O que nos distingue enquanto seres humanos é a forma como olhamos o mundo e nos posicionamos perante ele. Nas bancadas, viu-se o maior contraste cultural possível. O senegaleses, de cara pintada com as cores do país, a abanarem bandeiras e a dançarem como se o jogo fosse a música que os embalava. Os qataris, para quem o futebol é um espetáculo itinerante, cobriram os lugares do Estádio Al Thumama com o branco das vestes árabes e assistiam ao jogo com um olhar frio.

A receção do Mundial gerou entusiasmo entre os locais, mas a equipa que os representa foi tão monótona quanto o ambiente dos estádios em que joga. Em 5-3-2, o Qatar mostrou novamente uma postura defensiva e falta de qualidade para, com bola, chegar de maneira apoiada à frente. Tranquilamente, o Senegal abriu uma vantagem de dois golos. Um a fechar a primeira parte e o outro a começar a segunda. No golo que abriu o marcador, Boulaye Dia aproveitou o escorregão de Boualem Khoukhi para faturar. Depois, Famara Diédhiou, na sequência de um canto em que cabeceou com a força com que habitualmente se remata com o pé, alargou a vantagem.

A inoperância do Qatar não foi constante. A seleção da casa chegou a carregar no botão e a ligar o modo potência. Com o jogo equilibrado, estavam criadas as condições para os jogadores qataris fazerem algo inédito até então: rematarem à baliza. Conseguiram-no por duas vezes, mas Édouard Mendy brilhou frente a Almoez (63′) e Ismail Mohamad (67′). Tendo descoberto o caminho, foi só um passo para chegarem ao destino final. Muntari marcou o golo que reduziu a distância no marcador. 

O Senegal via-se obrigado a ter que reativar os índices competitivos. Por acaso, tiveram capacidade de o fazer a tempo demarcarem um terceiro golo marcado, por intermédio de Bamba Dieng (84′), que fechou o jogo em 3-1.

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A pérola

  • Perante a galvanização dos qataris foi preciso Édouard Mendy fazer duas grandes defesa para adiar um golo histórico anotado por Mohamed Muntari. O nome do avançado vai ficar marcado como pertencendo ao autor do primeiro golo do Qatar em Mundiais.

O joker

  • Famara Diédhiou apareceu no onze como substituto do lesionado Cheikhou Kouyaté. Uma alteração que permitiu o selecionador Aliou Cissé realizar uma mudança tática, de 4-2-3-1 para 4-4-2, onde Diédhiou teve a companhia, nas suas costas, de Boulaye Dia. Contabilizando partidas no clube e na seleção, o jogador do Alanyaspor marcou pela primeira vez esta época.

A sentença

  • O Qatar ficou a saber que participação no Mundial está presa por um fio. Uma passagem que pode ser curta e fugaz pelo torneio para o qual a seleção da casa tanto se preparou e onde não estaria caso não fosse o país organizador. Têm, no entanto, mais uma janela de oportunidade para conseguirem seguir em frente. O Qatar precisa que o Equador vença os Países Baixos esta tarde e fica à mercê de ganhar aos neerlandeses na terceira jornada com um saldo de golos benéfico. Os africanos mantêm esperanças fortes de seguirem em frente no grupo A, ainda que com muito por decidir.

A mentira

  • Depois de uma exibição pouco conseguida contra o Equador, Saad Al-Sheeb, que foi titular na baliza qatari no jogo da primeira jornada, acabou por ficar no banco frente ao Senegal. O treinador Félix Sánchez lançou Meshaal Barsham como guarda-redes titular. Não se pode julgar a aposta do técnico que, perante um buraco, tentou pegar na linha e cosê-lo, mas a aposta num novo guardião não foi propriamente frutífera. Barsham proporcionou momentos de grande insegurança para a defesa, nomeadamente ao nível do jogo de pés e da saída a cruzamentos.