Os deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias chumbaram esta quarta-feira um requerimento apresentado pelo Chega para a audição do ex-secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves.

O requerimento foi chumbado com os votos contra do PS, abstenção do PCP, Bloco de Esquerda, Livre e Iniciativa Liberal e votos favoráveis do PSD e do Chega.

No debate que antecedeu a votação do requerimento, o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, considerou que seria “extremamente importante” que Miguel Alves fosse ouvido no Parlamento, uma vez que estava “arguido em dois processos judiciais” e estava a ser “alegadamente investigado por factos cometidos no período temporal em que foi presidente da Câmara de Caminha”.

Todos os detalhes da acusação a Miguel Alves

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“São factos extremamente importantes porque foi membro do Governo, foi secretário de Estado importante no aparelho do PS e no aparelho de António Costa, e achamos que é extremamente importante ouvi-lo aqui nesta primeira comissão, apesar de já ter saído do Governo“, disse.

Intervindo depois de Pedro Pinto, a deputada do PS Joana Sá Pereira lembrou que Miguel Alves já cessou funções – “e, portanto, não responde por um exercício de funções que já não tem” – e considerou que o requerimento do Chega é “uma contradição“, uma vez que aborda as investigações de que está a ser alvo Miguel Alves no período em que era autarca de Caminha.

“Não cabe à Assembleia da República escrutinar e fiscalizar a atividade política de um ex-secretário de Estado de factos que alegadamente praticou enquanto autarca. Mal andaria este Parlamento! Aliás, deitaria para o caixote do lixo princípios e regras democráticas absolutamente essenciais”, sublinhou.

Acusando o Chega de precisar “deste tipo de cenários e de teatros políticos para ter algum mediatismo”, Joana Sá Pereira ironizou ainda que, “com a apresentação do requerimento por parte do senhor deputado Pedro Pinto, dispensaríamos a existência de tribunais enquanto órgãos importantes em qualquer estado de direito democrático”.

“O senhor deputado, e o seu grupo parlamentar, já fez o julgamento, já fez o juízo, e se calhar até já tem a pena adequada para o senhor ex-secretário de Estado Miguel Alves“, ironizou.

Joana Sá Pereira sustentou que “a Assembleia da República, enquanto órgão de soberania, tem uma obrigação absolutamente basilar de respeitar o funcionamento das outras instituições democrática”, argumentando que se fizesse considerações sobre investigações ou processos judiciais em curso incorreria na “violação mais basilar” dessas regras.

“Digo-lhe até que é atirar para o caixote do lixo tudo aquilo que o 25 de Abril nos trouxe e que é absolutamente importante, mais importante até nos dias deste dia. (…) O Chega gosta de fazer este tipo de política e alimenta-se deste tipo de política. Enfim, dá o contributo que dá à democracia, mas por nós não passarão”, disse.

Na resposta, Pedro Pinto disse que, após as declarações de Joana Sá Pereira, ficou “tudo explicado”.

“Está tudo explicado: porque é os partidos políticos são todos iguais, porque é que ninguém quer combater a corrupção, porque é que têm dificuldades em falar em corrupção. E eu digo que esta é a postura política do Chega, e que muito nos orgulha, acreditem que muito nos orgulha”, disse.

O líder parlamentar do Chega acrescentou ainda que o 25 de abril também trouxe “política séria, liberdade de expressão” e liberdade para os partidos apresentarem requerimentos.

“A liberdade não existe só para a esquerda, só para a direita, nem só para o PS, nem só para o PSD: existe para todos os partidos políticos que estão aqui representados com o voto do povo. E essa liberdade também nos permite apresentarmos este requerimento. Se a senhora deputada Joana Sá Pereira não gostou, olhe, temos pena”, afirmou.

Em 10 de novembro, o Presidente da República aceitou a exoneração do secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, proposta pelo chefe do Governo, António Costa, depois de Miguel Alves lhe apresentar uma carta de demissão.

Miguel Alves pediu demissão e Costa aceitou. “Não estão reunidas condições para permanecer no Governo”

“Face à acusação deduzida pelo Ministério Público, e mesmo não tendo conhecimento dos seus termos e pressupostos, entendo não estarem reunidas as condições que permitam a minha permanência no Governo de Portugal“, justificou o governante na sua carta de demissão, divulgada pelo gabinete do primeiro-ministro.

Miguel Alves menciona que a acusação pelo Ministério Público, noticiada nesse mesmo dia pelo jornal Observador, foi confirmada pela procuradora-geral da República, Lucília Gago, após contacto da ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, e se refere “a factos ocorridos nos anos de 2015 e 2016” quando era presidente da Câmara Municipal de Caminha, no distrito de Viana do Castelo.

PS chumba audições de Mariana Vieira da Silva e Pedro Nuno Santos

Paralelamente, os deputados socialistas chumbaram os requerimentos para audição parlamentar da ministra da Presidência, sobre a eficácia das medidas de combate à pandemia, e do ministro das Infraestruturas, sobre a multa aplicada pelos EUA à TAP.

Em causa está o requerimento apresentado pelo grupo parlamentar do PSD para audição de Mariana Vieira da Silva sobre a eficácia das medidas de combate à pandemia, na sequência das falhas apontadas pelo Tribunal de Contas, votado e chumbado esta quarta-feira na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação.

Foi também chumbado o pedido do Chega para “audição urgente do ministro das Infraestruturas e Habitação, da CEO [presidente executiva] da TAP, Christine Ourmières-Widener, e do presidente do Conselho de Administração da ANA Aeroportos, José Luis Arnaut”, sobre a multa de cerca de 550.000 euros aplicada à TAP pelo Departamento de Transportes dos EUA (DoT), por atraso nos reembolsos a clientes no valor de 122 milhões de euros.

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Foi igualmente chumbado outro requerimento do Chega, para “audição urgente da presidente da Comissão Executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, e do presidente da Companhia Aérea White, José Miguel Costa”, na sequência do fim do contrato de prestação de serviços.

Adicionalmente, aquela comissão aprovou por unanimidade o requerimento do grupo parlamentar do PSD, para audição do ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, sobre a reprivatização da Efacec.

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