Para conseguirmos afirmar que as PME Inovadoras são as empresas mais competitivas do país, entrevistámos Jorge Portugal, que acompanha a Inovação das empresas portuguesas há mais de 20 anos. Diretor-geral da COTEC-Portugal, Associação Empresarial para a Inovação, desde 2016, explica-nos em entrevista o que é uma PME inovadora e como o ecossistema da inovação está a transformar Portugal. Tudo poderia resumir-se a uma expressão: competitividade nos mercados globais. Mas há muito mais a dizer sobre o que a Inovação nas PME está a provocar na economia e como Portugal consegue estar muito mais perto da Europa, em termos de inovação e competitividade empresarial, do que pensamos. Pelo menos, até lermos este artigo-entrevista.

De Portugal para o Mundo

A Inovação das PME está a atrair e a reter talento em Portugal. Face ao tanto que se fala na impossibilidade de reter no país os melhores estudantes e os melhores profissionais, é preciso falar também nas PME localizadas fora dos centros urbanos ou do litoral que, graças à sua capacidade de inovar, mantêm um quadro de colaboradores estável. E que, assim, permite criar nessas empresas uma cultura de inovação que implica entusiasmo e paixão, ingredientes que marcam presença onde quer que se produza Inovação. Hoje, Braga, Viseu, Aveiro, Leiria, Covilhã, Alentejo, Algarve, são zonas onde existe Inovação empresarial. Porque há empresas sedeadas por todas essas zonas, não necessariamente nas capitais de Distrito, que desafiam os seus quadros a serem melhores, a procurarem soluções para os problemas dos clientes antes mesmo de estes os identificarem. E a abraçarem desafios todos os dias, sabendo que serão bem remunerados e que a Inovação que criam está devidamente apoiada pelo sistema científico, tecnológico e educativo.

Nunca foi tão necessário ter pessoas qualificadas nas empresas, e já temos infraestruturas que permitem fixar esse talento em qualquer lugar do país”, Jorge Portugal

Talento precisa-se

“A Inovação não se faz de um dia para o outro. Há produtos e serviços que estão agora a ser pensados e só passarão à prática no final da década”, realça Jorge Portugal. Para isso, obviamente, é preciso investir no talento. E, neste aspeto, Portugal está efetivamente em transformação, no sentido de ter as condições ideais.”Eu julgo que criar as condições para atrair e reter talento em Portugal deve ser uma meta das empresas e dos governos. A mudança está em curso. Nós vemos, nas PME Inovadoras, uma dinâmica que está a permitir criar as condições de fixar talento em Portugal e a prova é que estas empresas inovadoras estão a fixá-lo. Percebemos que, num primeiro momento, os jovens gostam de ir lá para fora. E esta ideia não tem problema nenhum, uns irão e outros ficarão cá. Mas é preciso ter uma ligação permanente com o talento que nasce e cresce em Portugal e criar a percepção nestas pessoas de que, quando quiserem voltar, há condições em Portugal para continuarem a sua carreira, com as mesmas condições de reconhecimento, de satisfação e de desenvolvimento pessoal que teriam no estrangeiro. Nós vemos esta dinâmica empresarial nas PME inovadoras, com a vantagem acrescida de estarem instaladas por todo o país que, ainda por cima, oferece uma qualidade de vida insuperável, e o jovem de hoje privilegia o equilíbrio entre a vida pessoal e a carreira”, diz o diretor-geral da COTEC. E acrescenta ainda que “Nunca foi tão necessário ter pessoas qualificadas nas empresas, e já temos infraestruturas que permitem fixar esse talento em qualquer lugar do país: as boas estradas, a ferrovia, etc.. Não é por acaso que o Encontro PME Inovação deste ano vai ter lugar no Porto de Leixões que é um bom exemplo desta mudança em termos de infraestruturas, ao unir transporte marítimo, ferrovia e rodovia.”

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12.º Encontro PME Inovação

Enquanto diretor-geral da COTEC, Jorge Portugal é o primeiro a afirmar que “estas empresas, a que chamamos PME, mas que, efetivamente, crescem, competem e afirmam-se nos mercados, estão integradas na economia global, na economia das exportações, no valor acrescentado e na possibilidade de manter em Portugal um núcleo de produção de valor acrescentado e, mais do que isso, de manter em Portugal uma economia saudável.” E para quem tem dúvidas, o Diretor Geral da COTEC, gestor, que detém  um doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico, no domínio da modelação físico-matemática, lembra que o 12º Encontro PME Inovação vai mostrar esta realidade na prática e através dos lideres das empresas que já mereceram, em anos anteriores, o estatuto de PME Inovadora, atribuído pela COTEC. É já amanhã, dia 30 de Novembro, no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões. Ainda está a tempo de se inscrever, de ouvir na primeira pessoa como a Inovação está a tornar Portugal num país globalmente competitivo e de assistir à entrega do prémio PME Inovação deste ano.

