Já reparou que quando o tema é infertilidade quase toda a gente parece ter algo a dizer? Infelizmente, o que nem sempre é tido em conta é a enorme pressão que essas intromissões acabam por ter na vida de quem tenta gerar um filho sem sucesso. Ou seja, além de terem de lidar com a dificuldade em engravidar, os casais têm ainda de enfrentar todo o tipo de opiniões e sugestões oriundas do exterior, na maior parte das vezes partilhadas com boas intenções.
A verdade é que nem sempre os familiares e amigos que rodeiam o casal infértil sabem como abordar o assunto, nem as pessoas afetadas sabem como lhes responder. Como resultado, a tensão em torno do assunto é grande, aumentando também a pressão e os sentimentos de angústia, tristeza e frustração por parte de quem sonha ter um filho.
Felizmente, existem algumas estratégias para melhor gerir a comunicação sobre esta doença, e é isso mesmo que partilhamos neste artigo mais à frente, com a ajuda da psicóloga Filipa Santos, especialista na Clínica IVI Lisboa. Para já, importa perceber como é que a infertilidade acaba por afetar também a saúde mental de quem dela sofre, tornando ainda mais difícil lidar com este problema que atinge milhões de pessoas em todo o mundo.
Gerar vida – um sonho comum
Ter filhos é um dos desejos mais comuns à maior parte das pessoas, por isso, não é de estranhar que, quando tal não é possível, seja grande o impacto nas vidas de quem atravessa a situação assim como também junto das respetivas famílias e comunidades. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a infertilidade como uma doença do aparelho reprodutor masculino ou feminino, diagnosticada quando ao fim de pelo menos um ano de vida sexual regular e sem contraceção a gravidez não acontece.
A infertilidade afeta indistintamente pessoas de todo o mundo em idade reprodutiva, com a OMS a estimar que cerca de 48 milhões de casais e 186 milhões de pessoas no mundo sofram do problema. Já em Portugal, os resultados de um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto revelam que entre 9 a 10% dos casais serão inférteis.
Impacto na saúde mental
Não é raro que os casais inférteis desenvolvam algum tipo de problema de saúde mental. Diversos estudos levados a cabo indicam que a prevalência destes distúrbios possa variar entre 30 a 80%, dependendo de muitos fatores, nomeadamente, da duração da infertilidade e do número de tentativas de tratamentos realizados.
Depressão, ansiedade, stress nas relações interpessoais, sentimentos de diferença face à norma, estigma e solidão, são algumas das consequências que a infertilidade pode ter nos casais que vivem este problema. Em sociedades mais conservadoras, onde a mulher é ainda vista como a principal responsável por gerar vida, é sobretudo nela que os distúrbios psicológicos tendem a manifestar-se mais frequentemente, como também está demonstrado em diversas investigações.
Quando os casais procuram ajuda devido à dificuldade em engravidar, é frequente que se apresentem já muito debilitados do ponto de vista psicológico, não só pelas várias tentativas fracassadas, mas também pelas inúmeras dúvidas que alimentam e ainda pela pressão crescente que sentem para gerar um filho rapidamente.
O que dizer nesta situação?
Tendo em conta a enorme sensibilidade da questão e o facto de o casal se encontrar bastante vulnerável a tudo o que possa ser dito sobre a sua infertilidade, a psicóloga Filipa Santos dá alguns conselhos.
Se perguntam: “Então e vocês, estão juntos há tanto tempo, quando é que pensam em ter filhos?”
Responder: “Nem sempre é tão fácil como algumas pessoas imaginam”; “nós também achávamos que seria fácil, mas não está a ser”.
Se o casal não aparece em encontros sociais com amigos e familiares.
Perguntar: “Como é que vocês estão?”; “Não vos temos visto, sentimos a vossa falta, vocês estão bem?”
Se as outras pessoas sabem que o casal está a fazer tratamentos para a infertilidade.
Em vez de “a minha amiga X engravidou no centro Y, foi ótimo, devias ouvir uma segunda opinião”, optar por dizer: “Tenho uma amiga que passou por tratamentos para engravidar, sei que pode ser desafiante, como é que está a ser convosco?”
Se os tratamentos não resultam.
Em vez de “tu devias parar de fazer esses tratamentos, porque isso só te está a fazer mal”, optar por dizer: “Parece mesmo difícil aquilo por que estás a passar, posso ajudar?”
Em vez de “se não engravidaste é porque não tinha de ser, há outras coisas na vida”, perguntar: “Como é que te sentes por ainda não ter funcionado?”
Se é um facto, como dizíamos no início deste artigo, que toda a gente tem sempre algo a dizer sobre conceção e fertilidade, também se sabe que há muitas ideias completamente erradas associadas ao assunto, o que ainda dificulta mais a abordagem correta de um tema tão delicado como este. Assim, convidamo-lo a fazer o nosso quiz para testar os seus conhecimentos.