Uma defesa, um corte, uma assistência ou um golo. Os Mundiais são feitos de pequenos momentos que se tornam gigantes e que transformam os seus heróis nos protagonistas das histórias que perpetuam no tempo e passam de adepto em adepto. Numa altura em que restam apenas oito equipas no torneio do Qatar e as seleções descansam para os “quartos”, o Observador apresenta-lhe um onze com os jogadores que mais se surpreenderam até aos oitavos de final da competição. Não espere encontrar nomes como Mbappé que, até ao momento, lidera a lista de melhores marcadores, Messi ou Cristiano Ronaldo. Do guarda-redes até ao ponta de lança, os nomes incluem jogadores de muitas das seleções que passaram à fase a eliminar da competição e que estão a aproveitar da melhor maneira a maior competição de seleções.

Andries Noppert

Esteve vários anos a jogar nos escalões secundários dos Países Baixos, onde foi quase sempre suplente. A namorada chegou a recomendar-lhe que tentasse uma carreira como polícia dada a falta de oportunidade de que dispôs e o número de lesões que sofreu. Quando se transferiu dos neerlandeses do NAC Breda para os italianos do Calcio Foggia viajou de carro dos Países Baixos para Itália. No caminho, a máfia roubou-lhe a viatura que, mais tarde, acabaria por conseguir recuperar. Com 2,03 metros é o jogador mais alto do Mundial.

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Todos os episódios caricatos que Noppert, guarda-redes dos Países Baixos, já experienciou parecem pouco ao lado do que está a viver no Qatar. Atualmente jogador do Heerenveen, realizou a primeira internacionalização ao serviço dos Países Baixos na partida de estreia dos neerlandeses no Mundial. O selecionador Louis van Gaal surpreendeu ao escolher Noppert para o onze titular contra o Senegal e tem mantido a aposta no guarda-redes. Se dúvidas havia de que a baliza dos Países Baixos estava em boas mãos, ficaram desfeitas quando Noppert começou a mostrar que a altura não compromete a agilidade, realizando defesas de elevado grau de dificuldade. No jogo aéreo, como não podia deixar de ser, também se demonstra dominador.

Diogo Dalot

A luta pela posição de lateral-direito da seleção portuguesa tem estado ao nível de um dérbi de Manchester com Diogo Dalot a representar o lado do United e João Cancelo a representar o lado do City. Dalot tem sido o escolhido para ocupar a posição nos últimos jogos. O defesa de 23 anos tem duas assistências noutros tantos encontros, registando um maior número de passes para golo em dois jogos do que em 20 partidas com a camisola do Manchester United. Dalot trouxe a Portugal a consistência que o corredor direito precisava quer ofensivamente, quer defensivamente.

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Nayef Aguerd

Uma menção que podia ser alargada a toda a linha defensiva marroquina que tem sido composta por Hakimi, Aguerd, Saiss e Mazraoui. Até aos quartos de final, Marrocos não sofreu qualquer golo marcado pelos adversário, nem mesmo no desempate de grandes penalidades contra a Espanha. A única vez que Marrocos deixou que as redes da baliza de Bono fossem violadas foi através de um autogolo anotado pelo jogador que aqui se destaca. No entanto, as prestações do defesa-central vão muito além do infortúnio.

Marrocos tem adotado posturas defensivas diversas em relação conforme os adversários que defronta. Se, por exemplo, no jogo contra o Canadá, a equipa africana passou muito tempo instalada no meio-campo ofensivo, fazendo com que, nas costas da linha defensiva, existisse muito espaço para o adversário explorar, o que exige aos homens mais recuados particular atenção ao controlo da profundidade, o mesmo não aconteceu contra a Espanha. No jogo de Marrocos frente a La Roja, a contar para os oitavos de final, os Leões do Atlas optaram por se organizarem defensivamente num bloco baixo e com as linhas juntas, em que os quatro elementos mais recuados estiveram muito tempo junto à linha da grande área. Se na primeira situação, exige-se aos defesas centrais que marquem mais o espaço e não tanto os adversários, no segundo caso pede-se maior capacidade de marcação e de capacidade de duelos individuais. Aguerd revelou-se uma mais-valia para a equipa em ambas as situações, mostrando um leque de características que o permitem classificar como um jogador completo. Além disso, o defesa do West Ham recebe sempre a bola de cabeça levantada, revelando segurança na saída da primeira fase de construção. Ser esquerdino e atuar do lado direito não o compromete.

Josko Gvardiol

Gvardiol é o jogador croata que tem atuado com uma vistosa máscara no rosto, mas não é só o acessório que tem usado que o faz destacar-se. Não é por ser uma espécie de Zorro que vários clubes, Real Madrid à cabeça, estão dispostos a pagar muito dinheiro, 90 milhões de euros, para terem os serviços deste defesa-central que também pode jogar como lateral-esquerdo. O jogador do Leipzig tem sido titular no eixo defensivo da Croácia e demonstrado as credenciais que o caracterizam como um excelente construtor de jogo. Por estar habituado a também jogar a lateral, transporta para as funções no centro do campo a velocidade que lhe permite antecipar-se aos adversários. Aos 20 anos, é uma das caras mais jovens de uma seleção croata a precisar de renovação.

