Para celebrar o já garantido apuramento para os oitavos de final, a França quis entrar numa festa que tinha dress code. Por lapso ou risco calculado, os gauleses deixaram o fato de gala em casa e vestiram o fato de treino. À partida, seria uma opção mais prática. Na realidade, ajudou à demonstração de um estilo sem glamour. A prova de que os franceses não sabiam das regras do evento foi a indumentária que escolheram para um encontro que, para a Tunísia, não era só diversão.

As mudanças no onze eram expectáveis, mas as adaptações de alguns jogadores a determinadas posições comprometeu o outfit. A seleção de Didier Deschamps utilizou um 4-4-2 com Guendouzi e Youssouf Fofana a jogarem como falsos extremos e, na frente, Coman e Kolo Muani com liberdade de movimentação, sendo que, em várias ocasiões, caírem nas alas. Sem laterais com grande rotação ofensiva, visto tratarem-se de adaptações – Axel Disasi fez o papel pela direita e Camavinga pela esquerda -, a França não conseguiu abrir o campo nos momentos de posse, afunilando o jogo no meio, o que facilitou a vida à defesa, pois a Tunísia não tinha que bascular o bloco defensivo de um lado ao outro do campo.

A surpresa chegou rápido, como um presente que não vem embrulhado, e, por isso, o recetor da gentileza demora pouco a perceber o objeto com que foi brindado. O VAR anulou o golo da Tunísia (8′) por ter apanhado Ghandri em fora de jogo. A partida estava rápida e os tunisinos não só igualaram a intensidade francesa como a superaram muitas vezes. Os gauleses perdiam a bola com muita facilidade e eram apanhados desposicionados facilmente.

A história entre os dois países esteve bastante presente no jogo. Aliás, este era um duelo ansiado pelos jogadores da seleção africana por tudo o que representa. A França, outrora colonizadora da Tunísia, viu os papéis de poder invertidos. O tunisinos foram superiores e, até no golo, a relação entre os países se fez sentir. Khazri (58′), que também tem nacionalidade francesa, conduziu a bola contra o mundo e marcou.

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A França teve muitas dificuldades em conseguir situações de finalização e, até à entrada dos craques da equipa, composta por Mbappé, Griezmann e Dembélé, os gauleses não tinham conseguido nenhum remate enquadrado. Só aos 90 minutos, os franceses conseguiram o primeiro lance de maior perigo com Kolo Muani a rematar mesmo junto ao poste. Seguiram-se momentos de frustração para a Tunísia. O Austrália-Dinamarca já tinha terminado e os tunisinos sabiam que estavam eliminados independentemente do resultado que obtivessem. Para piorar, Griezmann (90+8′) empatou a partida, embora o VAR tenha anulado o golo por posição irregular e confirmado a vitória da Tunísia por 1-0.

A pérola

  • O melhor jogador da Tunísia, Wahbi  Khazri, fez uso do estatuto e deu um passe em frente para ajudar a equipa no auge das suas capacidades. Devido a problemas físicos que quase comprometiam a presença do jogador do Montpellier no Mundial, foi titular pela primeira vez nesta competição diante da França, jogando na frente, viu-se o que se perdeu nos minutos ausência de Khazri nos jogos anteriores.

O joker

  • O Mundial deu a conhecer um jogador que atua um pouco longe dos holofotes dos grandes palcos europeus. Aissa Laidouni joga no Ferencváros, mas demonstra qualidades para subir de nível. O médio demonstra um alcance territorial bastante grande e demonstra que uma capacidade de definição através do passe superlativa.

A sentença

  • A França já não precisava de nada deste jogo. Os oitavos de final eram já uma realidade para os franceses. A Tunísia alimentava a esperança de seguir em frente, mas não dependia de si. O certo é que tinha obrigatoriamente que vencer a França e esse pressuposto foi cumprido. As notícias vindas do Austrália-Dinamarca não eram boas. Deste modo, os tunisinos ficaram de fora do campeonato. As contas do grupo D fecharam com a França em primeiro lugar, a Austrália em segundo, a Tunísia em terceiro e a Dinamarca em último.

A mentira

  • Colocar onze homens em campo com muita qualidade não é sinónimo de que possam render em simultâneo. As características dos jogadores nem sempre são conciliáveis. Sem óleo, a engrenagem pode não funcionar e a França sofreu com o problema. Uma experiência a não repetir.