A deputada do PS e ex-ministra da Administração Pública e da Modernização Administrativa, Alexandra Leitão, e a antiga candidata presidencial Ana Gomes juntam-se à lista de figuras do PS que criticam o tom de António Costa na entrevista à revista Visão. Alexandra Leitão revela “desconforto” com as expressões utilizadas pelo primeiro-ministro, enquanto Ana Gomes fala num chefe de Governo “que se acha grande demais para o país”.

“Não quero uma maioria absoluta em declínio”. Deputada socialista Alexandra Leitão esperava mais “abertura e diálogo” de Costa

No programa da CNN Portugal, Principio da Incerteza, Alexandra Leitão pegou nas palavras de António Lobo Xavier, que se referiu ao tom de António Costa como “próprio de uma maioria absoluta em declínio” e a deputada do PS disse ter tido “um deja vu relativamente a outras maiorias absolutas, até com repetição de algumas das palavras utilizadas noutras maiorias”, tendo em conta que “esperava outra abertura e outro diálogo, com a sociedade, com a concertação social, os parceiros e também com o Parlamento”. Crítica semelhante à que foi feita na sexta-feira pelo ex-ministro da Economia e número 2 do anterior Governo, Pedro Siza Vieira, aos microfones da TSF.

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No final desta semana, depois de ter sido conhecida na integra a entrevista de António Costa começaram a surgir algumas críticas à postura do primeiro-ministro, com Pedro Siza Vieira a ser um dos mais vocais. Foi à boleia da opinião do também ex-ministro que Ana Gomes disse que “sobretudo quem seja socialista ficou desconfortável” com a entrevista dada por António Costa, acrescentando que “dá a sensação de que o primeiro-ministro já se acha grande demais para este país”, numa referência às ambições europeias de António Costa, que segundo Marques Mendes terão acabado.

António Costa está “irritado” e “frustrado”. Marques Mendes diz que a razão é “sonho europeu que ficou pelo caminho”

A antiga candidata presidencial considera que “a expressão ‘habituem-se’ já não é só para a bolha politico-mediática mas é para todos”.

“Marquês de Pimbal, porque reformas zero”

Também a fotografia que faz capa da revista, com António Costa sentado de lado e de perna cruzada, motivou críticas. Ana Gomes diz que “a postura de António Costa não é de Marquês de Pombal mas de Marquês de Pimbal porque não há reformas. Não temos reformas neste país”. Ana Gomes diz estar “preocupada com a arrogância, sobranceria e cansaço” de António Costa, que tem revelado “muita irritação”.

A gravidade atribuída por António Costa ao caso com Pedro Nuno Santos, o único que considerou verdadeiramente um caso, também mereceu críticas de ambas. Alexandra Leitão interpreta as declarações como “um ajuste de contas interno” e Ana Gomes diz que “são declarações para escamotear a responsabilidade nesse caso ou no da escolha de Miguel Alves para adjunto”.

Nos espaços de opinião este domingo, Alexandra Leitão e Ana Gomes até concordam numa matéria: de que o apoio extraordinário de 240 euros, anunciado nessa entrevista, “está melhor desenhado do que o apoio de setembro” porque, diz Alexandra Leitão, que “as prestações sociais devem ser desenhadas para quem mais precisa”, ao invés de serem atribuídas de forma genérica, numa referência à transferência de 125 euros feita pelo Governo.

A deputada do PS, que nesta legislatura deixou o Governo e recusou ser líder parlamentar, falou ainda sobre a relação com o Chega, para defender que “teria sido mais clara” ao dizer que estava disponível para viabilizar um Governo do PSD para evitar que essa luz verde fosse dada pelos deputados do Chega. Alexandra Leitão diz que “com condições, com vigilância” teria dito que sim a um Governo minoritário do PSD, porque “a existir uma alternância, quero que seja entre dois partidos democráticos”.