A presidente da administração do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, apresentou esta sexta-feira o pedido de demissão, que foi aceite pelo presidente do Governo dos Açores, informou o executivo do arquipélago. Numa nota divulgada no seu site, o Governo dos Açores refere que, após uma reunião, Cristina Fraga “colocou o seu lugar à disposição, tendo o presidente do governo aceitado o seu pedido de demissão”.

Segundo a nota, José Manuel Bolieiro “agradece à Dra. Cristina Fraga o trabalho desenvolvido, a sua dedicação, e reconhece os bons indicadores obtidos durante o seu mandato, em termos de produtividade dos serviços”. “A substituição de Cristina Fraga será feita nos termos legalmente previstos”, escreve o executivo.

Vinte e um dos 25 diretores dos serviços do hospital de Ponta Delgada demitiram-se esta sexta-feira, disse à Lusa o médico Emanuel Dias, considerando que o presidente do Governo Regional foi “enganado” pela administração sobre as escalas.

Segundo Emanuel Dias, porta-voz dos diretores de serviços clínicos demissionários, a escala de serviço do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) “não está preenchida e quem está a preenchê-la é o atual conselho de administração, que não o tem conseguido”.

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A responsável nos Açores da Ordem dos Médicos, Margarida Moura, denunciou, na quinta-feira, a falta de condições de assistência aos doentes no Hospital de Ponta Delgada, nomeadamente na cirurgia geral, cuja diretora de serviço apresentou a demissão.

A direção clínica e o conselho de administração do hospital afirmaram que “a segurança dos doentes está garantida” e que as escalas de urgência “estão asseguradas até 07 de dezembro”.

“A direção clínica e o conselho de administração afirmam que a segurança dos doentes está garantida, com esta escala de urgência apresentada, com dois cirurgiões de serviço. Como sempre foi prática neste hospital”, lê-se num esclarecimento enviado pela maior unidade de saúde dos Açores, em resposta a questões da agência Lusa.

Segundo a administração do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), a escala de urgência apresentada é uma “situação que se tem verificado muitas vezes ao fim de semana, em que um cirurgião está em presença física e outro em prevenção“.

Na nota, a direção clínica e o conselho de administração reafirmam ainda que as escalas “estão asseguradas até ao dia 07 de dezembro”, acrescentando que foi esta a informação “transmitida ao presidente do Governo Regional dos Açores”.

O conselho de administração refere também ter sido surpreendido por “uma conferência de imprensa (mais uma) da Ordem dos Médicos” nos Açores, lamentando a situação, que “pode contribuir para lançar o alarme social na população”, depois de já ter sido iniciada uma “jornada de diálogo” encetada pelo presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, com os representantes sindicais dos médicos.

A administração salienta igualmente que foi respeitado o “protocolo negocial” que decorre entre o Governo Regional e os sindicatos médicos, “no estabelecimento de pontes que possam contribuir para a resolução deste diferendo”.

A direção clínica e o conselho de administração do HDES indicam ainda que se mantêm “totalmente disponíveis e abertos ao diálogo” com todos os diretores de serviço e “comprometidos em ultrapassar” a situação, que “infelizmente, também acontece noutros hospitais, de todo o país”.

“Estamos solidários com as reivindicações de melhores condições para todos os que fazem o SRS [Serviço Regional de Saúde], mas cientes de que existimos para o cidadão açoriano. E para melhor servir aqueles que necessitam, que são os doentes”, escrevem.

Quanto às declarações da diretora do serviço de cirurgia geral do HDES, Maria Inês Leite, que apresentou a demissão na quinta-feira, o conselho de administração do Hospital de Ponta Delgada esclarece que o diretor clínico reuniu com a responsável “inúmeras vezes” e “sempre mostrou a maior abertura de colaboração”.

Médicos dos três hospitais públicos da região (Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta) manifestaram, num abaixo-assinado enviado ao presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro, ao vice-presidente do executivo, Artur Lima, e ao secretário regional da Saúde e Desporto, Clélio Meneses, a sua indisponibilidade para realizar horas extraordinárias para além do limite legal das 150 horas, o que poderá colocar em causa o serviço de urgência já em dezembro.

Em causa estão declarações do vice-presidente do Governo dos Açores, que já afirmou que não teve “intenção de ofender os médicos” quando falou sobre o trabalho extraordinário, após ter sido criticado por PAN, BE e PS no parlamento regional.

Na quarta-feira, o presidente do Governo dos Açores confirmou a demissão dos 10 chefes do serviço de urgência do hospital de Ponta Delgada, mas garantiu que “as escalas de urgências dos três hospitais” estão asseguradas na próxima semana.

Demissões no Hospital de Ponta Delgada. Decisão dos chefes de serviço é “individual”

O social-democrata referiu então que foi aberto um “protocolo negocial” com os sindicatos médicos devido às reivindicações dos profissionais, nomeadamente quanto a horas extraordinárias, e acrescentou que os conselhos de administração dos três hospitais da região (Ponta Delgada, Horta e Angra do Heroísmo) tinham garantido que as escalas de urgência da primeira semana de dezembro estavam asseguradas”.

“Os chefes de serviço de urgência [do hospital de Ponta Delgada] estavam, até hoje, sem conhecer a situação [início de um protocolo negocial e escalas de urgência asseguradas]. Ficariam responsáveis por algum vazio [nas escalas]. Tenho esperança de que naturalmente ficam confortados, até pelo seu sentido de responsabilidade já demonstrado, quando se verificar que a escala não está em branco”, afirmou o chefe do executivo de coligação PSD/CDS-PP/PPM.

Por seu turno, a responsável nos Açores pelo Sindicato dos Médicos do Sul reconheceu esta sexta-feira que foi induzida em erro numa reunião com o presidente do Governo Regional e acabou por “mentir” quando disse que as escalas do Hospital do Divino Espírito Santo estavam preenchidas

Na quarta-feira, Anabela Lopes disse que as urgências hospitalares nos Açores, que estavam na iminência de não terem escalas completas, por indisponibilidade dos médicos, estavam asseguradas.

Em novembro, cerca de 400 médicos (191 do Hospital do Divino Espírito Santo) manifestaram indisponibilidade para fazer mais do que as 150 horas de trabalho extraordinário obrigatórias por lei, reclamando um pedido de desculpas do vice-presidente do executivo de coligação PSD/CDS-PP/PPM.

Artur Lima (CDS-PP) tinha afirmado em 11 de novembro que os médicos “não podem usar o dinheiro como moeda de troca para dispensar” a prestação de cuidados.

Depois, o governante disse que não teve “intenção de ofender os médicos” nas declarações feitas sobre o trabalho extraordinário, após ter sido criticado pelo PAN, BE e PS no parlamento regional.