O apito final do Irão-EUA que determinou a eliminação dos persas do Campeonato do Mundo do Qatar provocou reações diferentes aos milhões de iranianos. Num país a viver um momento interno muito conturbado e tenso – a morte de uma jovem pela polícia da moral tem levado milhares de pessoas para as ruas a contestar o regime de Teerão-, houve quem ficasse triste com o regresso a casa do Irão sem passar a fase de grupos, mas também quem considerasse que era motivo para celebrar por defender que a seleção representa a autoridade opressora.

Neste último grupo inseria-se Mehran Samak, de 27 anos, morto a tiro após buzinar em Bandar Anzali, uma cidade na costa do Mar Cáspio a noroeste de Teerão, onde, segundo grupos de direitos humanos, esteve a festejar o afastamento da equipa treinada (até esta terça-feira) treinada por Carlos Queiroz. A notícia foi avançada pelo  grupo Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo. Samak “foi baleado na cabeça pelas forças de segurança após a derrota da seleção no jogo contra os EUA”, revelou a organização, citada pela AFP.

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Também o Centro de Direitos Humanos no Irão (CHRI), com sede em Nova Iorque, anunciou a morte do jovem enquanto comemorava a derrota iraniana. O CHRI publicou, no Twitter, um vídeo do funeral de Mehran Samak, esta quarta-feira, no qual é possível ouvir “morte ao ditador”.

Este é um dos gritos mais ouvidos nas ruas do Irão desde que um amplo movimento de protestos começou a 16 de setembro em reação à morte de uma curda iraniana de 22 anos, que morreu depois de ter sido detida pela polícia da moral, responsável por fazer cumprir o rígido código de vestuário imposto às mulheres na República Islâmica. Amini infringiu o código, porque, apesar de envergar o hijab (véu islâmico), este deixava à vista parte do seu cabelo, e foi transportada já em coma para um hospital, onde morreria três dias depois.

Há dois meses que os iranianos saem às ruas numa onda manifestações sem precedentes no país desde a Revolução Islâmica, em 1979, que instaurou o atual regime teocrático. Desde 16 de setembro, pelo menos 426 pessoas foram mortas e mais de 17.400 foram detidas, segundo a organização não-governamental (ONG) Human Rights Activists in Iran, que tem estado a monitorizar a contestação social.