De grupo da morte a grupo das oportunidades. Mesmo contando com Espanha e Alemanha, o Grupo E entrava para a última jornada com todas as quatro seleções ainda com possibilidade de se apurarem para os oitavos de final — ainda que umas mais do que outras. A vitória do Japão perante os alemães, que depois empataram com os espanhóis, complicou as contas e baralhou a matemática da qualificação.

Assim, esta quinta-feira e no Estádio Internacional Khalifa, Espanha defrontava o Japão à mesma hora que a Alemanha enfrentava a Costa Rica e só precisava de empatar para seguir em frente — ou seja, só falhava os oitavos se perdesse e se os alemães vencessem os costa-riquenhos por uma diferença de golos que lhe era altamente favorável. Ainda assim, Luis Enrique não pretendia deixar o destino nas mãos da sorte. 

“Refletimos sobre todos os cenários. Imaginem que apostamos no segundo lugar, chegamos ao minuto 90, está 0-0 nos dois jogos e, aos 90+5′ e a 15 segundos do fim, Japão e Costa Rica marcam. Apostaste e ficas de fora. Ou imaginem que a Alemanha está a ganhar 5-0, nós estamos a jogar para o empate, o Japão marca — estamos fora. Quando estamos convencidos de que temos uma equipa muito boa e queremos jogar todos os sete jogos, não podemos jogar para ficar em segundo. Queremos ficar em primeiro. Se apanharmos o Brasil nos quartos de final, boa, apanhamos o Brasil. Mas não vamos fazer contas antes de lá chegar”, explicou o selecionador espanhol na antevisão da partida.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ainda assim, Luis Enrique não deixou de fazer algumas alterações ao onze inicial, lançando Balde e Nico Williams para a titularidade, enquanto que o Japão atuava com Kubo, Maeda e Kamada no trio ofensivo e também com o leão Morita no meio-campo. No banco, curiosamente e como já tem vindo a ser hábito neste Mundial do Qatar, ficavam duas das teóricas referências japonesas: Minamino, avançado do Mónaco que passou pelo Liverpool, e Tomiyasu, defesa do Arsenal.

A primeira parte teve apenas um golo, com Morata a abrir o marcador de cabeça ainda dentro do quarto de hora inicial e na sequência de um cruzamento de Azpilicueta (11′). Espanha foi para o intervalo a vencer confortavelmente, tendo sido quase sempre superior ao Japão, e Luis Enrique mexeu logo no arranque da segunda parte para trocar Azpilicueta por Carvajal. Do outro lado, Hajime Moriyasu tirou Kubo e Nagatomo e colocou Mitoma e Doan — e este último, tal como tinha acontecido contra a Alemanha, voltou a ser herói.

Balde perdeu a bola em zona proibida e Doan aproveitou para descair da direita para dentro e rematar forte para empatar e marcar pela segunda vez no Mundial (48′). Três minutos depois, aconteceu o impensável: Tanaka colocou a bola no fundo da baliza após um cruzamento de Mitoma (51′) e, com o VAR a indicar ao árbitro que a bola não tinha saído pela linha de fundo, o Japão confirmou a reviravolta — e atirou a Alemanha para fora do Campeonato do Mundo.

Até ao fim, já pouco aconteceu. O Japão venceu Espanha e apurou-se para os oitavos de final do Campeonato do Mundo no primeiro lugar do Grupo E, com os espanhóis a ficarem na segunda posição e alemães e costa-riquenhos e fazerem as malas para sair do Qatar. Nos oitavos de final, os japoneses vão encontrar a Croácia, enquanto que Espanha cruza com Marrocos.

A pérola

  • Ele, outra vez: depois de ter começado a reviravolta japonesa contra a Alemanha na primeira jornada da fase de grupos, Ritsu Doan entrou ao intervalo para iniciar a remontada contra Espanha e tornar-se o herói do apuramento dos asiáticos. O avançado do Friburgo, que não é titular mas é cada vez um substituto de luxo que Hajime Moriyasu sabe quando e como lançar, marcou um dos melhores golos da fase inicial do Campeonato do Mundo com o remate que surpreendeu Unai Simón e vai continuar no Qatar para procurar continuar a aumentar o registo goleador.

O joker

  • Tal como Minamino e Tomiyasu, que jogam no Mónaco e no Arsenal, Kaoru Mitoma também não é titular no Japão — de forma até algo incompreensível. O médio de 25 anos está a fazer parte do início de temporada brilhante do Brighton na Premier League e entrou ao intervalo para fazer a assistência para o decisivo golo de Tanaka, demonstrando a resiliência habitual ao ir buscar um bola que parecia perdida pela linha de fundo.

A sentença

  • Espanha terá de fazer mais e melhor para manter o rótulo de candidata à conquista do Campeonato do Mundo. A seleção de Luis Enrique impressionou na jornada inaugural, com a goleada aplicada à Costa Rica, não conseguiu vencer a Alemanha e perdeu com o Japão depois de ter regressado do intervalo completamente desconcentrada e confiante na vantagem tangencial. Adicionalmente, os espanhóis estão agora no caminho de Portugal — ficaram em segundo lugar no Grupo E, vão cruzar com Marrocos nos oitavos de final e encontram a Seleção Nacional nos quartos se ambos se qualificarem até lá (e se os portugueses ficarem no primeiro lugar do Grupo H).

A mentira

  • Este Japão não é brincadeira. O que se passou no Grupo E, com vitórias perante a Alemanha e a Espanha, não foi sorte: os japoneses têm uma equipa organizada, que sabe reagir à desvantagem e à adversidade, e mostraram depois do segundo golo que não têm qualquer problema na hora de recuar linhas e blindar a própria baliza.