Dirigentes agrícolas de Portugal e de Espanha reclamaram esta quinta-feira mais ajudas da União Europeia para a produção pecuária extensiva, praticada no ecossistema do montado ou ‘dehesa’, por ir ao encontro das metas ambientais e sustentáveis europeias.

Num congresso em Cáceres, na Estremadura espanhola, o presidente da ACOS — Associação de Agricultores do Sul, Rui Garrido, lembrou que vem aí uma nova Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia (UE), mas “ainda com muitas incertezas”.

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“E já com muitas vozes a considerarem” que o novo quadro comunitário de apoio está “desatualizado face às contingências provocadas pela pandemia e pela guerra”, disse, ao intervir no III Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva e Desenvolvimento Rural, a decorrer até sexta-feira.

“Uma coisa é certa”, pelo menos para Portugal, de acordo com o presidente da ACOS, sediada em Beja: “Os produtores pecuários portugueses irão receber menos ajudas do que no quadro comunitário anterior. Isso é certo”.

Questionado pela agência Lusa, à margem do congresso, Ángel Pacheco, presidente das Cooperativas Agroalimentarias de Extremadura, frisou que esta região e a do Alentejo, onde existe a ‘dehesa’/montado, estão separados por “uma fronteira fictícia” e têm “a mesma problemática e as mesmas oportunidades”.

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“Temos a oportunidade de demonstrar que a pecuária extensiva”, com o gado a pastar livremente num variado sistema agrossilvopastoril, “deverá ser a que mais cumpre com todos os objetivos marcados pela UE na Agenda 2030, no tema da sustentabilidade”, argumentou.

Por isso, segundo o responsável da estrutura que conta com 189 cooperativas associadas, a pecuária extensiva deveria ter “uma distinção de qualidade” da UE.

“É graças ao trabalho que fazem agricultores e produtores pecuários que conseguimos já estar a cumprir estes objetivos que nos pede a UE ou que só tenhamos que nos adaptar numa escala muito reduzida para os poder cumprir perfeitamente”, argumentou.

Para o futuro, a nível europeu, as políticas para fomentar a sustentabilidade terão de “dar prioridade a quem está a trabalhar com essa sustentabilidade“, a quem o tem feito ao longo dos tempos, mas que ainda continua a “tentar convencer as gerações atuais que este tipo de produção extensiva é a mais viável”, sustentou.

Mais a sul, na região espanhola da Andaluzia, Agustín González, presidente da cooperativa OVIPOR, de Huelva, manifestou-se à Lusa ainda mais desiludido, com a Europa e as promessas de políticos.

“Querem o quadro verde e o nosso perfil como produtores cumpre perfeitamente todas as exigências da UE, mas é só falar, na hora da verdade não ajudam. É tudo muito bonito, contam-nos muitas histórias, mas para a pecuária extensiva nunca chegam as ajudas necessárias”, argumentou.

Com os elevados custos de produção em Portugal e em Espanha, os produtores pecuários em extensivo não têm “rentabilidade só com o mercado”, têm de “ser ajudados pela Europa”, defendeu.

Depois, há “outros setores muito fortes, como os olivais [intensivos] como agora no Alentejo, que recebem uma ajuda muito grande”, quando até “podem viver só com o mercado”, comparou Agustín González, frisando já não ter esperança na PAC.