Um mundo ideal é um mundo justo em todas as dimensões onde possam, por via da existência de recursos limitados, existir desequilíbrios. Para o copo não transbordar e para que, ao mesmo tempo, não lhe fique a faltar espaço para preencher, a distribuição das sortes convém que tenha em consideração aqueles com quem falhou um dia.

Alphonso Davies é a estrela maior da seleção canadiana. Aos 22 anos, veio ao Mundial para brilhar. Quis o responsável pelos destinos do futebol que no primeiro jogo do Canadá em Mundiais desde 1986, frente à Bélgica, o jogador do Bayern falhasse uma grande penalidade e a equipa perdesse. Não foram precisos nem dois minutos para que Davies, desta vez diante da Croácia, no Estádio Khalifa Internacional, cabeceasse para o primeiro golo de sempre do Canadá em campeonatos do mundo. 

Para desequilibrar tanto e correr tão rápido como correu, Alphonso Davies devia ser construtor de estradas, mas, em vez disso, fez um túnel para passar por uma barreira chamada Brozovic. No entanto, o Canadá teve mesmo que lidar com obstáculos e acabou por esbarrar contra alguns. A Croácia foi batendo a uma porta que, após alguma insistência, se abriu. O VAR anulou um golo (26′) a Kramaric que, mais tarde, fez o empate (36′) num lance desbloqueado por Perisic com um passe entre as pernas de um defesa. A reviravolta, ainda na primeira parte, chegou por intermédio de outro jogador que já antes tinha tido uma oportunidade para marcar: Livaja (44′).

A partir daí, a Croácia ligou o modo de atropelamento e penalizou a audácia do Canadá em chegar-se à frente – a ocasião mais flagrante que os canadianos tiveram para chegar ao empate foi um remate de Jonathan David para uma grande defesa de Livakovic (56′) – com uma série de chances que culminaram no dilatar da vantagem. Kramaric, novamente (70′), e Lovro Majer (90+5′) definiram a forma final do 4-1.

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A pérola

  • Não fosse o golo anulado por um ligeiro adiantamento de Livaja no decurso do lance e Kramaric podia ter chegado ao hat-trick. Não foram só os dois golos que o ajudaram a destacar-se. Jogando a partir da esquerda, o avançado do Hoffenheim associou-se muito bem com o médio interior direito, Modric, e solicitou a profundidade em momentos apropriados para ferir uma linha defensiva canadiana bastante subida.

O joker

  • Quatro golos sofridos por parte dos canadianos acabam por ser um número singelo para as oportunidades que os croatas tiveram na segunda parte. Milan Borjan, guarda-redes do Canadá, foi o responsável pela contenção da carga que os croatas despejaram na baliza à sua guarda. Foi impossível não levar com estilhaços.

A sentença

  • A Croácia sobe à liderança do grupo F, em igualdade pontual com Marrocos, mas com um melhor saldo de golos. A seleção croata vai jogar o futuro contra a Bélgica na última jornada. Para o Canadá, não há mais contas a fazer: está de fora do Mundial.

A mentira

  • Não se pode dizer que fosse uma exigência seguir em frente, mas a eliminação do Canadá vai fazer o Mundial perder uma equipa divertida de se ver jogar, repleta de jogadores irreverentes e que promove jogos abertos e disputados. Uma baixa para o espetáculo.