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"As Nadadoras": cinema de piscina curta

Este artigo tem mais de 2 anos

A história real de duas nadadoras que fogem da Síria é comovente e inspiradora. Já a transformação em filme conta apenas com o necessário para ser o sabor da semana na lista de estreias do streaming.

Nathalie e Manal Issa são as protagonistas do filme, que conta também com Ahmed Malek no elenco
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Nathalie e Manal Issa são as protagonistas do filme, que conta também com Ahmed Malek no elenco

LAURA RADFORD/NETFLIX

Nathalie e Manal Issa são as protagonistas do filme, que conta também com Ahmed Malek no elenco

LAURA RADFORD/NETFLIX

Chegou a altura mais perigosa do ano ao nível do zapping: a dos anúncios de Natal que apelam à choradeira. Sou uma pessoa que tem um escorredor de talheres em inox no lugar do coração e mesmo assim às vezes comovo-me neste campo minado de pianinhos e de apelos ao consumo camuflados de preocupação com o bem-estar do próximo. E se nesta quadra temos esta predisposição para chorar, mimetizando colocar-nos no lugar do outro, penso que possa ser justo catalogar “As Nadadoras”, o filme mais visto da Netflix em Portugal por estes dias, como um filme de Natal. Mesmo sem neve, sinos ou mesas com perus assados.

Baseado em factos verídicos, como deve ser qualquer bom melodrama, “As Nadadoras” relata o caso real de duas irmãs, Yusra e Sara Mardini, que fogem da Síria no início do eclodir da guerra. É um caminho espinhoso, que implica tráfico humano com todos os seus riscos, mas que é eu muito motivado pelo desejo de Yusra, uma exímia nadadora, de se apurar para os Jogos Olímpicos de 2016, no Brasil.

[o trailer de “As Nadadoras”:]

A história das Mardini é, de facto, extremamente apelativa e — sem cinismos — inspiradora. Daria origem a um filme, mais cedo ou mais tarde. Pena que tenha dado origem a algo que, em termos de estilo e de qualidade, é pouco mais que um telefilme. É de orçamento baixo, mas sem o fulgor autoral e criativo de uma produção indie; é de apelo mainstream, à boleia da gigante Netflix, sem ter o investimento ou o cuidado ao detalhe que mereceria. O resultado acaba por ser uma obra que só não é automaticamente esquecível exatamente pelo impacto da veracidade da sua narrativa. São as irmãs, as originais, que carregam este filme, tal como fizeram com um barco de borracha cheio de pessoas a caminho de Lesbos.

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“As Nadadoras” é realizado e co-escrito pela promissora Sally El Hosaini, que realizou o premiado e claramente superior “My Brother the Devil”. O segundo guionista é Jack Thorne, com um currículo mais longo, mas também mais inconstante, que vai da ótima série “National Treasure” até ao desinspirado “Enola Holmes 2”. Não faço ideia de como correu o processo, se Hoisani e Thorne se deram bem ou mal, ou sequer se trabalharam juntos na mesma sala ou se um só reescreveu o trabalho do outro a pedido da produtora. Mas o que ressoa no trabalho final é o tom de um filme que estava disposto a ser cru, mas que levou um banho de banalidade, sobretudo ao nível dos diálogos. Sendo a já citada história boa, o guião falha em quase toda a linha de cada vez que alguém abre a boca e nos brinda com banalidade e um falhanço na tão necessária urgência de trazer alguma poesia a este relato.

"As Nadadoras" fará o seu caminho (breve, como são quase todos os caminhos desde que temos a catadupa de estreias por semana que o streaming permite), com o mérito de dar a conhecer duas personagens reais fascinantes

Fazendo justiça, é de destacar o desempenho das duas atrizes principais. Irmãs também na vida real, ambas naturais do Líbano, a quase estreante Nathalie Issa (como Yusra) e a mais experiente Manal Issa (como Sara) têm não só a química necessária como um bom balanço entre a densidade emocional do papel sem escorregar para a telenovela. Também de realçar a beleza de alguns momentos de realização, como o plano de drone na chegada a uma Lesbos repleta de coletes salva-vidas descartados — apesar de habitarem paredes meias, por exemplo, com uns Jogos Olímpicos muito mal filmados.

“As Nadadoras” fará o seu caminho (breve, como são quase todos os caminhos desde que temos a catadupa de estreias por semana que o streaming permite), com o mérito de dar a conhecer duas personagens reais fascinantes. Um dia vai sair uma pergunta sobre as Mardini no “Joker” ou no “Quem Quer Ser Milionário” e mais pessoas saberão a resposta. Mas enquanto obra de cinema, fica-se por aí. Há anúncios de Natal a empresas de telecomunicação bem melhores.

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