brittney alia instinto pop na composição, batidas eletrónicas e um balanço rítmico sensual que se enquadra na estética musical habitualmente descrita como “R&B contemporâneo”.

Outras atuações a ter em conta: Atalaia Airlines Big Band com convidados (6ª, 19h45, Estação Ferroviária do Rossio), Gretel Hänlyn (6ª, 21h20, Cinema São Jorge), Isla de Caras (6ª, 22h, Casa do Alentejo), Kady (sábado, 19h30, Cinema São Jorge), Juçara Marçal (sábado, 19h45, Casa do Alentejo), Obongjayar (sábado, 21h40, Capitólio), Crystal Murray (sábado, 22h45, Coliseu dos Recreios)