Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

Era o primeiro Mundial de Fernando Santos por Portugal e logo entrando na condição de campeão europeu em título pela vitória alcançada em França em 2016, foi o primeiro hat-trick de Cristiano Ronaldo também em Mundiais numa exibição épica frente à Espanha em Sochi, foi a primeira vez que Portugal, entrando num Mundial realizado na Europa, não chegou às meias-finais como acontecera em 1966 (Inglaterra) e em 2006 (Alemanha). O histórico de encontros entre a Seleção e Marrocos resume-se apenas a dois encontros, entre a derrota no Mundial de 1986 (3-1) e a vitória no Mundial de 2018 (1-0). Aí, João Félix era ainda júnior.

São muitos os jogadores que repetem a presença nesta fase final do Qatar em relação ao conjunto que bateu a formação africana pela margem mínima num jogo que começou praticamente com um golo de Ronaldo mas teve depois um conjunto nacional que nunca conseguiu convencer e sentiu grandes dificuldades em manter o resultado que daria acesso aos oitavos diante do Uruguai. Patrício, Pepe, Guerreiro, William, João Mário, Bernardo e Ronaldo foram titulares, Rúben Dias, Bruno Fernandes e André Silva começaram no banco. Antes e depois desse encontroJoão Félix estava a ser protagonista mas em Portugal. Primeiro, em maio, desceu da equipa B aos juniores para terminar a época com 16 golos em 16 jogos e sagrar-se campeão; depois, em julho, foi dispensado do Europeu Sub-19 para integrar a pré-época com os encarnados.

Os responsáveis encarnados não tinham dúvidas de que estava ali uma pérola para o futuro, talvez uma das maiores desde que o Benfica Campus tinha sido inaugurado no Seixal. Ainda nessa temporada de 2018/19, foi entrando amiúde no início da temporada e tornou-se depois indiscutível com Bruno Lage, festejando no primeiro ano pelo conjunto A o título e protagonizando a maior transferência de sempre de um jogador português, de um jogador do Benfica e de um jogador da Primeira Liga quando foi para o Atl. Madrid por 126 milhões de euros. Depois, com o tempo, foi perdendo o sorriso que recuperou agora num grande momento da temporada que poderá coincidir com a saída dos colchoneros e já é comparado a Kaká.

“Nota-se que estou no Mundial, o primeiro, todos querem jogar e ganhar e estou a desfrutar ao máximo. É um sonho representar Portugal daí a alegria toda. Kaká? Comparação é um bocadinho demais, ele é Bola de Ouro, ganhou tudo o que havia para ganhar mas claro que é bom ouvir esses elogios”, comentou antes do encontro com Marrocos que pode valer a terceira passagem de sempre às meias-finais do Mundial. “Por acaso não me lembro onde estava nesse Mundial de 2018 mas mesmo agora há vários jogadores que são exemplos para nós, que ganharam centenas de títulos… Ou melhor, dezenas, centenas é muito… E são todos exemplos. Não querendo particularizar nenhum, acabam por ser exemplos para nós”, acrescentou.

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“Saída do Atl. Madrid? Zero. Estou focado na Seleção, concentrado em fazer uma grande Mundial, dar uma alegria aos portugueses. Isso do Atlético é para quando acabar, estou focado. Se me sinto mais feliz aqui? Já respondi a isso 1.000 vezes… [risos] São maneira de jogar diferentes, estilos diferentes, já jogo com o Dalot desde os nove anos, jogamos juntos há muito tempo, falamos a mesma língua, o ambiente é outro…”, voltou a dizer, numa espécie de prolongamento das ideias que tinha deixado na zona mista após a Suíça.

Em paralelo, o avançado que fez perto do início do Mundial 23 anos falou também das diferenças de jogar ou não com Ronaldo na equipa, comentou as declarações de José Fonte sobre o capitão e abordou a partida com Marrocos. “Não sinto essa obrigação de ter de passar a bola ao Cristiano, procuramos fazer o melhor em campo. Cada um tem a sua opinião, da minha parte não sinto essa necessidade. O [José] Fonte se disse isso terá as suas razões, respeito. O Cristiano se estiver em campo dá outras coisas, quando não está há outras coisas. Não é por isso que a equipa joga melhor ou pior. Ameaça de saída? Não vou responder sobre isso, já foi falado. Quero apenas deixar uma mensagem, não chegávamos aos quartos há muito tempo e devíamos estar mais unidos, não estarmos a tentar estragar o ambiente…”, referiu o avançado.

“Quando perdemos não está tudo mal nem quando ganhamos está tudo bem. Estamos cientes do que fizemos e do que temos de fazer. Foi uma grande vitória frente à Suíça mas temos de estar com os pés bem assentes de terra. Todas as seleções têm maneiras diferentes de jogar. Analisámos pontos positivos e negativos. Sabemos o que temos de fazer para evitar o que têm de bom e vamos estar preparados para ganhar. A nossa identidade e base está sempre lá, o nosso futebol também e é só ajustar dependendo como os outros jogam”, concluiu o jogador que no último encontro fez duas assistências para Gonçalo Ramos.