O ex-presidente da Câmara do Porto Fernando Gomes disse à Lusa que o Metro do Porto fez a cidade “subir degraus” na chegada à “maioridade urbana” na dimensão média europeia, recordando o “projeto fundamentalmente político” da sua criação.

O Porto subiu uma série de degraus na sua chegada à maioridade urbana como cidade de média dimensão a nível europeu”, disse Fernando Gomes à Lusa, a propósito dos 20 anos de operação comercial da Metro do Porto, projeto do qual foi um dos impulsionadores, nos anos 90, década em que esteve à frente da Câmara do Porto.

Para o antigo autarca do PS, o metro é mesmo “o grande projeto estruturante, sob o ponto de vista global, da Área Metropolitana do Porto”.

“Eu já não estou a falar do ponto de vista da mobilidade. Estou a falar sob o ponto de vista urbanístico, sob o ponto de vista paisagístico“, disse, em entrevista à Lusa, recordando, por exemplo, a “mais de meia hora” que automobilistas passavam na rotunda da Boavista.

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O também antigo ministro Adjunto e da Administração Interna lembrou que “no tabuleiro superior da ponte Luiz I vinha toda aquela gente de Gaia, dos arredores”.

“O que acontecia é que os autocarros não passavam, as pessoas saíam dos autocarros na ponte, a meio da ponte e antes da ponte, e vinham a pé para o Porto. Já vinham de longe, já vinham de Espinho, de muitos sítios”, assinalou.

Para Fernando Gomes, o projeto do Metro do Porto gizado na sua candidatura à Câmara Municipal para as eleições de 1989, “era um projeto fundamentalmente político, era ganhar um combate político”.

“Para ganhar esse combate político era preciso ter uma boa base técnica. Porque se não houvesse boa base técnica era destruído imediatamente por aqueles que queriam, era um pretexto para não se fazer”, disse à Lusa.

O também antigo eurodeputado disse que o projeto, aquando da sua divulgação pública, “não podia ser destruído” pela população que por ele poderia vir a ser servida.

“Nós saberíamos que a nível central seria [destruído], mas era importante que sentíssemos a base de apoio fundamental na região, para que isto se fizesse”, contou.

O agora administrador do FC Porto defendeu que, na altura, o fundamental era transmitir que “era um projeto indispensável para estruturar a Área Metropolitana do Porto – desde logo a começar por Gaia, Porto e Matosinhos – e que o investimento não era uma coisa por aí além, porque estávamos a falar de uma linha”.

A primeira ideia consistia numa linha “que vinha de Santo Ovídio [Vila Nova de Gaia] a Matosinhos, ao Porto de Leixões”.

“Nessa altura estava a fazer-se uma ampliação do Metro de Lisboa que custava tanto como o Metro do Porto. Politicamente havia aqui um argumento forte para se poder vir a público”, recordou.

Segundo o antigo autarca do PS, a primeira reação do Governo de Cavaco Silva (PSD) à ideia de criar um metro no Porto “foi péssima”.

“Foi sempre de que “isso nunca se fará”. Houve mesmo uma reunião de ministros, em que a política foi: “vamos deixá-los falar porque isso nunca se farᔓ, recordou.

O interlocutor era o ministro Ferreira do Amaral que, com o passar do tempo, segundo Fernando Gomes, “começou a ir dando seguimento à conversa”.

“Eu pedia uma reunião e ele recebia-me, depois as minhas declarações cá fora eram fortes, sempre“, disse Fernando Gomes, recordando, depois, o “passo importantíssimo” em que o Governo sugeriu levar o metro até à Póvoa de Varzim.

Além disso, “ter conseguido inscrever nos fundos comunitários uma verba para o projeto do Metro do Porto foi a credibilização” final.

“Nessa altura, ainda por cima, fizemos depois uma grande exposição em frente à Câmara Municipal do Porto sobre as ideias e o projeto do Metro, a que na altura chamou o PSD, que era oposição, o metro de papel”, afirmou.

Fernando Gomes reconhece que “no início foi duro, mas foi muito mobilizador”.

“Curiosamente, aquilo ficou engraçado porque era um pavilhão que tinha a forma de uma carruagem do Metro, como elas hoje são, muito parecidas”, lembrou.

Depois, “houve muita gente” a entrar no projeto, com “a universidade também a colaborar, a fazer vários estudos, várias empresas ligadas à universidade, e isto trouxe credibilidade”.

Outro passo que recordou foi também “trazer para o projeto o professor Vieira de Carvalho, que era um autarca do PSD [da Maia] com peso”.

Mas, “o grande momento político do Metro do Porto é a eleição de António Guterres” como primeiro-ministro, que, segundo Fernando Gomes, marcou o projeto como definidor do início da legislatura.

“Se alguma coisa ficou do Governo do António Guterres, que aqui a região e a Área Metropolitana do Porto não pode deixar de lhe agradecer, foi essa decisão”, considerou.

O antigo ministro lembrou ainda Abílio Cardoso na origem do projeto e já depois, na adjudicação, “pessoas muito capazes para diretores de projeto”, como João Porto ou Oliveira Marques.

Questionado sobre se sentia alguma mágoa por ter assistido ao arranque do projeto enquanto autarca mas não estar em funções aquando da inauguração, Fernando Gomes rejeitou.

O que importa é que o projeto se fez, avançou, não tenho nenhuma mágoa. Nunca andei à procura de estátuas nem de retratos nas paredes”, afirmou.

No seu entender, houve um “fartar vilanagem em termos de toda a gente se pôr em cima do plinto para receber a medalha”, mesmo “aqueles que foram mais críticos do projeto e lhe chamaram muitos nomes”.