Prémio PME Inovação

O Prémio PME Inovação 2022, tem como finalistas seis empresas que pode conhecer aqui e distingue as PME que, a partir de Portugal, conquistam mercados em todo o mundo através da Inovação. Neste âmbito, é o prémio com maior tradição e existe desde 2006. Tem distinguido empresas de todos os setores que depois da distinção, mantiveram os seus ciclos de crescimento. Muitas são hoje empresas robustas ou passaram a midcaps.

Para a atribuição do Prémio PME Inovação COTEC-BPI, a COTEC identifica os traços que fazem uma empresa crescer. “Em alguns casos demos o prémio no início da trajetória, noutros demos a meio da trajetória e noutros consagrámos, digamos, o fim da trajetória. Identificamos as empresas em vários momentos.

Um dos efeitos do Prémio PME Inovação é o interesse dos Bancos. Que hoje não procuram saber apenas sobre o património ou as folhas de balanço, mas analisam os projetos de inovação, os mercados que as empresas pretendem atingir e, para quem uma distinção como a do Prémio PME Inovação pode ser um ponto positivo na aprovação de financiamentos. Outro efeito também importante  é a autoestima que as leva a mostrar o que, em termos de Inovação, estão a fazer, como o fazem e de que forma isso tem feito a empresa crescer. “Isto é completamente contracultura”, diz Jorge Portugal. E acrescenta que “as empresas grandes têm dificuldade nesta abertura mas, quando uma PME se sente reconhecida pela COTEC, abre-se a mostrar o que está a fazer, e isso faz com que outras empresas vejam que é possível e se deixem contagiar. Pensam ‘eles fizeram assim, nós também podemos fazer’. E este efeito, que é muito contra a cultura portuguesa, acontece. Por isso, no dia 30 [amanhã] vamos, com orgulho indisfarçável, ter três CEO a partilhar e a dizer qual é a fórmula de sucesso.

Se do lado das empresas a ambição, a emoção e as competências forem sucessivamente aplicadas, então vamos juntar mais empresas às que já temos e continuam a ser cada vez melhores”

Em Contra-Ciclo

Revelar, com orgulho indisfarçável, qual é a sua fórmula de sucesso pode ser uma ousada novidade na cultura das empresas mas o facto é que a Inovação é transformadora. E as empresas inovadoras vivem, por assim dizer, em contra-ciclo. Os desafios abraçam-se e as crises enfrentam-se. Nem por acaso, este 12.º Encontro PME Inovação intitula-se “Em Contra-Ciclo”. “É um quadro mental diferente”, explica o diretor-geral da COTEC. “Tem muito a ver com a ideia de que, se do lado das empresas a ambição, a emoção e as competências forem sucessivamente aplicadas, então vamos juntar mais empresas às que já temos e continuam a ser cada vez melhores. E do ponto de vista do contexto, se o sistema científico e o sistema de educação também responderem, passamos a ter um ecossistema profícuo e de alta vitalidade”.

O ecossistema da Inovação

O ecossistema profícuo e de alta vitalidade que Jorge Portugal refere é criado, sobretudo, através de uma interação permanente entre as empresas, os seus clientes, os seus fornecedores, e o sistema científico e educativo. E, como explica o gestor, no topo da hierarquia deste ecossistema, têm de estar os clientes. “A Inovação tem o seu ecossistema que requer, primeiro, uma interação permanente com os clientes, porque é preciso conhecê-los de perto por forma a identificar as suas necessidades; depois, com os fornecedores, que são os parceiros que, complementam a operacionalização levando à prática; e com um terceiro interveniente, que são as instituições de conhecimento cientifico, ou seja, os Centros de Investigação. Esta relação com o sistema científico e tecnológico traz às empresas o conhecimento que lhes permite resolver os problemas e criar soluções inovadoras, sejam produtos ou serviços, com os pés bem assentes na terra”, revela Jorge Portugal, reforçando que uma PME inovadora mantém um compromisso inabalável com as suas condições de crescimento. Sabe que quer crescer e sabe que, entre cada ciclo de negócio, uma parte do seu modelo produtivo tem de ser revisto e repensado no sentido de conseguir mais eficiência, menores custos e maior utilidade para o cliente.

