Sim, a Alemanha foi eliminada do Mundial. Nada de novo se olharmos a 2018. No entanto, como sabemos, o futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes e no Costa Rica-Alemanha houve algo que sobressaiu mais do que a classificação final do grupo E, envolvendo o fator novidade.

Quando o futebol nasceu era um interesse de nicho e filho de ninguém acaba por ser filho de todos. Hoje, maduro e crescido, com virtudes e defeitos, não há como o futebol não possa abraçar todos os que lhe estenderem os braços, sem olhar ao que são ou queiram ser. A evolução do jogo trouxe-nos a uma realidade em que é dominado por homens e, que se saiba, nunca ninguém escreveu a história de que, quando nasceu, o futebol tenha sido levado ao registo civil e inscrito como pertencendo a um determinado sexo. A verdade é que não pertence. Não pode ser colocado dentro de uma gaveta, mas sim num lugar à escala do mundo em que qualquer um caiba.

Stéphanie Frappart, Neuza Inês Back e Karen Diaz Medina são os nomes das mulheres que fizeram história ao serem as primeiras a arbitrarem uma partida no Campeonato do Mundo. A lógica do costume, com as mesmas capacidade que qualquer outra pessoa, elas têm que ser bestiais para desempenharam funções em que os outros podem só ser bons. Foram três mulheres a comandar 22 homens e a darem conta do recado. Aliás, como costuma acontecer quando se colocam pessoas competentes a desempenhar os seus papéis.

Se a equipa de arbitragem foi uma novidade, o início do jogo, nem tanto. As mãos do guarda-redes da Costa Rica, Keylor Navas, estiveram demasiado tempo em contacto com a bola para isso poder não representar uma tendência. A Alemanha entrou a todo o gás. Gnabry (10′) demorou pouco tempo a descobrir o caminho para a baliza e, servido por Raum, marcou de cabeça. Os jogadores alemães foram rapidamente dentro da baliza buscar a bola para a levarem para o centro do campo e acelerarem o reinício da partida. Seguiu-se um domínio avassalador. Musiala e Gnabry estavam muito dinâmicos entre linhas, Gundogan assumiu o papel de construtor mais recuado e Goretzka juntou-se a Muller em zona de finalização.

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Sabendo o que se passava no Japão-Espanha, a Alemanha ficou descansada. Tudo se começou a complicar quando o Japão deu a volta contra a Espanha e passou a estar a ganhar por 2-1, o que deixava a Alemanha virtualmente fora. O que estava a ser um passeio virou uma corrida. É que a Costa Rica virou o jogo contra a Alemanha. Tejeda (61′) marcou o primeiro de Los Ticos. Seguiram-se três remates ao poste por parte dos germânicos, dois de Musiala (61′ e 67′) e um de Rudiger (62′). A Costa Rica só precisou de ameaçar uma vez para completar a cambalhota. Vargas (70′) colocou os sul-americanos virtualmente nos oitavos. Só que, do banco, Hansi Flick lançou Havertz que se encarregou de, com um bis (72′ e 85′), trazer de novo a Alemanha para a frente do marcador. Fullkrug (88′) confirmou o 4-2. Acontece que a Mannschaft precisava que as contas do grupo se alinhassem melhor que as estrelas – e as nuvens tiraram o brilho a todos os pontos no céu.

A pérola

  • As camisolas dos árbitros deste Mundial têm a particularidade de terem os nomes dos seus portadores nas costas. Stéphanie Frappart, Neuza Inês Back e Karen Diaz Medina são nomes para ficarem não só gravados no tecido, mas na também história e, oxalá, tenham aberto portas para quem lhes queira seguir o exemplo.

O joker

  • Kai Havertz, vindo do banco, marcou dois golos importantes, conseguindo virar a tendência do jogo. Para o desfecho final do grupo, não serviu de nada, para a vitória do jogo, foi importante. Um trunfo lançado por Hansi Flick que até no banco a Alemanha era superior à Costa Rica.

A sentença

  • Visto que vencer a Costa Rica aparentava ser uma tarefa simples para a Alemanha, a Mannschaft dependia mais da Espanha do que de si. No entanto, os germânicos tiveram dificuldades acrescidas para vencer, requisito necessário para pensarem e seguir para a fase a eliminar. Ainda que tenham cumprida com a obrigação, a Espanha não colaborou e os alemães ficaram pelo caminho. O Japão terminou o grupo E em primeiro e os espanhóis em segundo. Assim, Japão e Espanha seguem para os oitavos de final, onde vão defrontar Croácia e Marrocos, respetivamente. A Costa Rica diz adeus ao Mundial mesmo que ainda tenha sonhado com a permanência.

A mentira

  • Ao longo do Mundial, a Alemanha tem sido uma das seleções que mais se tem feito ouvir em relação à defesa dos direitos humanos e contra a realização do Mundial no Qatar. Impedidos de usar as braçadeiras ‘One Love’ e, acima de tudo, de defenderem as causas que entendessem importantes, os alemães sentiram que foram calados nas manifestações que entendiam fazer. Para manter a Alemanha em silêncio ou não, a FIFA escolheu dar sinais de abertura no jogo da Mannschaft com três mulheres encarregues da arbitragem. Seja como for, é isso que qualquer forma de ativismo quer, efeitos.