Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

É assim nas bancadas, é assim em campo, é assim também nas conferências. Há seleções e seleções, depois há Argentina. Comecemos pelo fim, para explicar como nunca é apenas “normal” nos albicelestes: após sair da cadeira da sala de conferências 1 do Media Centre do Mundial, o treinador Lionel Scaloni viu logo vários jornalistas a descerem a escadas para tentar um cumprimento, um autógrafo ou uma fotografia. Mas havia mais do que isso e um outro jornalista entregou ao técnico duas molduras com fotografias dos tempos em que era ainda jogador. A certa altura, um segurança teve mesmo de afastar os presentes para que o número 1 argentino conseguisse deixar a sala perante as solicitações. Não há nada que envolva a equipa que não traga por arrasto pelo menos mais uma história, com umas pitadas de humor pelo meio a arrancar gargalhadas da plateia (da primeira vez, quando Messi foi o escolhido, foram mesmo aplausos e três vezes…).

Lisandro Martínez, central que trocou este verão o Ajax pelo Manchester United, foi o primeiro a falar sem ter o treinador ao lado como é habitual nestes momentos. A entrada na sala foi com cara fechada, a mesma cara que levava quando passou na zona mista do último encontro que terminou com a vitória com o México. E foi por aí que começou a falar, a propósito desse mal estar sentido. “Olá, que tal, tudo bem?”, começou por dizer, quebrando aquela feição de gladiador aborrecido com que entrara. “Não, não tenho nenhuma lesão. Estava desconfortável, se calhar como o jogo foi tarde era só fome e queria comer depois de um jogo intenso”, contou sem conter também os sorrisos antes de analisar o encontro frente à Polónia.

“Não sei ainda a equipa, não sei se vou ser titular. A Polónia é uma equipa difícil, sólida e com jogadores importantes como o Lewandowski mas teremos de continuar a fazer o nosso trabalho. O último encontro também era decisivo, também tínhamos de ganhar e a equipa deu uma boa resposta. Se devíamos ter mais intensidade de jogo como nas últimas competições? Mesmo sendo grandes provas, não se pode comparar a Copa América e a Finalíssima com um jogo de Mundial. São circunstâncias próprias mas podemos dar muito mais, ainda não chegámos ao ponto do que conseguimos fazer”, salientou, ao mesmo tempo que se mostrou confortável a jogar em qualquer sistema, entre os dois centrais e a linha de três.

Depois, Lisandro foi falando de outros temas mais à margem, dos conselhos que dá aos mais novos para fazerem um trajeto como o seu à simbiose existente entre equipa e adeptos. “Nós somos mesmo assim, não fazemos nada para as câmaras. Somos apaixonados, somos unidos e é isso que caracteriza os argentinos e fez gerar este amor mútuo lindo. Estamos a aproveitar, a desfrutar e essa é a motivação. Conselhos? Ganhar hábitos, seguir os bons exemplos dos mais experientes: saber ouvir, ter humildade, aprender com os outros, não pensar que sabemos tudo porque é um erro, ter disciplina, ser uma boa pessoa, ter valores humanos e ajudar o companheiro porque se ele melhora, tudo à volta melhora”, referiu.

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“Temos que estar tranquilos, não é preciso estar a carregar-nos com mais pressão. Estamos a fazer as coisas bem feitas e continuar a trabalhar da mesma maneira. Há estreantes no Mundial mas é ótimo ter essa responsabilidade. É um orgulho vestir esta camisola. É nas derrotas que mais se aprende, às vezes quando ganhas não consegues ver algumas coisas. Este grupo ficou fortalecido, está mais preparado e essa foi a parte boa que se retirou da derrota”, completou, perguntando ao assessor se tinha respondido bem tendo em conta que foi a única questão em inglês. “Isto de estar sempre a falar outra coisa…”, acrescentou, sem que se chegasse à possibilidade de questionar sobre Otamendi, Enzo Fernández e também… Ronaldo.

Seguiu-se Lionel Scaloni, que a meio da sua conferência também teve essa questão com o inglês quando uma pergunta foi feita, esqueceu-se de colocar os phones mas disse logo “Entendi tudo, sem nada”, salientou. Já sobre Enzo Fernández, médio do Benfica que marcou ao México, nenhuma pista sobre a titularidade.

“Não temos mais pressão, se vocês repararem há duas ou três equipas já qualificadas para os oitavos e as outras terão de decidir isso nesta última jornada. Enzo? Tem possibilidades de jogar tal como os outros. Entrou bem nos dois jogos que fez, é uma das opções que temos. Continuo a pensar e a dizer que todos os futebolistas têm de estar preparados para qualquer cenário entre ser titular ou começar no banco, sendo que às vezes também se pode fazer mais a diferença. Ausência de Dybala? É só uma opção técnica, ele está bem porque ganhou mas claro que prefere jogar. Vamos ver o que acontece agora”, salientou, antes de recusar qualquer comparação entre Lionel Messi e Lewandowski, porque se tem apenas de “desfrutar”.

“O que estou a achar do Brasil? Estou contente por eles, claro, são sul-americanos. Quem pense o contrário está equivocado. Estão a fazer um bom trabalho e dou os parabéns por isso. Evitar França nos oitavos? Não, primeiro temos é de passar aos oitavos, depois logo veremos quem nos toca”, terminou.