“Pinóquio de Guillermo del Toro”

Nos tempos que correm, quando lemos que um determinado livro clássico foi “reimaginado” para uma nova adaptação ao cinema, é legítimo esperarmos o pior. É precisamente o que acontece  nesta nova versão animada da obra de Carlo Collodi, assinada por Guillermo del Toro e Mark Gustafson, que abusa das liberdades admissíveis para desfigurar quase por completo a história original. O enredo é transposto para a Itália do século XX e muito truncado e alterado, Gepeto constrói Pinóquio porque perdeu o filho num bombardeamento durante a I Guerra Mundial e, no final, o menino de madeira não se transforma numa criança de carne e osso. O cúmulo é a escancarada politização da história, com Pinóquio a ser transformado num antifascista “malgré lui”, que chega a gozar com Mussolini em pessoa durante um espectáculo de marionetas. “Pinóquio de Guillermo del Toro” é um desperdício de boa animação “stop motion”.

“Estranho Mundo”

Depois do medíocre “Raya e o Dragão” e do espaventoso e trapalhão “Encanto”, a animação dos estúdios Disney continua a ir de mal a pior. “Estranho Mundo” passa-se num país imaginário que depende de um vegetal, o pando, para tudo, da alimentação ao combustível e à energia; e põe em cena a família Clade, que tem uma longa tradição nas viagens de exploração, embora Searcher Clade, um dos seus membros, tenha preferido ser agricultor após o desaparecimento, anos atrás, do seu lendário pai, Jaeger. A história é uma reelaboração da de “Viagem ao Centro da Terra”, o filme tenta, de forma desastrada, harmonizar os valores familiares tradicionais da Disney com os imperativos da agenda “woke”, e a animação digital procura, sem sucesso, emular a da subsidiária Pixar, havendo momentos em que mais parece a daqueles desenhos animados feitos a metro e exibidos nos espaços infantis das televisões.

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“Crimes do Futuro”

Quase 25 anos depois de “eXistenZ”, David Cronenberg volta a escrever e realizar um filme de ficção científica e “body horror”, e regressa ao género que o celebrizou. A história passa-se num futuro desolado, bisonho e deliberadamente pouco pormenorizado, e tem como protagonista Saul Tenser (Viggo Mortensen), um artista de “performance” que, após uma cirurgia, consegue fazer nascer espontaneamente novos orgãos no seu corpo, e com a ajuda da sua parceira Caprice (Léa Seydoux), uma ex-cirurgiã, que os remove a seguir, faz disto um espectáculo, apresentado como arte de vanguarda. Neste mundo futuro, a cirurgia é o novo sexo e a dor, além de uma forma de prazer, é também uma emoção estética. “Crimes do Futuro” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.