Desde o Mundial de 2002 — com a exceção do Campeonato do Mundo da Alemanha — que todos os campeões do mundo caiem na fase de grupos ou, melhor, caíam. A maldição (quase) começou nesse já longínquo certame asiático e, precisamente, com a seleção gaulesa, campeã mundial em 1998. Mais coincidências? Foi a Dinamarca que empurrou França para o escândalo depois de ter tocado o topo da montanha. Mas passaram 20 anos, suficientes para acabar com maldições. Estes campeões do mundo não são supersticiosos.

Didier Deschamps já sabia que tinha de repetir o fim da ala esquerda francesa que venceu a Austrália na primeira jornada do Grupo D e, face à lesão de Lucas Hernández, o irmão Theo tinha de ser titular. Mas o selecionador francês foi mais longe e quase remodelou a defesa com mais duas trocas: as saídas de Pavard e Konaté e as entradas de Jules Koundé e Raphael Varane.

O jogo teve um início mais fulgurante dos nórdicos que entraram com mudanças em todos os setores. mas com os franceses a equilibrarem rapidamente a partida. A primeira grande oportunidade surgiu aos 21 minutos, com Adrien Rabiot a responder bem, de cabeça, a um bom cruzamento de Ousmane Dembelé, mas Kasper Schmeichel respondeu melhor e voou para impedir um golo anunciado.

O primeiro remate da Dinamarca no jogo apareceu aos 36 minutos, com Cornelius a atirar para a malha lateral de Lloris. Numa primeira metade em que vimos Ousmane Dembelé a preencher toda a faixa direita do ataque (e defesa!) da equipa francesa, foi do jogador do Barça que nasceu a última oportunidade dos gauleses. Um bom trabalho na direita com um cruzamento rasteiro bem metido para Mbappé que, na marca da grande penalidade, com tempo e espaço, atirou aos contentores do Estádio 974. Ao intervalo, o desfecho foi o mesmo dos últimos sete jogos entre as duas seleções em Mundiais: zero golos.

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Ao intervalo, a Dinamarca mexeu no ataque — entrou Braithwaite e saiu Cornelius — na esperança de acertar com a baliza do sonolento Hugo Lloris, mas a segunda parte começou como foi quase toda a primeira. Os gauleses entraram com vontade de marcar e, depois de já terem assustado um par de vezes por culpa da velocidade dos mais adiantados, chegaram mesmo ao golo. Aos 61 minutos, Mbappe cumpriu o que havia prometido pouco tempo antes. O avançado do PSG relegou a velocidade para Lucas Hernández que, dentro da grande área, devolveu o passe a Mbappé para o primeiro golo do jogo e para uma vantagem que durou pouco tempo.

Com os gauleses ainda com a memória do golo fresca na memória, os dinamarqueses não deixaram que a festa durasse mais do que 7 minutos. De bola parada, Andreas Christensen irrompeu pela pequena área de Lloris, fez o golo e conseguiu o que os nórdicos não tinham conseguido em toda a primeira parte: rematar à baliza. O empate motivou os dinamarqueses que ameaçaram a reviravolta por duas ocasiões e, numa delas, Braithwaite enviou a bola ao poste.

Havia mais uma maldição no ar — França não vencia um jogo oficial à Dinamarca há 22 anos — a ganhar força. Mas não há maldição que resista quando Mbappé abre o livro. O avançado do PSG começou a usar (cada vez mais) a velocidade, desequilibrou pela esquerda até que, a 4 minutos dos 90, marcou de coxa, respondendo da melhor forma a um excelente cruzamento de Griezmann. Pouco mais havia a fazer na Dinamarca, desfeita pela desfeita dos franceses que resolveram ganhar aos nórdicos quando o acordo de não agressão já ia com mais de duas épocas.

A pérola

  • A memória não se esquece de quem marca, muito menos de quem marca mais do que uma vez, mas o destaque foi Kyllian Mbappé por isto e pelo que jogou, deu a jogar e fez jogar.

O joker

  • Podia ter sido Ousmane Dembélé, mas o extremo do Barça decidiu “não aparecer” na segunda parte. Como tal, o herói (pouco) improvável foi Antoine Griezmann, são só pela assistência para o segundo golo, mas também pelo trabalho invisível que fez, com passes simples e pouca “invenção”.

A sentença

  • França é a primeira equipa apurada para os oitavos do Mundial do Qatar e provoca uma final entre Dinamarca e Austrália na última jornada do Grupo D.

A mentira

  • Era justo acabar como começámos. A maldição — que quase começou com os franceses — é a verdade que cai em mentira com apuramento destes campeões gauleses. Em 2022, o campeão do mundo em título não caiu na fase de grupos.