O processo de transformação de uma mulher e os embates que vai sofrendo ao longo desse processo são o eixo central do espetáculo “Espelhos e monstros”, que se estreia quinta-feira no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.

Nesta performance a solo, uma criação e interpretação de Paula Diogo, a atriz e encenadora irá falar sobre “o corpo da mulher, sobre como este é olhado, as expectativas que são constantemente postas em cima de um corpo feminino”, como a maternidade e a necessidade de “responder a padrões de beleza impostos”, disse a criadora à agência Lusa.

“Como lidar com uma educação que nos ensina a olhar para nós de uma determinada maneira e como lidamos com isso quando estamos face a nós mesmas” são, segundo Paula Diogo, outras questões abordadas no espetáculo, o último em cena na sala Estúdio antes do encerramento do D. Maria II no final deste ano para obras.

Num espetáculo em que o público se senta numa espécie de arena, em que todos estão visíveis uns aos outros, e com DJ Cigarra a fazer música ao vivo de um local junto do público, Paula Diogo gostava que este espetáculo se transformasse “num grande concerto de rock, numa catarse”.

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O ponto de partida do espetáculo é dado por alguém que está no seu quarto, debaixo de um edredão, e começa a falar com o público.

O ponto de inspiração para “Espelhos e Monstros” começou com um vídeo realizado, em 2018, numa altura em que a criadora estava na Islândia, disse a própria à Lusa.

Na altura, Paula Diogo vestiu-se de Mulher Maravilha e caminhou numa paisagem islandesa. Depois, fez um loop desse vídeo e usou-o numa instalação.

“Para mim, era muito interessante ver aquele ícone super-poderoso americano a caminhar numa paisagem que acaba por ser muito mais forte do que a figura, numa paisagem selvagem e libertadora em que a figura quase que perdia o sentido. Ficava fora de sítio”, frisou.

Por isso, a atriz e encenadora traz agora para o palco ideias que ficaram implícitas nesse vídeo para “ver como é que essa figura pode continuar essa caminhada aqui dentro de portas”.

Neste trabalho não estão apenas vertidas questões de género, mas outras, para as quais a criadora não tem resposta, “ainda que andem na cabeça de quase toda a gente”.

Como a importância de as instituições culturais darem acesso a determinadas minorias que ficam excluídas e de dar voz a artistas que falam sobre outras realidades.

“Espelhos e monstros” está em cena até 18 de dezembro, com sessões de quarta-feira a sábado, às 19:30, e, ao domingo, às 16:30.

No dia 11, no final da sessão, haverá uma conversa com os artistas, enquanto a última récita terá audiodescrição.

Renato Linhares foi cocriador do espetáculo, enquanto o desenho de luz é de Daniel Worm, o de som de Suse Ribeiro, e a criação sonora de Cigarra.

Sara Vieira Marques assina o espaço cénico e figurinos, enquanto o acompanhamento dramatúrgico foi de Mariana Ricardo e o apoio à coreografia de Vânia Doutel Vaz.