O título de melhor marcador da seleção inglesa é um recorde que se espera há muito que seja batido. Pertence a Wayne Rooney que alcançou o registo de 53 golos aos serviço da seleção dos Três Leões. Apesar de ainda não ter derrubado essa marca, sabe-se de antemão que Harry Kane vai lá chegar. A expectativa é que o possa fazer num palco como o Mundial onde são as luzes do talento dos jogadores que atraem os holofotes. Kane conta com uma armada de luxo para o ajudar. Foden, Bellingham ou Saka são fiéis escudeiros que, em alguns momentos, até se chegam à frente pela defesa dos interesses ingleses. Os oitavos de final do Campeonato do Mundo foram mais um passo em frente na caminhada da Inglaterra e mais um passo na caminhada de Kane até ao momento em que se vai tornar goleador superlativo da Inglaterra.

Pela frente, o Senegal que fazia a segunda aparição em fases a eliminar de Mundiais. Na única vez em que os Leões da Teranga haviam participado numa fase tão adiantada da prova, em 2002, Aliou Cissé, atual treinador, ainda representava a seleção dentro do campo. Por pouco, o técnico não falhava a presença no banco de suplentes devido a um quadro de febre que o impediu inclusivamente de falar aos jornalistas na antevisão ao jogo. A recuperação acabou por acontecer e o técnico ocupou o lugar para si reservado no banco de suplentes. A mesma sorte não teve uma das maiores referências da equipa, Idrissa Gueye, a cumprir castigo. Em sentido contrário, o médio Kouyaté recuperou para o jogo contra a Inglaterra ou, pelo menos, esteve na ficha de jogo.

Os últimos dias também foram conturbados para a Inglaterra. Depois dos ingleses terem ficado privados de Ben White que deixou a equipa por “razões familiares”, poucos momentos antes do jogo começar, a federação inglesa anunciou que Raheem Sterling teve que se ausentar da concentração da seleção dos Três Leões por “motivos pessoais” e ainda não se sabe se regressa ao Qatar.

As notícias frescas fizeram a Inglaterra entrar na partida em modo de digestão. Concluído o processo, deu dois murros no estômago ao adversário. Harry Kane lançou Jude Bellingham que cruzou atrasado para um embalado Jordan Henderson (39′) inaugurar o marcador. Era o momento inglês em que até coisas que ainda não tinham acontecido neste Mundial acabaram por se suceder. Harry Kane (40+3′) estreou-se a marcar na competição através da conclusão de uma jogada de contra-ataque em que Bellingham encontrou Foden que, por sua vez, assistiu o jogador do Tottenham. Kane chegou assim ao 52º golo, ficando a um de igualar Wayne Rooney no topo dos melhores marcadores de sempre da Inglaterra.

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O jogo estava repleto de vertigem. Bola cá, bola lá. Cada mudança de velocidade dos homens do ataque de ambos os conjuntos era sinónimo de perigo. Dentro destes moldes, o Senegal também teve oportunidades. A primeira foi de Ismaila Sarr (22′), mas saiu por cima. A segunda e mais flagrante esteve nos pés de Boulaye Dia (32′), mas aí pareceu Pickford com uma grande defesa.

Cedo na segunda parte, a passagem aos quartos de final ficou decidida. Saka (58′) escreveu a sentença que aplicou ao Senegal com um golo em que os extremos se tocaram. Foden cruzou, Saka marcou o 3-0. O jogador do Manchester City somou a segunda assistência. A partir daí, os cavalinhos saíram da chuva e, ao enxuto, e meteram-se a andar a trote até ao minuto 90.

A pérola

  • Harry Kane baixou no terreno para oferecer apoios frontais e, muitas vezes, conseguiu rodar sobre os defesas e lançar os colegas, em especial Saka e Foden que aproveitavam o espaços gerados pelos movimentos do ponta de lança. Sempre que a pressão do Senegal se fazia sentir, os jogadores ingleses mais recuados procuraram Kane como referência no jogo aéreo de modo a que a equipa conseguisse subir no terreno.

O joker

  • Cada grande competição de seleções é uma oportunidade para dizer que o ponto fraco da Inglaterra é o guarda-redes. Que Pickford não serve para ocupar a baliza de uma seleção com legítimas aspirações a vencer Mundiais e Europeus. Tem as suas debilidade, é certo, nomeadamente no que diz respeito ao jogo de pés, mas também há poucos guarda-redes por aí com a elasticidade de quem habita num corpo de borracha. Com o jogo em 0-o fez uma defesa diante de Boulaye Dia que permitiu que a equipa não tivesse que sentir o peso da desvantagem.

A sentença

  • O Senegal realizou no Qatar a segunda melhor participação de sempre num Mundial, mesmo esta tenha sido apenas a terceira participação dos Leões da Teranga na prova. Ainda assim, foi a Inglaterra que avançou para os quartos de final onde vai encontrar a França.

A mentira

  • O Senegal é uma equipa capaz. Sai do Campeonato do Mundo com uma prestação digna do campeão africano, ainda que privados de Sadio Mané. Mas a euforia leva a excessos. Na bancada do Estádio Al Bayt, um adepto senegalês apareceu vestido com uma camisola do Senegal em que se podia ver a insígnia de campeão do mundo. Alguém adormeceu, sonhou e, quando acordou, levou com o choque duro da realidade.