O presidente da ACOS — Associação de Agricultores do Sul, Rui Garrido, criticou esta quinta-feira o Governo por os produtores pecuários ainda não terem tido acesso às anunciadas ajudas por animal, devido à seca, com 2022 quase no fim.

Na sessão oficial de abertura de um congresso luso-espanhol em Cáceres, na região da Estremadura (Espanha), Rui Garrido aludiu à seca e considerou “manifestamente insuficiente [o] pacote de ajudas por animal” preparado pelo Estado português.

E, além disso, esse apoio “peca por tardio, uma vez que estamos no final do ano de 2022 e os agricultores ainda não tiveram acesso a esta anunciada ajuda”, criticou, sem mencionar diretamente o Ministério da Agricultura, tutelado por Maria do Céu Antunes.

Na sua intervenção no arranque oficial do III Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva e Desenvolvimento Rural, de caráter bienal e que nesta edição tem como tema “Sustentabilidade Garantida”, Rui Garrido lembrou que o evento, que decorre esta quinta-feira e na sexta-feira, acontece num contexto internacional difícil.

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“Em plena guerra na Europa, após uma pandemia e ainda com a seca bem presente em vastas regiões do sul da Península Ibérica”, que “continuam a provocar grandes estrangulamentos ao desenvolvimento da agropecuária, fruto dos aumentos brutais dos fatores de produção”, vincou.

Para o presidente da ACOS, sediada em Beja, “é fundamental e urgente que as políticas nacionais e comunitárias reflitam a defesa do mundo rural”.

Para tal, “é fundamental desfazer tabus, mal-entendidos, desinformação, lobbies”, até porque a pecuária extensiva, em que o gado pasta em herdades povoadas de montado (azinheiras e sobreiros), um complexo ecossistema agrossilvopastoril, “é uma das práticas agrárias mais antigas da humanidade”, frisou.

“É um dos mais relevantes exemplos de bem-estar animal, com o pastoreio dos animais ao ar livre” e “contribui para a mitigação das alterações climáticas, uma vez que é um contribuinte fundamental para a fixação de carbono do solo e, consequentemente, para a biodiversidade”, destacou.

Rui Garrido disse ainda que, “através das suas atividades a montante e a jusante, tem um papel fundamental para o combate ao despovoamento e à desertificação”.

Face às alterações climáticas e secas recorrentes, o dirigente português considerou “vital” a construção de “um sistema hidrológico de dimensão ibérica”.

Na mesma sessão de abertura, Ángel Villafranca Lara, presidente das Cooperativas Agroalimentares de Espanha, também aludiu ao “menosprezo” com que é tratada a pecuária extensiva por parte de setores da sociedade e da política, quando, afinal, concentra “sustentabilidade”.

“Há uma palavra de moda que praticamente todos utilizamos: sustentabilidade. Desde os automóveis até empresas que nada têm a ver com o meio ambiente falam que são sustentáveis. Pois bem, há sustentabilidade no território” com pecuária extensiva, disse.

“Mas é preciso começar pelas pessoas” e “há que fazer rentável a sustentabilidade”, porque esta “não pode ser uma entidade abstrata” para se “visitar pontualmente aos fins de semana”, sustentou o responsável espanhol.

O congresso em Cáceres, que conta com cerca de 450 participantes espanhóis e cerca de 150 portugueses, é coorganizado pela ACOS, União dos Agrupamentos de Defesa Sanitária do Alentejo, Cooperativas Agroalimentares de Espanha e Federação dos Agrupamentos de Defesa Sanitária Ganadeira (FADSG).