A Associação Empresarial da Região de Coimbra (NERC) alertou esta segunda-feira para o impacto negativo das obras do Sistema de Mobilidade do Mondego e defendeu apoio a comerciantes e empresários.

“Já não bastavam as consequências dos efeitos da pandemia Covid-19 e da guerra na Ucrânia, às quais se juntaram um galopante aumento de preços dos consumos intermédios, sobretudo dos combustíveis, mas não só, e em particular uma forte subida das taxas de juro, os comerciantes e empresários veem-se agora confrontados com fortes constrangimentos à sua atividade económica devido às obras que decorrem em vários locais da cidade de Coimbra”, afirmou a NERC num comunicado enviado à agência Lusa.

De acordo com a associação, os condicionamentos ou o corte de trânsito em diversas artérias, com consequências na fluidez da circulação automóvel e pedonal, têm “prejudicado sobremaneira lojistas e empresários”, que começaram a sentir uma “forte quebra na faturação”.

As diversas frentes de obras em curso, com particular incidência na Baixa da cidade de Coimbra e na zona da Solum, transformaram a cidade num “enorme estaleiro vivo”, causando “prejuízos diretos ao desenvolvimento do negócio de praticamente todos os comerciantes”.

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Considerando que o projeto do Sistema de Mobilidade do Mondego é da responsabilidade da Metro Mondego, uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, a NERC explicou que cabe ao Estado “disponibilizar mecanismos de apoio às atividades económicas que estão a ser prejudicadas pela execução e mau planeamento das obras do metropolitano ligeiro de superfície”.

Aliado a esta situação, existem “os maus exemplos das empreitadas a falharem constantemente os prazos e várias derrapagens nos diferentes concursos que vão trazer graves problemas a comerciantes e empresários desde a Lousã e Miranda do Corvo e com grande enfoque na zona urbana de Coimbra”.

A NERC relembrou o modelo de procedimento da empresa pública Metro do Porto, que, ao longo dos anos, “tem vindo a indemnizar centenas de comerciantes e empresas por prejuízos na atividade económica, causados pela construção de novas linhas do metropolitano ligeiro de superfície”.

A direção da NERC considerou que tanto a Câmara Municipal de Coimbra como a Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra devem estar “ao lado do tecido económico” e proceder ao levantamento dos comerciantes e empresas que se encontram em “situação vulnerável”

Já a Administração Central deve disponibilizar “canais de apoio financeiro ou espaços para a deslocalização temporária” de algumas atividades económicas.

“À medida que o tempo passa e as obras avançam, assistimos à morte lenta da atividade económica em Coimbra”.

Ligações do metrobus a Cantanhede e Condeixa-a-Nova são as que reúnem mais condições

Um estudo encomendado pela Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra para a expansão do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) concluiu que as ligações a Cantanhede e Condeixa-a-Nova são as que reúnem mais condições para serem implementadas.

O estudo realizado pelo consórcio OPT e Oval, a que a agência Lusa teve acesso, analisa possíveis extensões do SMM, que deverá entrar em funcionamento em 2024, servindo Coimbra, mas também com um troço que liga a capital de distrito a Miranda do Corvo e Lousã.

O documento avalia possíveis expansões a Cantanhede, Mealhada, Condeixa-a-Nova, Arganil, Góis e Penela, calculando custos, receitas, assim como a procura e impacto que cada linha poderia ter no distrito.

O documento, que será debatido esta segunda-feira na reunião da Câmara de Coimbra, concluiu que a ligação entre Coimbra e Cantanhede e entre Coimbra e Condeixa-a-Nova são aquelas que reúnem mais condições para serem implementadas.

No caso de Cantanhede, é ainda prevista uma ligação à Mealhada, aproveitando parte do antigo canal ferroviário do Ramal da Figueira da Foz, via Pampilhosa.

Caso se assegure a ligação entre Cantanhede e Mealhada, será possível ligar Coimbra-B àquele concelho do distrito de Aveiro por metrobus, mas a viagem irá sempre demorar 50 minutos, com transbordo em Cantanhede, algo que nunca poderá competir com uma ligação direta através de ferrovia, nota o estudo, considerando que não se pode “esperar a captação de utilizadores para esta ligação”.

A ligação entre Coimbra e Cantanhede teria uma extensão de 25,9 quilómetros, terminando na Zona Industrial de Cantanhede, sendo um traçado que acompanha, de um modo geral, as estradas nacionais 111-1 e 234-1.

Já na ligação para Condeixa-a-Nova, a única para já prevista no Plano Ferroviário Nacional, o estudo propõe uma travessia do Mondego através de uma nova ponte, servindo, ainda no concelho de Coimbra, o Fórum, a Escola Superior Agrária, o Hospital dos Covões, o Iparque e Cernache, entre outros locais, numa extensão de 17 quilómetros até ao concelho vizinho.

Face às conclusões do estudo, os serviços municipais de Coimbra propõem que em sede de revisão do Plano Diretor Municipal que fiquem já salvaguardadas reservas de solo necessárias para a execução do eixo Coimbra-Cantanhede e Coimbra-Condeixa-a-Nova.

O estudo refere também que, para 2030, considerado como o ano de estabilização da procura da primeira fase do SMM (sem qualquer extensão), haverá cerca de 54.923 passageiros por dia, no cenário mais pessimista, e 58.063 no cenário mais otimista, refletindo-se em 16,6 milhões de passageiros por ano.

No caso da ligação de Cantanhede, que terá uma duração de 26,7 minutos entre o centro daquele concelho e Coimbra-B (semelhante a uma viagem em viatura própria), a operação levaria a um aumento de cerca de 1.350 passageiros por dia, com quatro ligações por hora.

Já na possível extensão do SMM a sul, com ligação a Condeixa-a-Nova, estima-se uma procura diária adicional de cerca de 4.000 passageiros por dia, contribuindo também para isso as áreas cobertas no concelho de Coimbra.

Estima-se que esta ligação (entre o centro de Coimbra e Condeixa-a-Nova) tenha uma duração de 27 minutos (próxima do tempo que demora a deslocação em viatura própria em hora de ponta).

O documento aponta para a necessidade de investimento de 18,3 milhões de euros na ligação a Cantanhede (a extensão à Mealhada levaria a operação para um custo de 30 milhões de euros). Já a linha para Condeixa-a-Nova implicaria uma despesa de cerca de 38 milhões de euros.

De todas as extensões analisadas no documento, estas são aquelas que implicam menos investimento na sua infraestruturação e uma melhor relação entre custo e potencial receita da operação.

Quer uma, quer outra linha, apresentam também potencial de expansão, seja a sul indo para Soure ou Penela, quer a norte, com um prolongamento para Anadia, refere o estudo.

O estudo simula ainda a execução simultânea de todas as possíveis expansões do SMM analisadas, considerando que isso levaria a um aumento global de 10.800 passageiros diários do serviço (um aumento de 18% face à rede que deverá entrar em funcionamento em 2024).