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O Dia da Mãe comemora-se na Rússia a 27 de novembro e foi precisamente essa a data escolhida por um conjunto de mães de soldados russos para — em conjunto com os  membros da Resistência Feminista Anti-guerra (FAR) — lançar uma petição online para “exigir a retirada das tropas da Ucrânia e o regresso dos soldados a casa”. O objetivo é chegar às cinco mil assinaturas e a meio da tarde quase 3.000 pessoas tinham assinado a petição.

“Tudo o que acontece na Ucrânia e na Rússia não pode deixar de emocionar os nossos corações. Independentemente da nossa nacionalidade, religião ou condição social, nós — as mães da Rússia — estamos unidos por um desejo: viver em paz e harmonia, criar nossos filhos sob um céu de paz e não ter medo do seu futuro”, lê-se na página da iniciativa que é dirigida à presidente do Comité de Política Social do Conselho da Rússia, Inna Yuryevna, à responsável da pastas da Família, Mulheres e Crianças no país Ostanina Alexandrovna.

As mães, que reconhecem estar “numa posição difícil e vulnerável neste momento”, afirmam que “apesar de todas as promessas de apoio do Estado o nível de vida está a diminuir”: “A pobreza bate à porta da grande maioria das famílias russas”.

“A ação militar é sempre um desastre, por mais que seja oficialmente convocada. É derramamento de sangue, violência, humilhação da dignidade humana, violação das liberdades e dos direitos humanos”, escrevem, acrescentando que estão “horrorizadas” com o que está a acontecer.

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“Somos contra a participação dos nossos filhos, irmãos, maridos ou pais nisto. Nós mesmas queremos participar – afinal, entre as mulheres há médicas passíveis de serviço militar”, dizem e apontam o dedo a Putin e à família: “Os seus familiares estão protegidos de forma confiável contra a participação em hostilidades. Você [Putin] não arrisca nada e não perde ninguém. Pelo contrário, nós todos os dias nos preocupamos com os nossos entes queridos, que são enviados à força para este moedor de carne.”

“O Estado encoraja-nos a dar à luz, mas depois lança-nos na pobreza ou sacrifica os nossos filhos às suas ambições”

Além do lado óbvio da perda de vidas em combate, na petição é possível ler-se um relato pouco comum daquilo que se vive na Rússia desde o início da invasão.  “Depois de 24 de fevereiro, a situação só piora. As sanções impostas pela operação militar na Ucrânia levam a um aumento da inflação e, no contexto da inflação, o capital da mãe e todos os apoios e subsídios, que mal chegavam, estão a desaparecer”, explicam as mulheres no texto da petição.

Com o conceito de “mãe-heroína” criado na Rússia para as mulheres que têm vários filhos, as autoras da petição notam que apenas depois do terceiro filho o estado apoia as famílias de forma a que possam viver “abaixo da linha da pobreza para as mulheres” e notam as insuficientes respostas do Estado russo no apoio às famílias.

“O enorme dinheiro gasto todos os dias em operações militares poderia ser investido no nosso bem-estar. Mas, em vez de novos jardins de infância, maternidades, escolas e hospitais, recebemos apenas conversas vazias sem fim na TV sobre nosso ‘sucesso’ e ‘grandeza'”, lamentam lembrando dados do Serviço Nacional de Estatística Russo, o Rosstat: “Quase uma em cada cinco crianças vive em famílias com rendimento médio abaixo do nível de subsistência por pessoa, ou seja, em situação de pobreza”.

“O Estado encoraja-nos a dar à luz, mas depois lança-nos na pobreza ou sacrifica os nossos filhos às suas ambições”, escrevem, lembrando que “pelo menos 318 mil homens já foram mobilizados” para o conflito, de acordo com os dados do próprio Kremlin. “Obviamente, o apoio a uma ação militar agressiva é incompatível com a proteção da família, mulheres e crianças. Hoje, no Dia da Mãe, pedimos que se lembrem do vosso dever e das promessas de campanha que fizeram aos eleitores, e usem toda a sua influência para acabar com as hostilidades o mais rápido possível e devolvam os nossos entes queridos a casa”, apelam as mulheres.