O advogado de um dos sete militares da GNR que começaram a ser julgados esta quarta-feira por sequestro e agressão a imigrantes em Odemira disse que espera a absolvição do seu cliente, alegando que este não participou nos maus-tratos.

Em declarações aos jornalistas, Luís Cruz Campos, advogado do militar da GNR João Lopes, afirmou que “não há provas” de que o seu cliente tenha participado nos casos de sequestro e agressões registados em vídeo que estão a ser julgados.

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Segundo o advogado, o arguido João Lopes “não aparece em qualquer imagem“, mas foi acusado pelo Ministério Público (MP) e está a ser julgado porque “houve um reconhecimento de voz por parte do comandante de posto”.

“Espero fazer prova de que a voz não é dele, é fácil de ver, e que ele saia absolvido”, adiantou.

O Tribunal de Beja começou a julgar os sete militares da GNR acusados pelo MP de um total de 33 crimes contra imigrantes em Odemira, como sequestro e agressão, em casos ocorridos em 2018 e 2019.

João Lopes foi o único dos sete militares da GNR que estão a ser julgados que se apresentou na primeira sessão do julgamento com farda da Guarda.

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Questionado pelos jornalistas, o advogado Luís Cruz Campos indicou que o seu cliente não prestou esta manhã declarações perante o coletivo de juízes que está a julgar o caso porque “não é o momento certo“.

“Vamos analisar corretamente o que vai suceder” durante o julgamento e, depois, “tomar a decisão se presta ou não declarações”, referiu.

Manifestando “tristeza” em relação aos factos que estão a ser julgados, o advogado considerou que “a GNR merece mais” e que “é triste para um país, com uma democracia com cerca de 50 anos, que existam comportamentos como aqueles que se vêem nos vídeos”.

“A censura que faço é porque, realmente, o censuro como pessoa e como advogado”, acrescentou.

O militar da GNR João Lopes já tinha sido condenado no processo que deu origem a este, com uma pena suspensa de cinco anos de prisão e, como pena acessória, a dois anos e seis meses de proibição de exercício de funções.

O processo anterior, envolvendo sequestro, violação de domicílio e agressões a imigrantes em Odemira, foi julgado em 2020 por um coletivo de juízes no Tribunal de Beja.

O novo processo teve origem quando a Polícia Judiciária apreendeu os telemóveis de cinco militares suspeitos de maus-tratos a imigrantes em Odemira, tendo encontrado vídeos e imagens.

Este processo, segundo a acusação do MP, envolve quatro casos de sequestro e agressão de imigrantes por militares da GNR, então colocados no Posto Territorial de Vila Nova de Milfontes, em Odemira (Beja), ocorridos entre setembro de 2018 e março de 2019.

No despacho de acusação, de 10 de novembro de 2021, o MP referiu que os arguidos, “agiram em manifesto ódio” pelas vítimas, “claramente dirigido” às nacionalidades dos imigrantes, da região do Indostão.