A fórmula do sucesso

Ao assegurar que este ecossistema se encontra sólido, uma PME pode resolver os problemas dos seus clientes, criar produtos e serviços com margens altas e, assim, manter o crescimento em ciclos sucessivos sem ser afetada pela concorrência. O resultado, como diz Jorge Portugal, é que “estas empresas têm um orgulho muito grande em dizer que exportam 95% da produção feita em casa, o que corresponde a margens de rentabilidade muito significativas. É o essencial para, num ciclo virtuoso, continuarem a investir em Inovação, que requer tempo para ser pensada e passada à prática. Ora, se é preciso investir ao longo de muito tempo há que libertar margens. Caso contrário, o ciclo virtuoso interrompe-se. Há que investir continuamente em conhecimento, talento, equipamento e tecnologia de vanguarda. Num certo aspeto estas empresas assumem a ideia de capital intensivo que, hoje, é físico e intelectual. Eu diria que esta é a fórmula: uma empresa tem soluções de maior valor acrescentado, consegue margens mais altas, assegura a continuidade do investimento em talento, remunera melhor os seus colaboradores, atrai mais talento, chega a soluções ainda melhores, e por aí fora. Porque a Inovação também se faz com ousadia e paixão”.

Uma designação redutora

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Por PME, entende-se uma Pequena e Média Empresa, e esta escala explica-se por empresas que empregam menos de 250 pessoas e cujo volume de negócios anual não excede 50 milhões de euros, ou cujo balanço total anual é igual ou menor a 43 milhões de euros. No entanto, para a COTEC, esta designação é meramente administrativa e, até, redutora. Como diz o seu diretor-geral, “reduzir a empresa a uma designação administrativa de escala, volume de negócios ou dimensão de trabalhadores, não demonstra verdadeiramente a capacidade competitiva da empresa. Existem PME que podemos considerar grandes empresas, pois trabalham com estratégias muito claras, plurianuais, com clientes altamente exigentes, posicionamentos no mercado e know how muito diferenciadores e competitivos. No entanto, nao são grandes empresas do ponto de vista administrativo. É importante percebermos que, quando falamos de PME, devemos considerar o facto de terem as estratégias certas, a liderança adequada, a cultura de inovação, a capacidade de investimento e a coragem para conquistar os melhores clientes e abraçar os desafios dos mercados mais exigentes e de maior valor”.

O desafio que falta

Para Portugal ser um país claramente capaz de atrair talento, produzir inovação de forma consistente e ganhar os mercados globais, ainda há caminho a fazer. A COTEC vem criando terreno para que isso aconteça. Através de um inquérito realizado no princípio deste ano, a organização quis saber o que fazis os seus associados estarem nesta rede. A principal razão apontada foi o estar dentro da agenda – ou da dinâmica – da Inovação. Ao disponibilizar informação, instrumentos de aprendizagem e trazer para perto dos líderes a ciência da Inovação, a COTEC estimula o ecossistema. E, como explicamos atrás, a fórmula já existe e é simples. “Já existe no país um plano para a ciência, para o ambiente, para a sustentabilidade… Agora temos de dar foco à Inovação. E, na verdade, esse plano já existe, não é preciso contratar um exército de consultores e estar 6 meses a pensar. Porque a fórmula de sucesso nós já temos. Já sabemos qual, temos de a alargar para haver um efeito estrutural”, diz Jorge Portugal.

E como isso se fará? A resposta é clara: “As universidades e a educação têm de se recentrar nas empresas e as empresas devem passar a considerar que, por outro lado, uma parte da formação tem de ser feita em contexto de empresarial, em chão de fábrica. É preciso implementar este alinhamento entre os empresários e dos empresários com o contexto das universidades e dos politécnicos. Temos os ingredientes todos, só precisamos dos incentivos, dos instrumentos de financiamento. E, ainda nesta década, o Portugal 2030 e o Plano de Recuperação e Resiliência vão praticamente duplicar os recursos que tivemos no ciclo anterior dedicados às empresas. Poderemos convergir ao nível da Europa, se formos capazes, nas empresas, de transformar todo este investimento em produtos e serviços de mercado. Esse é o grande desafio.”