Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

Portugal, Coreia do Sul, Ronaldo, Fernando Santos… Era preciso algo mais para dar contexto à conferência de Paulo Bento? Vejamos: 1) ia defrontar pela primeira vez o seu país por uma outra seleção e logo num fase final do Campeonato do Mundo; 2) seria um encontro entre a Seleção e os asiáticos como houve há 20 anos, na altura com vitória dos anfitriões naquela que foi a última internacionalização A por Portugal; 3) além da passagem que tinha pela Seleção onde esteve também Pepe ou Rui Patrício (guarda-redes que lançou no Sporting), iria defrontar o último treinador que teve como jogador e aquele que é um dos grandes ícones deste Mundial com quem partilhou balneário em Alvalade na primeira época como sénior. Três pontos de contacto antes de um jogo onde estava obrigado a ganhar os três pontos para sonhar com a qualificação para os oitavos no seu terceiro Mundial. Mas será melhor como jogador ou treinador?

“Não tenho dúvidas nenhumas, não tenho dúvidas mesmo: a todos os que joguem, que joguem… Que possam jogar o máximo tempo possível, é muito melhor como jogador do que como treinador até porque como treinador depois temos de aturar coisas que o melhor era não termos de aturar, só nos tira anos de vida. Têm tempo para isso. Se me dissessem que poderia há 20 anos ter ao lado como companheiro o melhor do mundo e o melhor jogador português de sempre e que 20 anos depois estava a defrontá-lo como treinador de uma outra seleção que não Portugal não, era impensável. Também era inimaginável pensar que teria três Mundiais, dois como treinador, se calhar a desfrutar até mais agora do que em 2014”, respondeu Paulo Bento na conferência de imprensa de antevisão do jogo, que antecedeu a de Portugal.

“Quando se preparam os jogos tem-se em consideração aquilo que são as dinâmicas coletivas, a forma como a equipa joga, ataca e defende, como transitam, tudo isso é o nosso principal foco. Depois temos em consideração as individualidades específicas dos jogadores mais talentosos. São muitos, neste caso. A qualidade e quantidade e muita. Não devemos estar preocupados com o A, o B ou o C mas sim superar a equipa”, advogou, antes de falar especificamente do reencontro com a Seleção: “Creio que também irei cantar o hino, o português como o coreano. Nasci português, morrerei português, tenho imenso orgulho em ser português mas isso não invalida o orgulho de ter liderado estes rapazes durante mais de quatro anos”.

“Os sentimentos são naturalmente melhores para o povo coreano do que para o português pelo resultado. Para mim, aquilo que era o meu sentimento era de satisfação e orgulho, apesar dos resultados, por ter representado o meu país numa grande competição. Foi a segunda em dois anos, foi o meu último jogo como internacional e encerrou o trajeto da Seleção”, recordou ainda Paulo Bento, a propósito do encontro entre Portugal e Coreia do Sul na fase de grupos do Mundial de 2002 com triunfo dos asiáticos.

“O que é necessário é continuarmos a jogar dentro dos nossos limites, dentro daquilo que é o nosso estilo e forma de jogar, sabendo que do outro lado está uma equipa de grande qualidade, coletiva e individual. Não faltarei à verdade se disser que se não for a melhor é uma das melhores gerações do futebol português. Tentará ficar no primeiro lugar, já está qualificada. Isso traz dificuldades mas um enorme desafio, temos de ir à procura de responder a isso. Além do favoritismo, está apurada e com um empate ficar em primeiro e vai jogar com as nossas necessidades. É um desafio bonito e aliciante para nós. Temos de ser corajosos mas ao mesmo tempo pacientes”, salientou, entre elogios pelas duas exibições feitas no Mundial.

“O facto de não estar no banco não tem influência. Trabalham comigo há muito tempo, estão envolvidos em todo o processo, é gente competente e preparada e farão tudo o que estiver ao alcance. Terão autonomia completa para fazer as decisões, estão identificados com tudo, muitas das decisões que tomo durante o jogo partem deles para mim e agora terão de fazer da mesma maneira. Normalmente delego muito nos treinos. A experiência de ficar fora não a tenho, só depois é que posso dizer… Tenho outras de ficar de fora… A situação é similar, preparar o jogo da melhor maneira antes, não é o mesmo mas não terá influência. O último momento em que posso estar será até à chegada ao estádio. Devo agradecer à FIFA a oportunidade de estar aqui e de poder estar com eles depois. Não terá influência na forma como vamos jogar e competir. As pessoas vão aos estádios para ver os jogadores, não os treinadores. O foco não está em mim”, concluiu.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR