Os quatro jovens ativistas pelo clima que estiveram envolvidos numa ocupação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa no início de novembro, e que foram recentemente condenados a uma multa de 295 euros pelo crime de desobediência, receberam a pena depois de terem recusado cumprir uma ordem da polícia para dispersarem o seu protesto, colando-se ao chão com supercola e unindo as mãos com tubos de plástico, de acordo com um comunicado publicado esta segunda-feira pela Procuradoria-Geral Regional de Lisboa.

Jovens ativistas pelo clima condenados a multa de 295 euros por desobediência

“Os factos remontam à noite 11 para 12 de novembro de 2022 e tiveram lugar no interior da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), onde um grupo de estudantes, do qual faziam parte os arguidos, permanecia, desde 7 de novembro, numa manifestação de defesa de causas ambientais”, lê-se nesse comunicado.

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“Tal permanência havia sido autorizada com as condições de não perturbarem a livre circulação de pessoas no local, de não impedirem a frequência de atividades letivas e de não perturbarem o normal funcionamento dos serviços, o que não terá sido respeitado. Assim, após queixas de outros estudantes, docentes e funcionários de que o grupo estava a interferir nas atividades normais daquela Faculdade, foi solicitado aos arguidos que abandonassem o local”, diz ainda aquela procuradoria.

Nesse momento, explica o comunicado, a PSP foi chamada ao local para colocar fim ao protesto. “Chamada a PSP ao local foram encetadas conversações com os estudantes mas os arguidos não só se recusaram a sair como três deles decidiram ligar-se entre si, através de tubos de PVC, e colocaram supercola nas mãos que ficaram livres, colando-as ao chão”, explica a procuradoria.

“Advertidos de que estavam a incorrer na prática de um crime de desobediência a ordem de dispersão de reunião pública, estes persistiram na sua conduta e acabaram por ter que ser retirados para o exterior por agentes do Corpo de Intervenção da Polícia de Segurança Pública”, termina o comunicado.

No início de novembro, um grupo de jovens portugueses anunciou a realização de um conjunto de protestos em defesa do clima em várias escolas e faculdades da cidade de Lisboa. A escola secundária António Arroio e o liceu Camões chegaram a estar encerrados devido à ocupação: centenas de estudantes barricaram-se dentro dos estabelecimentos de ensino exigindo o “fim aos combustíveis até 2030” e a “demissão imediata do ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva” — devido ao facto de o ministro ter tido um percurso académico e profissional ligado à indústria petrolífera.

A iniciativa afetou também o funcionamento de algumas instituições de ensino superior, incluindo as faculdades de Letras e de Ciências da Universidade de Lisboa.

Costa Silva depois da reunião com ativistas climáticos: “Estava à espera que houvesse propostas”

O grupo de estudantes deu por terminada a vaga de protestos uma semana depois, afirmando que foi “um sucesso”. Ao longo das últimas semanas, os jovens têm repetido as manifestações junto ao Campus de Justiça, onde decorreu o julgamento.

Na véspera da leitura da sentença, na última quinta-feira, cerca de 40 jovens associados ao movimento acamparam no interior da Faculdade de Letras como demonstração de solidariedade. Num comunicado enviado aos jornalistas, o jovem António Assunção, porta-voz do grupo, acusou o diretor da faculdade, Miguel Tamen, de recusar falar com os estudantes.

Clima: ativistas detidas terça-feira vão cumprir trabalho comunitário

Durante a semana dos protestos e ocupações, o ministro António Costa Silva, o único diretamente visado pelo grupo de manifestantes, aceitou receber no Ministério da Economia um grupo de estudantes para ouvir as suas reivindicações. No final, contudo, a reunião acabou por se traduzir apenas na repetição da exigência da demissão do ministro. “Estava à espera que houvesse propostas”, disse, no final dessa reunião, o governante.

No final da reunião, as cinco jovens que falaram com o ministro recusaram sair do Ministério da Economia sem que o governante se demitisse e colaram-se ao chão do edifício. Acabaram por ser detidas pela polícia e vão cumprir trabalho comunitário depois de terem aceitado a suspensão provisória do processo.