O presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Miguel Miranda, rejeitou esta quinta-feira as críticas que têm sido feitas ao instituto por não ter emitido um aviso laranja ou vermelho mais cedo relativamente à situação meteorológica da noite de quarta-feira, que afetou especialmente a região da Grande Lisboa, mas admite que os modelos atualmente em uso podem não ser claros para situações de precipitação tão intensa.

“Eu diria uma frase, sem querer ofender ninguém: eu não sou muito forte a fazer previsões para o dia de ontem, nem para o dia de anteontem. Essa não é mesmo a nossa especialidade. Nós gastamos a nossa energia a prever da melhor maneira que podemos os dias que vêm”, disse Miguel Miranda em declarações à Rádio Observador.

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“Quando acabar este episódio, vamos estudá-lo como fazemos a todos. E publicaremos um relatório na página. Existiram situações que vão ter de chamar a nossa atenção: o facto de, nos modelos, não serem claros estes picos de precipitação, o facto de termos tido dezenas de milímetros de chuva em períodos muito curtos, inferiores a uma hora, para podermos tentar compreender se são situações que são habituais e apenas não foram previstos porque não foram; ou se estamos a falar de uma situação que tem alguma coisa de novo”, afirmou o presidente do IPMA.

As declarações de Miguel Miranda surgem depois de o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, ter empurrado para o IPMA a responsabilidade sobre a eventual ação tardia na declaração do alerta. “Só o IPMA é que poderá responder tecnicamente a essa pergunta”, respondeu o ministro a uma questão sobre se o alerta foi dado demasiado tarde.

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Também a diretora da Proteção Civil de Lisboa, Margarida Castro Martins, disse esta quinta-feira que o alerta do IPMA só surgiu quando “o fenómeno estava mais que implementado”. “Foi um aviso amarelo, no dia 7 o aviso passou a laranja, e ontem só por volta das 23h00 é que o aviso passou a vermelho”, disse a responsável.

Miguel Miranda reiterou também as recomendações que devem ser seguidas pelos cidadãos na situação atual.

“Diria que são as mesmas de ontem: não circulação, cuidado com a circulação automóvel, evitar as deslocações que não são absolutamente necessárias; todas as casas em níveis reduzidos e carros que tenham tendência a inundação, especial atenção. Pessoas com mobilidade reduzida e que vivam nessas condições têm, na medida do possível, que se afastar delas”, afirmou.

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“De resto, diria que já temos uma sucessão em que as autoridades municipais em particular estão muito mais alerta, portanto creio que conseguirão desencadear mais cedo medidas preventivas. Eu ouvi o senhor presidente da Liga falar de coisas simples como interditar rapidamente a circulação em túneis ou em situações similares. Portanto eu diria que sim, que me parecem medidas de bom senso e que se podem fazer com custos reduzidos”, terminou Miguel Miranda.

IPMA não exclui elevar alerta para vermelho

O presidente do IPMA disse ainda que não pode excluir a evolução para aviso meteorológico vermelho e garantiu que o instituto está a acompanhar a evolução da meteorologia em Portugal continental, especialmente na cidade de Lisboa.

“Nós estamos a prever que a partir da meia-noite a situação vai agravar novamente e entramos novamente em alerta laranja”, disse Miguel Miranda.

O IPMA publicou entretanto os avisos meteorológicos, no qual é possível perceber que os distritos de Lisboa, Leiria, Santarém, Setúbal e Faro vão estar em alerta laranja entre a meia-noite e as 9h de sexta-feira.

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“Já vimos pelos últimos tempos — digo mesmo com algum à vontade: pelos últimos anos — que algumas regiões urbanas, em particular a de Lisboa, uma sucessão que é estatisticamente laranja é uma situação que vai causar situações que podem ser gravosas”, afirmou Miguel Miranda ao Observador.

“Tenho de admitir que o que aconteceu na noite que passou levou a que se tivessem limpo já muitas situações e que as autoridades estejam já preparadas para, por exemplo, interromper a circulação nos túneis ou nas zonas de maior sensibilidade”, disse ainda.

Sobre se a situação da última noite se pode repetir, Miguel Miranda diz que não é possível fazer uma previsão exata.

“Se irão formar-se outra vez picos de precipitação como foram observados na noite anterior, nós não temos capacidade de prever. Iremos acompanhá-los, essencialmente com a rede de descargas elétricas e com a rede de radares. E se, nessa rede, nós virmos de forma inequívoca que esses acontecimentos vão ter lugar, avisaremos o mais depressa que pudermos. Pode não ser suficientemente cedo, mas será aquilo que a ciência nos permite fazer”, disse o presidente do IPMA.

Miguel Miranda sublinhou que é possível que o alerta suba para vermelho. “Não posso excluir” a possibilidade, disse. “Como sabe, temos a rede de descargas elétricas e, se se aproximarem linhas de precipitação com o mesmo tipo de violência da noite passada, iremos fazê-lo.”