A vida e a carreira de Daley Blind mudaram em dezembro de 2019. Foi a 10 desse mês, durante um jogo para a Liga dos Campeões entre o Ajax e o Valência, que o jogador apanhou um dos maiores sustos da sua vida: um episódio de tonturas e vertigem levou a que o defesa fosse diagnosticado com uma miocardite, tendo sido operado para colocar um o cardioversor desfibrilhador implantável.

O problema de saúde manteve-o afastado dos relvados até fevereiro do ano seguinte. Seis meses mais tarde, novo susto. Num jogo de preparação entre a equipa neerlandesa e o Hertha de Berlim, Daley caiu no relvado assustando colegas, equipas técnicas e médicas e espectadores. O jogador acabou por sair do campo pelo seu próprio pé e a explicação para o que acontecera surgiu um pouco depois: o desfibrilhador tinha disparado em campo.

Considerado apto para a alta competição, Blind foi convocado para representar os Países Baixos no Euro 2020, que devido à pandemia de covid-19 se realizou apenas no ano seguinte. Aí, foi confrontado com o seu problema de saúde, ainda que não de forma direta. A 12 de junho de 2021, ao minuto 43 do jogo entre Dinamarca e Finlândia, Christian Eriksen caiu de forma fulminante no relvado, inanimado. A rápida intervenção da equipa médica permitiu salvar o jogador, que foi conduzido para o hospital.

O acidente, que comoveu o mundo, teve impacto profundo em Daley Blind, ex-colega de equipa (de 2010 a 2013 no Ajax) do dinamarquês, levando mesmo o defesa a ponderar não defrontar a Ucrânia. “O que aconteceu teve um grande impacto em mim, sem esquecer o facto de que conheço bem o Christian como amigo. A situação para ele é terrível. Claro que eu já experienciei algumas coisas nesta área e tive de ultrapassar uma barreira mental para jogar [contra a Ucrânia]”, confessou à imprensa do seu país.

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Daley Blind também tem aparelho no coração e deixa um apelo por Eriksen: “Deixem o Christian em paz”

“Quando aconteceu comigo, toda a gente me dizia que eu estava acabado como jogador e não voltaria a jogar. E olhem onde estou hoje. É por isso que eu digo a todos, ‘Deixem o Christian em paz’”, disse na altura.

A carreira de Daley continuou o seu caminho e, este sábado, acrescentou-lhe mais uma página para recordar: um golo num Mundial. Quando marcou, já perto do intervalo nada o parou rumo ao porto que procurava: o abraço de um dos adjuntos de Louis Van Gaal, ou seja, o seu pai, Danny Blind.

Antiga glória do futebol neerlandês, Danny, de 61 anos, fez parte da mítica equipa do Ajax que ganhou a Liga dos Campeões em 1995 – foi a quarta e última da equipa. Ao serviço do clube ganhou mais 17 títulos e foi, inclusivamente, seu treinador. Também foi selecionador da Holanda. Agora, junta o papel de adjunto ao de pai orgulhoso de um dos mais experientes jogadores da “laranja mecânica”.