Kim Jin-su

A Coreia do Sul apresentou-se no Mundial como uma equipa refinada do ponto de vista técnico e com uma atitude muito voluntariosa em campo. Foi desta forma que os sul-coreanos conseguiram ultrapassar um grupo em que eram candidatos… a ficar em último. O latera-esquerdo, Kim Jin-su, representa essa forma de estar. Apesar de não ser o jogador mais forte fisicamente, ultrapassa algumas debilidades com uma forma de estar pro-ativa perante o jogo. Até à eliminação contra o Brasil, num jogo que foi um caso isolado em relação às prestações que a equipa de Paulo Bento vinha realizando até então, o defesa mostrou ser muito competente a dar largura e profundidade ao ataque, apostando com frequência em ações de cruzamento.

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Sofyan Amrabat

Uma das razões para a chegada de Marrocos aos quartos de final do Mundial tem o nome de Amrabat. O médio defensivo tem-se dedicado a fazer o trabalho sujo que permite aos jogadores do ataque, tais como Ounahi, Ziyech ou En-Nesyri, ter ações mais arriscadas por terem as costas guardas por Amrabat. O jogador da Fiorentina tem estado em particular evidência ao nível da recuperação do esférico e da conquista de segundas bolas. No aspeto da transição defensiva, tem demonstrado um pouco mais de dificuldade muito embora a noção do que o rodeia lhe permita matar jogadas de ataque rápido dos adversários – mesmo que com recurso à falta. A acrescentar a tudo isto, Amrabat demonstra capacidade de sair a jogar em espaços curtos, algo incomum num jogador da dimensão físico deste médio. O Liverpool já está atento a uma potencial transferência.

Enzo Fernández

Tem sido um Mundial em crescendo para o médio do Benfica. Enzo Fernández começou os dois primeiros jogos da Argentina no banco de suplentes, mas Scaloni não tardou em trazer para o jogador de 21 anos para o onze titular da alviceleste. De salientar que Enzo desempenha um papel diferente do que costuma ter no Benfica. Desde logo, porque é assumidamente o médio mais defensivo da equipa, o que não lhe permite chegar à frente com tanta frequência. Depois, assume a primeira fase de construção a três entre os centrais, enquanto que nos encarnados o faz mais a partir da esquerda. De qualquer das formas, não perde a qualidade de passe vertical que o caracteriza.

Pablo Gavi

Tornou-se no jogador espanhol mais novo de sempre a participar num Mundial ao serviço de Espanha, no terceiro jogador mais jovem de sempre a marcar num Mundial com o golo contra a Costa Rica e no jogador mais novo a jogar a titular uma partida da fase a eliminar do Campeonato do Mundo desde Pelé em 1958. Tantos registos positivos quanto a qualidade que o médio tem mostrado. Aos 18 anos e a disputar a primeira grande competição com La Roja, Gavi joga como se o Mundial fosse no quintal de casa. Titular em todos os encontros, o jogador do Barcelona esteve muito bem a jogar em espaços reduzidos entre a linha média e a linha defensiva do bloco do adversários. Forma uma orquestra com Pedri onde há dois maestros. A eliminação da Espanha frente a Marrocos não se deveu ao que ofereceu à posse de bola espanhola e ao que, surpreendentemente, conseguiu fazer ao nível da reação à perda da bola.

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Ritsu Doan

A eficácia da estratégia de guerra pode depender do encobrimento que se faz às armas que se possui. O selecionador do Japão, Hajime Moriyasu, usou o extremo do Freiburg a partir do banco nos três jogos da fase de grupos. Foi nessa condição que Doan marcou dois golos que ajudaram Japão a bater a Alemanha e a Espanha. No único jogo em que jogou a titular, contra a Croácia, a seleção nipónica acabou eliminada. Acrescentou sempre bastante imprevisibilidade ao ataque com a capacidade de desequilíbrio em situações de um contra um.

Ismaila Sarr

Tem 24 anos e joga no Watford. Verticalidade, velocidade e potência são as características que o definem. A capacidade do extremo catapultar a equipa para a frente permitiu muitas vezes o Senegal defender mais atrás e sair para o ataque com perigo através de Sarr. Desta forma, as ações do atacante davam tempo a que a equipa subisse no terreno e transitasse ofensivamente, mesmo que optasse pelo ataque planeado em detrimento do ataque rápido. Fez o gosto ao pé contra o Equador, mas a preponderância ofensiva deste jogador na equipa dos Leões da Teranga.

Cody Gakpo

Com três golos, persegue Mbappé no topo da lista dos melhores marcadores do Mundial. O ponta de lança dos Países Baixos é o melhor marcador da equipa e é imprescindível para o selecionador Louis van Gaal. Por ser um jogador versátil e que pode fazer qualquer posição da frente, Gakpo até começou o Mundial a jogar nas costas do avançado, mas o selecionador entendeu que devia ser o jogador mais adiantado da Laranja Mecânica. O jogador do PSV não é o tipo de ponta de lança tradicional. A mobilidade e técnica que apresenta fazem-no uma ameaça constante à baliza dos adversários esão qualidades a que o Manchester United está atento.