A época gripal começou a 3 de outubro e até há cerca de uma semana as unidades de cuidados intensivos que participam na vigilância da gripe já tinham reportado 26 internamentos, de acordo com o boletim mais recente de monitorização da gripe do Instituto Nacional de Saúde Dr Ricardo Jorge (INSA), citado esta terça-feira pelo jornal Público.

Ao diário, o pneumologista Filipe Froes destaca que antes da pandemia da Covid-19 a média de casos de gripe internados em cuidados intensivos no final de cada época gripal rondava os 120 a 160, números que o especialista acredita que devem “ser atingidos no final desta época gripal” ainda que note uma diferença: “Não é habitual numa fase tão inicial da gripe ter já este impacto nos cuidados intensivos com 12 internamentos na última semana.”

Também à Rádio Observador, o pneumologista Carlos Robalo Cordeiro diz que “houve uma certa antecipação da atividade gripal”, mas que “era expectável” porque nos “últimos dois anos houve menos contacto com estes vírus“. “Não é habitual termos este volume de infeções respiratórias, concretamente de gripe e gripe A que tem provocado uma maior gravidade da infeção respiratória”, afirma o diretor do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra no programa Resposta Pronta esta terça-feira.

“Ainda não estamos no pico da atividade gripal”

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“Por norma há um intervalo de duas a três semanas entre o aumento do número de casos na comunidade e os internamentos. Há uma maior gravidade e mais necessidade de vacinação”, frisa o especialista que aproveita para lembrar que “o Inverno ainda não chegou” e que “o pico da atividade gripal ainda não foi atingido”.

Dos portugueses que ficaram doentes com gripe foram ainda detetados “24 casos” de infeção em simultâneo com SARS-Cov2. Até ao momento, apesar do aumento no número de casos, de acordo com o relatório do INSA consultado pelo Observador, a mortalidade mantém-se “dentro do esperado para a época do ano”.

Ainda assim, as urgências hospitalares já revelam sobrecarga na afluência e têm registado tempos de espera acima do que seria de esperar para as diferentes gravidades atribuídas aos doentes na triagem quando chegam às unidades hospitalares.

Longos tempos de espera nas urgências na Grande Lisboa. Doentes urgentes esperam perto de oito horas no hospital de Santa Maria

Bebés prematuros ou com baixo peso ao nascer entre os mais afetados pelo vírus sincicial respiratório

Em relação aos dados do vírus sincicial respiratório, o relatório do INSA revela que se mantém “a tendência crescente no número de internamentos”, com a ressalva para a interpretação de dados considerando que o número de internamentos é atualizado retrospetivamente à data de alta dos casos.

A tripla ameaça: Covid-19, gripe e infeções respiratórias. O que são e o que fazem os vírus que estão a entupir os hospitais?

Em relação aos 171 casos reportados, desde o início de outubro, o INSA revela que cerca de 50% dos casos tinham menos de três meses de idade, 18% tinham entre três e cinco meses, 17% tinham entre os seis e os 11 meses e os restantes 15% eram bebés entre o primeiro e o segundo ano de vida.

À Rádio Observador, o pneumologista Carlos Robalo Cordeiro assume que os casos de doença provocada pelo vírus sincicial nos bebés têm já uma “repercussão bastante significativa”. “É um vírus que todos os anos tem atividade conhecida e leva bastantes crianças às unidades hospitalares”, nota o médico que diz também que o “aumento de afluência das crianças às unidades hospitalares preocupa”.

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Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe e outros Vírus Respiratórios

Fonte: Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe e outros Vírus Respiratórios do INSA

Nos critérios da gravidade das situações, revela o relatório do INSA que “11% foram internados em Unidades de Cuidados Intensivos ou necessitaram de ventilação”.