Luís Montenegro entende que o Parlamento deve defender um referendo à despenalização da morte medicamente assistida. Numa altura em que os deputados se prepararam para votar a versão do diploma sobre a eutanásia, que deve acontecer entre quarta e sexta-feira, o líder social-democrata veio a público defender a realização de um referendo.

Em declarações aos jornalistas, na sede do partido, em Lisboa, Montenegro começou por argumentar que, apesar de discutida há muitos anos, esta continua a ser uma “matéria muito controversa”. “Uma coisa é haver um processo de reflexão no Parlamento, outra coisa é haver um processo de amadurecimento na sociedade portuguesa”, defendeu.

Montenegro reconheceu, ainda assim, que a margem para ver aprovado este referendo é reduzida, uma vez que o PS, que esteve diretamente envolvido no desenho do diploma, dificilmente dará seguimento à vontade dos socialistas.

“Não estamos a apresentar este projeto de resolução para fazer um número político. Queremos convencer a maioria dos deputados no Parlamento a poder dar a palavra aos portugueses para decidir uma matéria cuja profundidade não vejo como os deputados podem assegurar do ponto vista da representação da vontade dos portugueses”, argumentou.

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“Estamos num tempo em que todos temos dúvidas. Falo por mim. Sou tendencialmente contra esta legislação, dúvidas pessoais, que vêm do meu enquadramento familiar. É uma discussão que todos vamos tendo dentro do nosso círculo e a melhor maneira de todos estarmos mais cientes é precisamente dar a voz ao povo. Estou apenas a concretizar aquilo que já defendo há muitos anos”, rematou.

No projeto de resolução que entretanto fizeram chegar ao PSD, os sociais-democratas defendem que “esta é uma questão de relevante interesse nacional que implica diretamente a assunção comunitária de um caminho de não retorno e cuja decisão final, sem comprometer a liberdade democrática que avaliza a discórdia, não admite tibiezas no cumprimento daquela que é a vontade maioritária dos cidadãos”.

“Trata-se de uma matéria que divide a sociedade portuguesa, sendo, por isso, convicção dos(as) deputados(as) proponentes que legitimar a opção legislativa consignada na proposta de substituição integral sob a forma de texto único, apresentada pelo PS, IL, BE e PAN (…) através de um mandato claro e inequívoco dos cidadãos eleitores, tão direto e imediato quanto possível apenas acarreta um evidente ganho ao exercício do mandato parlamentar”, escrevem.

A terminar, o PSD propõe a pergunta que deve ser referendada: “Concorda que a morte medicamente assistida não seja punível quando praticada ou ajudada por profissionais de saúde por decisão da própria pessoa, maior, cuja vontade seja atual e reiterada, séria, livre e esclarecida, em situação de sofrimento de grande intensidade, com lesão definitiva de gravidade extrema ou doença grave e incurável?”.

Se este projeto de resolução fosse aprovado, todo o processo legislativo seria interrompido. A bola passaria depois para Marcelo Rebelo de Sousa, que teria de decidir se convocava ou não a consulta popular. O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento.

Ainda em junho, o Parlamento discutiu e votou uma proposta de referendo do Chega. O resultado foi inequívoco: votos contra de PS, IL, PCP, BE, PAN, Livre e alguns votos do PSD. A favor vota o Chega e a maior parte da bancada do PSD. Resultado final foi: 147 votos contra, 77 a favor e 2 abstenções.