Os alunos portugueses participam em vários estudos internacionais que avaliam aprendizagens e competências, mas as conclusões são pouco aproveitadas, segundo um estudo divulgado esta segunda-feira que recomenda que Portugal utilize melhor esses resultados e recomendações nas políticas de educação.

É uma das conclusões do estudo “Avaliação de aprendizagens em instituições educativas”, coordenado pelo antigo ministro da Educação Júlio Pedrosa, e divulgado esta segunda-feira pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Com o objetivo de avaliar as práticas de avaliação de aprendizagens das crianças e jovens dos 3 aos 18 anos, em Portugal, o estudo analisou o contexto português, comparando-o com o cenário de outros 10 países: Singapura, Estónia, Alemanha, Noruega, Finlândia, Suíça, Reino Unido, Canadá, Brasil e Estados Unidos.

Um dos aspetos sobre o qual versou a análise foi o papel das métricas globais de avaliação, que os autores consideram úteis, mas apenas se utilizadas de forma complementar às que existem nos sistemas nacionais de avaliação.

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Em Portugal, além das componentes de avaliação formativa (autoavaliações, diagnóstico e provas de aferição) e da avaliação sumativa (testes e exames nacionais), os alunos participam também num conjunto de estudos internacionais, como o PISA, promovido pela OCDE, o TIMSS, que avalia a literacia matemática e científica, ou o PIRLS, que olha para a leitura.

Ainda assim, os autores referem que a utilização dos dados e das recomendações fornecidos pelos resultados dos alunos “é ainda relativamente escassa” e consideram que existe “potencial para rentabilizar o investimento inerente a essa participação”.

Uma das 10 recomendações apontadas no estudo incide, precisamente, sobre esse tema e os especialistas propõem que Portugal estruture uma iniciativa de avaliação do seu envolvimento nesses estudos, sobretudo quanto à forma como os resultados são usados.

O documento refere também que, em Portugal, o peso dos exames nacionais para a transição para o ensino superior constituem “um “travão” ao recurso a práticas de avaliação formativa que valorizem aprendizagens para além dos conteúdos relacionados com o saber já existente.

Por outro lado, as classificações no pré-escolar são frequentemente apoiadas por aquilo que os autores descrevem como checklists estandardizadas. Neste nível de ensino, no entanto, o objetivo da avaliação deve ser contribuir para melhorar os processos de ensino-aprendizagem, e não classificar.

Uma avaliação neste período de desenvolvimento da criança (…) deverá ter uma orientação eminentemente formativa”, refere o estudo.

Os autores apontam ainda outros dois aspetos que devem merecer atenção da tutela: o reduzido número de estudantes do ensino profissional que segue para o superior e o desfasamento entre a idade esperada e a idade real média dos alunos em alguns níveis da escolaridade obrigatória, que “indica percursos escolares marcados por retenções e pelo risco de abandono escolar”.

Entre as recomendações apresentadas no relatório, é destacado o potencial de alguns casos internacionais, como aqueles analisados no estudo, e dos contributos de agências com intervenção na área da avaliação educacional, como a UNESCO ou a OCDE.

Os especialistas sugerem também o planeamento e acompanhamento de práticas de avaliação nas escolas que promovam a articulação entre as avaliações formativas e sumativas, além da implementação de um Plano Nacional de Avaliação de Aprendizagens, orientado no mesmo sentido.

No que respeita aos professores e educadores, deve ser assegurada formação inicial e continua que incida no tema da avaliação de aprendizagens, bem como apoios tutoriais em iniciativas de formação.