O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, negou este sábado estar cansado de ocupar o cargo e considerou que neste momento “seria mau” uma interrupção ou um encurtamento do mandato, dado o contexto que o país atravessa. Ainda assim, Marcelo aproveitou visita à Feira de Solidariedade Rastrillo, em Lisboa, para deixar novos recados a António Costa, já com o próximo ano como definidor: “2023 será “primeiro grande teste” do qual “dependerá o resto da legislatura”.

“Não, não estou cansado da Presidência e, pelo contrário, é mais necessário mais Presidente num momento de mais crise, como é evidente”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa em declarações aos jornalistas. O chefe de Estado referiu que chegou na sexta-feira do Qatar e que tem tido “tantos compromissos, tantos compromissos, a maior parte deles sociais”, mas referiu que não se cansa.

“Eu nunca me canso, eu sou criticado muitas vezes de nunca me cansar e outras vezes de me cansar”, afirmou.

Em declarações aos jornalistas na Feira de Solidariedade Rastrillo, em Lisboa, o chefe de Estado disse ainda que vai estar “muito atento aquilo que vai ser este ano de 2023”.

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É evidente que 2022 foi muito marcado por ter havido eleições há seis meses ou sete meses. Agora, 2023 é um teste, é o primeiro grande teste antes das eleições europeias de 2024 e esses anos são fundamentais para se testar como é que enfrentamos a crise e como é que há condições políticas para levar por diante aquilo que os portugueses querem, que é ultrapassar essa crise”, defendeu.

Marcelo Rebelo de Sousa disse estar a falar “para o Governo e para todo o país”. “Nós sabemos que há uma guerra, e sabemos que há inflação e sabemos que 2023 vai ser pior que 2022, e como for 2023 assim dependerá o resto da legislatura”, salientou, apontando que “é um ano decisivo”.

Questionado se serão necessárias mais medidas de apoio às empresas e às famílias para as ajudar a enfrentar a crise, o chefe de Estado afirmou que “se a situação for em 2023 pior do que em 2022 vai ser difícil não haver”.

“É tão lógico, tão lógico, tão lógico que decorre da natureza das coisas. Se de repente a inflação continuar muito alta, se a situação das famílias se degradar, se houver aquilo que não houve felizmente até agora, que é desemprego, então obviamente os apoios sociais têm de aumentar”, considerou. E referiu que os próximos tempos serão “muito duros”.

“O ano de 2023 vai ser um ano de mais guerra, não sabemos até quando, também inflação, não sabemos até quando, de mais custos na vida dos portugueses, não sabemos até quando. Isso implica por um lado uma atenção por parte dos poderes públicos em apoios sociais, mas implica a solidariedade social”, sustentou.

Sobre a possibilidade de uma revisão em baixa das previsões económicas, o Presidente da República ressalvou que “ninguém sabe” e indicou que “as últimas previsões são mais negativas para toda a Europa e para todo o mundo”.

Quando digo mais negativas é aumentar a inflação ou manter-se muito alta e baixar o crescimento da riqueza […]. Vamos ver se se verifica ou não, depende muito, muito, muito da duração da guerra”, considerou.

À margem da visita a esta iniciativa solidária, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado também sobre declarações do secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, que defendeu que Portugal, no conjunto dos últimos sete anos, está a crescer mais do que França, Espanha e Alemanha, convergindo com a média da União Europeia.

“Pois foi, aconteceu. Este ano aconteceu, foi possível porquê? Porque o último trimestre de 2021 foi muito bom, o primeiro trimestre de 2022 foi muito bom e no resto nós aguentámos sem perder aquilo que se temia que perdêssemos”, declarou o Presidente.

O chefe de Estado alertou, no entanto, que “o problema é 2023 e em relação a 2023, se a guerra continuar e a inflação continuar, muda aquilo que foi francamente melhor do que se esperava em 2022, passa a ser pior em 2023”.

Questionado ainda sobre a proposta do PSD no âmbito da revisão constitucional para que o Presidente da República tenha um mandato único de sete anos (em vez da possibilidade de dois mandatos de cinco), Marcelo assinalou que essa alteração já foi defendida por si.

“Eu não me meto na matéria da revisão constitucional, é uma matéria em que o Presidente da República não tem poderes nenhuns e eu, por exemplo, no passado defendi, quando não era Presidente da República, e mesmo no início, quando me candidatei, que a solução melhor seria um mandato único de sete anos”, apontou.

No entanto, devo reconhecer que neste momento, com a guerra e com a crise, seria mau haver uma interrupção de mandato, um encurtamento de mandato, precisamente porque é preciso é haver quem enfrente a crise e quem garanta, intervindo. E o Presidente deve intervir para garantir, por um lado, que a maioria absoluta cumpre o que deve cumprir – para isso é que ela existe — e, por outro lado, para garantir que haja uma oposição que possa ser alternativa, como é desejável que haja alternativas no futuro”, defendeu o chefe de Estado.

Marcelo Rebelo de Sousa apontou também que está a ser mais exigente no segundo mandato.

“Estou a ser. Já mandei um diploma para o Tribunal Constitucional, posso mandar outros”, avisou.